Má administração pública é mais recorrente em municípios com alto índice de analfabetismo
Um levantamento feito a partir da lista de gestores com contas públicas desaprovadas no Paraná mostra que os maiores problemas de gestão estão em municípios menos desenvolvidos e com maior porcentagem de analfabetos. Os números revelam que, proporcionalmente, cidades com melhores índices sociais tendem a ter menos problemas com seus gestores e que, de certa maneira, a má gestão pode ajudar a perpetuar as condições de municípios menos desenvolvidos.
Os dados foram compilados pelo cientista político da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Emerson Cervi. O professor comparou a lista de gestores que estariam inelegíveis, divulgada pelo Tribunal de Contas (TC) do Estado na semana passada, com duas outras bases de dados. “Há uma clara correlação com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”, afirma. “E, no caso do analfabetismo, a relação se torna ainda mais evidente”, diz.
A relação de possíveis inelegíveis é elaborada regularmente pelo TC. A listagem é enviada à Justiça Eleitoral, que decide se os gestores com problemas podem ou não concorrer às eleições. Os casos que constam da lista são aqueles em que o TC diz ter havido dolo, ou seja, os casos em que o gestor errou sabendo que estava agindo de maneira incorreta. Neste ano, o TC apresentou uma lista com 1,1 mil inelegíveis no Paraná.
Comparações
A primeira comparação feita por Cervi mostra que os municípios menos desenvolvidos socialmente têm mais problemas com as contas públicas. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um parâmetro usado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para averiguar as condições sociais de uma localidade. Inclui indicadores de saúde, renda e educação.
No caso dos municípios considerados desenvolvidos do Paraná (aqueles com nota acima de 0,8), houve apenas 0,16 inelegíveis para cada grupo de mil eleitores. Nos municípios com piores índices, o número sobe significativamente. Entre as cidades com IDH entre 0,65 e 0,7, por exemplo, a média fica em 0,72 inelegíveis para cada grupo de mil eleitores (veja tabela nesta página).
O analfabetismo também tem clara correlação com o número de gestores inelegíveis. Nas cidades que têm mais de um quinto da população sem saber ler e escrever, a quantidade de inelegíveis é a mais alta, chegando a 0,96 para cada grupo de mil eleitores. Quando o analfabetismo fica abaixo de 5%, o índice cai bastante, ficando em 0,08 para mil eleitores.
“Não se trata de discutir o analfabetismo em si”, diz Cervi. “O mais provável é que os indicadores de educação de todos do município sejam ruins”, diz ele. Cervi também alerta que a correlação não implica que sejam os analfabetos que votam pior. “Pode haver um grupo de pessoas com estudo nessas cidades que são responsáveis pela escolha desses gestores”, diz.
Fonte: Gazeta do Povo
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