Por Mário Costa*
Durante um longo tempo, falar em "inovação tecnológica" era para poucos. Cada um em sUa área de atuação, médicos, dentistas, engenheiros, físicos, químicos, biólogos, etc., cada um tratava da inovação tecnológica dentro de seu contexto profissional.
Durante a maior parte de minha carreira profissional, tive o primeiro contato com as inovações tecnológicas do mundo da Tecnologia da Informação no trabalho, muito antes de serem viáveis ou aplicadas ao meu dia a dia fora do escritório.
Nos últimos anos, porém, isso mudou. Agora é comum encontrar pessoas que dizem que seu computador ou seu smartphone pessoal é muito melhor e mais avançado do que o que usa na empresa.
Além disso, vimos diversas tecnologias disruptivas (tecnologias que causam grande impacto no dia a dia de pessoas e de empresas) surgirem e ganharem relevância fora do ambiente empresarial, para só depois serem analisadas e adotadas pelas empresas. Dois exemplos simples e recentes: redes sociais e tablets.
Outro evento razoavelmente recente e muito interessante é a mudança nos modelos de inovação, mais especificamente a adoção em larga escala de modelos de colaboração aberta.
Enquanto foi comum até o início do século 21 vermos empresas e governos montarem equipes fechadas de pesquisa e desenvolvimento, no modelo de colaboração aberta, essas áreas são estimuladas a interagir com colaboradores externos. Pode parecer simples, mas pense nas implicações sobre patentes, direitos autorais e propriedade intelectual. É um mundo novo.
Para as empresas é preciso, mais do que nunca, compreender que vivemos em uma época na qual modelos de negócio tradicionais e tidos como consolidados e estáveis serão desafiados constantemente. Veja o que já aconteceu com a indústria da música.
Veja o que já está acontecendo com os bancos, com o surgimento de grandes grupos voltados ao microcrédito sem intermediação bancária. Repare o que já está acontecendo no varejo, agora que você pode ir com seu smartphone a uma loja qualquer, fazer scan do código de barras de qualquer produto e com isso comparar preços instantaneamente.
Note o que já está acontecendo no mercado de seguros, em que já é possível contratar um seguro que cobra por quilômetros rodados (ou seja, seguro pós-pago ao invés de pré-pago). Atente para o que já está acontecendo na indústria de telecomunicações com o crescimento de plataformas de comunicação voz-sobre-IP (que não precisam usar o seu plano de voz, precisam de um plano de dados).
Olhando o futuro (próximo), pense no que vai mudar no ramo da energia quando tivermos casas e apartamentos produzindo e vendendo energia em grids inteligentes (ao invés de apenas comprar). Pense nos desafios éticos que a facilidade de análise de DNA vai trazer para a realidade de todos nós.
Não é mais possível para empresas separarem a inovação voltada ao seu negócio das inovações que afetam o nosso dia a dia, assim como não é mais possível pensar nas inovações de nosso dia a dia sem levá-las para o contexto de nossas vidas profissionais. Todos nós teremos que continuar nos adaptando, e cada vez mais rápido. São tempos interessantes.
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*Mário Costa é professor do Centro de Inovação e Criatividade da ESPM
Fonte: Brasil Econômico
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