Por: Jéssica Lipinski
Cientistas vencedores do Prêmio Planeta Azul afirmam que o desinteresse dos governos levará a conferência ao fracasso e que ainda estamos longe de um caminho para o desenvolvimento sustentável
“Essencialmente, nada mudou em 20 anos. Não estamos nem perto de um caminho para sermos sustentáveis.” A frase de Bob Watson, assessor de ciência ambiental do Reino Unido, pode parecer pessimista, mas reflete a opinião de grande parte dos ganhadores do Prêmio Planeta Azul, que é considerado por muitos o “Nobel das ciências ambientais”. E para estes cientistas, a próxima Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que acontece em junho de 2012, também não deve ter sucesso, a menos que haja grandes mudanças políticas para se alcançar um desenvolvimento sustentável.
Os premiados do Planeta Azul acreditam que a conferência não deve marcar o início de uma nova era do desenvolvimento, principalmente porque os grandes líderes governamentais não parecem interessados, em parte por estarem preocupados com problemas mais imediatos, como a crise econômica que assola, sobretudo, os países industrializados.
Segundo eles, uma indicação disso é a duração e a importância do encontro: a conferência de 1992, a ECO92 ou Rio92, durou duas semanas, e atraiu a maioria dos líderes mundiais. Já neste ano, a reunião só durará três dias, e até agora apenas Hu Jintao, presidente da China, está entre os líderes de estado que confirmaram sua presença.
“O texto da ONU [para a declaração da conferência] é fraco”, explicou José Goldemberg, que era secretário do meio ambiente do Brasil na época da ECO92.
Para os cientistas, que se reuniram em Londres na última semana para finalizar um documento que enfatiza soluções para desafios ambientais e de desenvolvimento e que será apresentado em uma reunião do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) no final de fevereiro em Nairóbi, essa despreocupação indica que a saída para um desenvolvimento mais sustentável pode não estar nos governos mundiais.
“Da última vez no Rio, tivemos uma fé irracional nos governos. Desde então perdemos nossa inocência em acreditar que os governos eram sábios, benevolentes e clarividentes. Isso foi completamente desmentido”, lamentou Camilla Toulmin, diretora do Instituto Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED), relembrando a primeira edição da conferência.
“O que é mais desencorajador é a perda do sentimento de que os governos nos ajudariam”, comentou Harold Mooney, biólogo da Universidade de Stanford. De acordo com os cientistas, no entanto, esse desenvolvimento sustentável só poderá ser atingido quando os sistemas governamentais forem reformulados.
“Estamos desiludidos. O atual sistema político está quebrado”, observou Watson. “Esse sistema político não é motivado para se preocupar com o futuro”, acrescentou Syukuro Manabe, climatologista da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA.
Mas se há uma necessidade de transformar o sistema político e não há iniciativa dos grandes líderes para tal, como esse problema poderá ser resolvido? Segundo o grupo de cientistas do Planeta Azul, a solução pode estar nos governos locais, em ONGs e em empresas privadas, em vez de nos grandes governantes ou na ONU.
“Os tomadores de decisão deveriam aprender e incrementar as ações de base e o conhecimento em áreas como energia, alimentação, água e recursos naturais”, sugeriu o grupo.
De acordo com Watson, as prioridades para alcançar um desenvolvimento sustentável devem ser o término da era dos combustíveis fósseis, através do aperfeiçoamento e da popularização de fontes energéticas renováveis, e o investimento para limitar o crescimento da população mundial, tornando os contraceptivos disponíveis para todos.
“Acreditamos realmente que o sistema político pode ser reformado, e que haverá soluções técnicas. Mas o tempo não está do nosso lado. Os desafios que o mundo enfrenta hoje precisam ser abordados imediatamente se quisermos resolver o problema das mudanças climáticas, da perda de biodiversidade e da pobreza”, concluiu Watson.
Fonte: Instituto CarbonoBrasil/Agências Internacionais
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