Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Uma corrida científica para salvar o chocolate

Fredy Pinchi Pinchi caminha pela mata amazônica aqui numa missão: salvar o chocolate.
O agrônomo de 31 anos está em busca de um cacaueiro mais resistente e produtivo. Seu progresso — e o de pesquisadores como ele em outras regiões produtoras de cacau — está sendo observado de perto pelos grandes fabricantes mundiais de doces, como a americana Mars Inc., que faz o M&M. O motivo dessa busca são temores de que o cacau produzido hoje vem de pés por demais velhos, frágeis e pouco produtivos para satisfazer o crescente apetite mundial por chocolate.
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Bloomberg News
Devido à crescente demanda em mercados emergentes, empresas de alimentos e negociadores de commodities estão prevendo que o consumo mundial de cacau vá crescer 25%, para cerca de 5 milhões de toneladas, até 2020. Pessoas do setor dizem que cacaueiros novos e melhores são vitais para o suprimento futuro — e para que o chocolate continue sendo um luxo acessível.
"Estou procurando uma planta de elite. Essa é a meta", disse Pinchi. "Há muita gente que depende do cacau."
Mas o tempo está correndo. O processo de enxertar diferentes tipos de cacaueiros para obter a mistura genética certa leva anos, e está longe de ser certeiro. Uma vez plantado, o pé de cacau leva pelo menos quatro anos para começar a dar frutos bons para processamento.
"Para a saúde de longo prazo da indústria de cacau, variedades de alto rendimento precisam ser identificadas, propagadas e distribuídas", disse Kip Walk, diretor de cacau da Blommer Chocolate Co., que fornece chocolate para muitas grandes fabricantes de alimentos.
Enquanto isso, as plantas atuais continuam lutando contra as forças da natureza. Na África Ocidental, região que mais produz cacau no mundo, golpes de vento quente este ano secaram pés de cacau. A perspectiva de uma safra prejudicada provocou alta de 15% nos preços do cacau em relação ao preço mais baixo em três anos atingido em dezembro. Os futuros de cacau fecharam ontem a US$ 2.223 a tonelada, em queda de 3,1% no dia.
Dado o estado frágil dos cacaueiros e a forte demanda, é só uma questão de tempo até que haja falta de cacau e os preços disparem, disse Julian Rundle, diretor de investimento da Dorset Management, uma firma americana de investimento alternativo.
A demanda de cacau deve superar a oferta este ano em 71.000 toneladas, segundo estimativas da Organização Internacional do Cacau, sediada em Londres.
Só uma fração das milhares de variedades de pés de cacau existentes são cultivadas para produzir chocolate, porque plantar cacau sempre foi um negócio de baixas margens que não atrai investimentos. Essa prática de plantar cacaueiros geneticamente similares deixa populações inteiras vulneráveis quando atingidas por alguma doença contra a qual não têm resistência.
Em plena floresta, Pinchi está a postos para mudar isso. Ele passa por fileiras enlameadas de mudas, acariciando brotos de cor lima-limão, checando seu peso e tamanho. Ele e sua equipe do Instituto de Culturas Tropicais, um centro de pesquisa no norte do Peru, coletaram centenas de variedades de cacau da floresta tropical sul-americana e estão testando sua capacidade de produzir mais frutas, e maiores. Pesquisadores na Costa do Marfim e em Gana fazem estudos semelhantes.
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O nome científico do cacaueiro é Theobroma cacao, algo como "comida dos deuses", em grego. Conforme o chocolate passou de um regalo para ocasiões especiais para um prazer diário, grandes áreas de mata foram cortadas nos anos 70 e 80 para dar espaço a cacauais, que agora cobrem cerca de 7,4 milhões de hectares. Mas a indústria sofreu um golpe quando um fungo conhecido como vassoura-de-bruxa dizimou mais de metade da produção de cacau do Brasil entre 1990 e 2010.
Executivos do setor esperam evitar outra crise de cacau, razão pela qual estão pondo suas esperanças em pesquisadores como Pinchi. Expandir a área plantada não é uma opção, devido à ampla oposição contra mais devastação de florestas tropicais — o único terreno bom para o cacau.
"Até 2020, precisamos de outra Côte d'Ivoire", disse Howard-Yana Shapiro, diretor de ciência de plantas e pesquisa externa da Mars, referindo-se à Costa do Marfim. Shapiro liderou uma equipe a que se atribui o mapeamento do genoma do cacaueiro em 2010. Ele mantém registros do trabalho conduzido pela equipe de Pinchi e outros pesquisadores.
"Há duas alternativas. Uma, cortamos todas as árvores dos trópicos e só plantamos cacau, o que seria um grande desastre. Ou aumentamos" o rendimento das plantas, disse Shapiro.
É certo que nem todo mundo está tão pessimista.
Kona Haque, estrategista de commodities do Macquarie Bank, admite que os preços do cacau tendem a subir, mas acha que previsões de que eles vão dobrar no longo prazo são exageradas. "A demanda vai continuar crescendo, mas, com o preço certo, o suprimento também", disse ela. "Eu acredito que o preço do cacau vai subir 50% em 10 anos."
Pinchi, porém, acredita que ele e seus colegas vão chegar ao cacaueiro certo antes que os preços amarguem o chocolate do mundo.
"A Amazônia é a origem do cacau", disse ele. "Há muita diversidade, o que nos dá muitas opções."

Fonte: The Wall Street Journal

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