Por TOM MURPHY e LUCIANA MAGALHÃES, de São Paulo
O Banco Central do Brasil praticamente abandonou a meta de reduzir a inflação para 4,5% neste ano ou no ano que vem, com a probabilidade de pressões inflacionárias ocasionarem uma rodada de aumentos na taxa de juros em 2013, segundo Gustavo Loyola, o ex-presidente do BC."Nós olhamos a inflação por todos os ângulos — demanda, serviços e todos os outros — e eu não vejo como o Brasil vai reduzir a inflação para 4,5% em 2012 ou mesmo em 2013", disse Loyola numa entrevista à agência Dow Jones. "Os diretores do BC podem ter um objetivo em mente, mas parece estar cada vez mais claro que eles não estão mais buscando os 4,5%."
De acordo com seu programa de metas de inflação, o Brasil está comprometido com um patamar de 4,5% em 2012 e no ano que vem. O programa tem um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais, permitindo que a inflação chegue a 6,5%.
Na verdade, o Brasil terminou 2011 com uma inflação de exatamente 6,5%. No momento, a inflação anual está em 5,85%.
"Nossas pesquisas sugerem que a inflação vai terminar 2012 em aproximadamente 5,5%", disse Loyola, que agora é sócio da consultoria paulista Tendências. "Mas as pressões inflacionárias permanecerão fortes em 2013." Ele afirmou que a taxa anualizado pode passar dos 6,0% no início de 2013, provocando ações governamentais para manter a inflação abaixo do teto da meta.
Uma razão para novas pressões inflacionárias no ano que vem são as reduções da taxa de juros por parte do BC. A taxa básica de juros, a Selic, está hoje a 9,75%, havendo atingido um pico de 12,5% em 2011. É amplamente esperado que o BC corte a Selic para 9,0% nos próximos dois meses.
Taxas mais baixas encorajarão mais gastos por parte dos consumidores, estimulando rápido crescimento econômico no quarto trimestre de 2012, mas também reacendendo pressões inflacionárias causadas pela demanda, disse Loyola.
"Eu acredito que o Banco Central tentará evitar escaladas da taxa de juros no começo", disse Loyola. "Eles tentarão as chamadas medidas "macroprudenciais", como limites nos empréstimos ao consumidor, mas elevações da taxa de juros se tornarão necessárias em algum momento em 2013."
Loyola disse que a Selic poderá atingir 10,5% ou 11,0% até o final do ano que vem.
Contínuas taxas de juros altas podem oferecer algum apoio de curto prazo ao real brasileiro contra o dólar americano. No entanto, Loyola disse que a tendência de longo prazo favorece a estabilidade ou até mesmo a desvalorização da moeda brasileira.
"À medida que a recuperação econômica dos Estados Unidos se firma, o dólar irá se beneficiar", disse Loyola. "Ele poderá ganhar força em relação a diversas moedas, incluindo o real." Loyola criticou as recentes medidas do governo brasileiro, criadas para diminuir entradas de curto prazo do dólar. "Quando você fecha porta atrás de porta, mais cedo ou mais tarde você fechará a porta que dá entrada a investimentos produtivos", disse ele.
O governo brasileiro limitou as entradas de dólar nos últimos meses com impostos sobre investimentos estrangeiros de curto prazo, empréstimos e posições a descoberto no mercado futuro de câmbio.
O governo disse que a intenção dessas medidas é prevenir valorizações indesejadas do real brasileiro contra o dólar. O real forte prejudica exportadores e fabricantes brasileiros, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, justificou impostos mais altos sobre a entrada de dólares dizendo que eles são necessários devido à "guerra cambial" mundial, na qual políticas de dinheiro fácil em alguns países debilitam concorrentes por meio de moedas artificialmente enfraquecidas.
Mas Loyola disse: "Não tem nenhuma guerra cambial em andamento. É sempre mais fácil pôr a culpa nos estrangeiros. Mas o real está se fortalecendo por causa do nível de liquidez mais alto que o comum, nos mercados financeiros internacionais". Ele acrescentou: "Quando a liquidez diminuir, o real vai se estabilizar ou desvalorizar".
Fonte: The Wall Street Journal
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