Com incertezas em relação a fundamentos macroeconômicos e volatilidade dos mercados, mais de R$ 14 bilhões saíram dos fundos multimercados recentemente
São Paulo - As incertezas no mercado quanto ao cenário externo e doméstico estão levando os investidores a fugirem do risco e buscarem investimentos mais seguros. Esse movimento é fortemente marcado na indústria de fundos, onde os recursos estão saindo das aplicações consideradas mais arriscadas, como os multimercados. Em 30 dias, até 24 de setembro, os saques na indústria de fundos superaram os depósitos em R$ 13,868 bilhões, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). As saídas foram puxadas, principalmente, pelos saques nos fundos multimercados, que totalizaram R$ 14,482 bilhões no período, com destaque para as categorias de juros e moedas, com saídas de R$ 12,614 bilhões, e multiestratégias - saques de R$ 1,610 bilhão.
Grande parte dos recursos, segundo analistas, foi realocada dentro da própria indústria, basicamente os referenciados DIs, que estão com captação positiva em R$ 6,353 bilhões no período.
Rodrigo Borges, gestor de fundos multimercados do HSBC, avalia que no final do ano passado, com a queda do juro básico da economia, houve uma busca, por parte do investidor, de aplicações que dessem maior retorno, como renda fixa e multimercados. Este ano, com o Banco Central voltando a subir os juros e as dúvidas sobre questões macroeconômicas do país e internacionais, está acontecendo o movimento inverso.
"Em 2012, os investidores aumentaram o risco do portfólio, saindo do DI e entrando em fundos atrelados a índices e multimercados. Todo mundo estava procurando rentabilidade. Agora, estão voltando para o lugar que é mais seguro, como DIs e até a caderneta de poupança", disse. Os fundos DIs têm como referência o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que segue a taxa Selic. Quanto maior ela for, melhor a rentabilidade destes fundos.
A taxa básica de juros, a Selic, começou 2012 em 10,50% ao ano e acabou em 7,25%. Hoje, está em 9% ao ano. "Quando a Selic estava em 7%, o juro no DI era quase zero. Agora, com a taxa básica a 9%, 10%, essa aplicação já compensa mais para o investidor", afirma Borges.
Patricia Stille, da XP Investimentos, acrescenta que o investidor de varejo ainda não está preparado e não tem paciência para esperar melhoras no mercado. "Eles estão acostumados com determinado patamar de retorno e quando começam a ver o fundo abaixo da expectativa voltam para o DI."
Arnaldo Curvello, diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, ressalta que há muita volatilidade no mercado e isso está afastando o investidor das aplicações de maior risco. "Os fundamentos da economia, do ponto de vista macro, pioraram", diz. Ele cita como exemplo a frustração em torno do leilão de concessões de rodovias, que não teve interessados para um dos trechos e levou o governo federal a mudar a tática. Depois do fracasso no leilão da BR-262, entre Minas Gerais e Espírito Santo, o governo decidiu mudar as regras dos próximos leilões. Apesar da ação rápida do governo, os investidores, principalmente estrangeiros, não veem com bons olhos a questão, segundo analistas. Os investimentos em infraestrutura são considerados importantes para darem sustentação ao crescimento da economia brasileira.
"Os fundos multimercados têm performance melhor em cenários positivos do que em momentos em que o cenário está incerto", explica Curvello. Segundo ele, outro fator, mais psicológico, também acabou provocando saques nestes fundos. "O investidor que está com aplicação em multimercados e vê sua rentabilidade caindo enquanto a Bolsa está subindo, como aconteceu recentemente, acaba sacando o dinheiro ou realocando-o para o CDI (certificado de depósito interfinanceiro). Isso acaba gerando uma correção técnica."
Quantos os fundos multimercados de juros e moedas, Curvello considera que com a injeção de liquidez no mercado, com os leilões diários do Banco Central de venda do dólar, quem estava posicionado nestes fundos está saindo. O Banco Central anunciou na semana passada que fará leilões de venda de dólares diariamente até o fim do ano. O objetivo é segurar a alta da moeda norte-americana. A autoridade monetária poderá injetar até US$ 60 bilhões no mercado neste período. Trata-se da maior intervenção desse tipo desde o auge da crise internacional, em 2008.
Depois de quatro meses de alta em relação ao real, o dólar caiu 2% em setembro - maior recuo mensal em dois anos, ficando entre os piores investimentos do mês. O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), que subiu 4,6% em setembro, liderou o ranking de investimentos do mês.
Fonte: Brasil Econômico
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