O presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, disse que a política de baixas taxas de juros que tem sido usada pelo banco central americano é necessária para enfrentar problemas profundos e contínuos de desemprego. Ele alertou que as condições do mercado de trabalho continuam "longe do nível considerado normal" e ainda há incerteza se o ritmo relativamente rápido de recuperação do último ano é sustentável.
"Novas melhorias significativas no desemprego provavelmente exigirão uma expansão mais rápida da produção e da demanda de consumidores e empresas, um processo que só pode ser apoiado pela continuidade de políticas acomodativas", disse Bernanke num discurso na conferência anual da Associação Nacional de Economia Empresarial dos Estados Unidos.
O discurso deve amainar as expectativas recentes de investidores de que o Fed deve começar a aumentar os juros antes do prazo final que já tinha indicado, em 2014.
A economia criou em média 245.000 empregos nos últimos três meses, embora o ritmo tenha desacelerado um pouco em fevereiro, para 227.000, e o desemprego continue alto, em 8,3%. Mesmo assim, o número de pessoas pedindo seguro-desemprego caiu para o menor nível em quatro anos na semana passada, aumentando as expectativas de que a criação de vagas em março mais uma vez ficará acima de 200.000.
Embora note essas melhorias, Bernanke enfatizou que o mercado de trabalho ainda está longe da recuperação total, com o número de pessoas empregadas e o total de horas ainda significativamente menores que antes da crise.
"Ainda não podemos ter certeza de que o ritmo recente de melhoria do mercado de trabalho é sustentável", disse ele.
O tom cauteloso ecoa comentários de Bernanke na semana passada, quando alertou contra a repetição dos erros da Grande Depressão, nos anos 30, com a elevação rápida demais dos juros. Ele reiterou que o ritmo lento da recuperação tem sido frustrante.
O comitê de política monetária do Fed ofereceu no início do mês uma avaliação um pouco mais otimista sobre a recuperação da economia e o mercado de trabalho, embora tenha previsto que o desemprego vai diminuir "apenas gradualmente".
As previsões mais recentes das autoridades do BC americano, em janeiro, antecipavam que o desemprego terminaria o ano praticamente na mesma, entre 8,2% e 8,5%.
Bernanke admitiu que o ritmo da recuperação do mercado de trabalho, apesar do crescimento econômico decepcionante, tem sido "meio que uma charada".
Numa referência à teoria criada há cinquenta anos pelo economista Arthur Okun sobre o relacionamento entre crescimento econômico e emprego, ele disse que o índice de crescimento de 1,7% da economia no ano passado sugere que o desemprego deve diminuir pouco — ou até aumentar ligeiramente.
Para explicar isso, Bernanke disse que os dados sugerem "que talvez estejamos vendo o efeito do excesso de demissões durante o pior momento da recessão, já que as empresas estão suficientemente confiantes agora para manter o número de empregados mais alinhado com as expectativas de demanda por seus produtos".
Mas como o mercado de trabalho continua tentando "alcançar" a economia, a redução do desemprego exigirá "uma expansão mais rápida da produção e da demanda de consumidores e empresas, processo que só pode ser apoiado pela continuidade das políticas acomodativas".
Bernanke disse que a sua leitura dos atuais dados econômicos sugere que a alta taxa de desemprego no longo prazo foi provavelmente alimentada por problemas estruturais cíclicos.
Fonte: The Wall Street Journal
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