Por JOHN LYONS de São Paulo e BOB DAVIS de Pequim
Os recentes sinais de fraqueza econômica no Brasil aumentam uma preocupação crescente para a economia global: os mercados emergentes, que impulsionaram o crescimento mundial nos últimos anos, estão desacelerando.É uma grande preocupação em vista do fardo da crise da dívida europeia e da lenta recuperação dos Estados Unidos. Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul estão entre as economias dinâmicas que ajudaram o mundo a se recuperar da crise financeira de 2008.
Desta vez, porém, não parece que elas terão o mesmo impulso, agora que lidam com problemas como moedas fortes, inflação, déficits e bolhas imobiliárias.
"O esforço de carregar nas costas o peso do crescimento mundial começou a desgastar as economias emergentes", disse o economista Eswar Prasad, da Universidade Cornell, que já deu consultoria de política econômica à Índia e outros países emergentes. "A capacidade dessas economias de contribuir para uma recuperação global está sendo testada."
As previsões de crescimento estão caindo em todos os países em desenvolvimento. Na segunda-feira, o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao reduziu a meta de crescimento anual do país para 7,5%, depois de mantê-la em 8% desde 2005. Na semana passada, a Índia disse que sua economia cresceu 6,1% no último trimestre de 2011, o ritmo mais lento em dois anos. Os economistas preveem que o crescimento da África do Sul cairá para 2,5% este ano, muito menos que os 7% que o diretor do banco central do país, Gill Marcus, mencionou como meta um ano atrás, para tentar reduzir o alto desemprego.
No Brasil, esta semana o governo informou que a economia cresceu cerca de 2,7% em 2011, menos de metade da taxa prevista pelo Ministério da Fazenda há um ano; e que a produção industrial caiu 2,1% em janeiro, a maior queda desde a crise de 2008. Além disso, o banco central reduziu o juro básico em 0,75 ponto percentual, um corte maior do que o esperado, para estimular o crescimento — o que também acendeu receios de inflação.
Claro que a maioria das economias em desenvolvimento continua crescendo mais do que os EUA, a Europa ou o Japão. O investimento estrangeiro nos emergentes está se recuperando, e o aumento no preço das commodities deve ajudar o crescimento em países ricos em recursos naturais, como Brasil e África do Sul.
"Os mercados emergentes ainda estão puxando o trem, mas é um trem que anda mais devagar", disse Mohamed El-Erian, diretor-presidente da Pacific Investment Management Co., que administra cerca de US$ 1,3 trilhão em investimentos.
Em 2009, ele foi um dos que cunharam a expressão "o novo normal" para descrever uma economia global onde os mercados emergentes iriam superar, consistentemente, o crescimento do mundo desenvolvido. El-Erian disse que sua teoria se sustenta, embora a responsabilidade recaia sobre os autoridades políticas da Europa para resolver a crise de dívida no continente e evitar que transborde para outras regiões.
Mas já aconteceu uma importante mudança nesse conjunto variado que é o crescimento global. Em 2010, os economistas falavam de uma "recuperação em duas velocidades", onde as economias emergentes disparavam à frente enquanto as ricas se estagnavam. Agora, ambas estão diminuindo. Em janeiro, o Fundo Monetário Internacional reduziu em 0,7%, para 5,4%, sua previsão de crescimento em 2012 para os mercados emergentes, feitas apenas três meses antes. O bloco cresceu 6,2% em 2011.
Uma série de fatores explica a perda de impulso. A China está desacelerando deliberadamente para um ritmo de crescimento mais sustentável. Os fluxos de exportação para a Europa e os EUA estão caindo, assim como os fluxos de commodities para a China. Em alguns países pobres, reformas econômicas muito necessárias foram interrompidas, com base na expectativa de que as taxas de crescimento continuariam altas.
No Brasil, autoridades do governo culpam os EUA e a Europa por cortar os juros, enviando uma onda de dinheiro especulativo para essas regiões, supervalorizando o real e prejudicando a competitividade brasileira.
Mas muitos problemas do Brasil são de origem local. Altos impostos, estradas ruins, burocracia extensa e corrupção endêmica tornam o Brasil um dos lugares mais caros do mundo para se produzir mercadorias.
O resultado é que o setor industrial do país, cada vez menos competitivo, está morrendo uma morte lenta, enquanto seus exportadores de commodities e prestadores de serviços, como restaurantes e cinemas, estão indo bem. É uma tendência preocupante, pois a manufatura industrial é a área em que se criam bons empregos para uma população pobre e de baixo nível educacional como a do Brasil.
Um desaceleração na China — o maior parceiro comercial do Brasil, África do Sul e outros exportadores de commodities — terá efeitos no mundo todo. A China compra minério de ferro e soja do Brasil; mais minério de ferro, e magnésio, cobre e outros metais da África do Sul, e carvão e cobre da Índia. Sem falar nos carros e artigos de luxo dos países ricos.
A China cresceu a uma taxa média de 10% durante 30 anos — um feito que nenhum outro país jamais alcançou. Mas seu modelo de crescimento baseou-se demasiadamente em três pilares que estão agora sob pressão: exportações, investimentos em indústrias de capital intensivo e valorização dos imóveis.
O banco de investimento japonês Nomura estima que as exportações da China em fevereiro caíram 15,2% comparadas com um ano atrás. Os preços dos apartamentos nas maiores cidades da China subiram tanto que se tornaram inacessíveis para a maioria da população, prejudicando o boom e criando dores de cabeça para os líderes.
Agora, os líderes chineses deixam claro que os anos de crescimento acima de 10% estão chegando ao fim. A ideia é mudar para um crescimento que dependa mais do consumo doméstico. Isso pode dar à China uma base mais sólida para crescer bem no futuro. Mas gerenciar a transição e ao mesmo tempo continuar criando empregos será um desafio.
A Índia é outra que está lidando com as consequências de um crescimento mais lento. Alguns analistas dizem que ela foi pega desprevenida por essa desaceleração, a qual tornou difícil para o governo cumprir suas promessas de gastos sociais e subsídios para combustíveis.
A África do Sul também está escorregando para baixo das suas previsões de 4% de crescimento feitas no ano passado, prejudicada pela sua enorme dependência de exportações para a China. A produção mineral encolheu 13% em 2011, segurando o crescimento em 3%.
"O desafio imediato que nós enfrentamos é não deixar a situação atual deteriorar", escreveu na quarta-feira o ministro da Fazenda Pravin Gordhan, num editorial do jornal "Business Day".
Fonte: The Wall Street Journal
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