Brasília - A criação de um
instrumento de cooperação financeira entre os componentes do Brics – Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul – indica que os países emergentes
apostarão na ajuda mútua para se contraporem ao poder econômico das nações
desenvolvidas. A falta de detalhes sobre o funcionamento dessas ferramentas, no
entanto, provoca dúvidas em especialistas sobre a capacidade de esses
mecanismos serem implementados.
Na segunda-feira (18), durante
reunião preparatória para o encontro do G20, no México, os membros do Brics
concordaram em formar um fundo conjunto com recursos das reservas
internacionais dos países. O grupo anunciou ainda a possibilidade de abertura
de negociações para que as economias emergentes também façam operações de troca
de moedas entre si.
Para o professor de economia
Décio Munhoz, da Universidade de Brasília (UnB), iniciativas semelhantes de
cooperação financeira, como os acordos de Chiang Mai – que prevê auxílio financeiro
entre países asiáticos – e as trocas de moedas entre o Federal Reserve (Banco
Central norte-americano) e alguns países durante o auge da crise econômica nos
Estados Unidos, são recentes. “Não dá para avaliar os reflexos com
profundidade”.
Segundo Munhoz, uma questão
central no funcionamento do fundo é se ele será formado por contribuições em
dólar e euro ou se os aportes serão feitos nas moedas de cada país do Brics.
Caso os países utilizem apenas as próprias moedas, o fundo terá capacidade de
ação limitada, financiando apenas trocas comerciais entre os membros do grupo.
“É um mecanismo muito restrito porque quando você troca moeda, elas só poderão
ser utilizadas dentro daqueles países”.
Munhoz diz ainda que é difícil
saber se o fundo conjunto será posto em prática por causa das próprias
incertezas entre os membros do grupo. “Até recentemente, a ideia era que os
Brics criassem um banco de desenvolvimento, nos moldes do Banco do Sul”.
O economista e ex-diretor do
Banco Central, Carlos Eduardo de Freitas, destaca que a utilização das reservas
internacionais para compor o fundo conjunto reforçará o poder da China dentro
do Brics. Isso porque o país asiático é o maior detentor de reservas externas
no mundo. “Quem tem reservas genuínas é a China, que tem superávit nas contas
externas”.
Freitas também critica a falta de
detalhamento em relação ao mecanismo de cooperação financeira. Ele, no entanto,
diz que o Brasil pode se beneficiar caso possa, em último caso, pegar dinheiro
emprestado do novo fundo para estimular as exportações e a economia. Para ele,
o anúncio desse instrumento representa uma reação à lentidão das reformas para
ampliar o poder dos países emergentes no Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Mesmo com a crise, manteve-se uma resistência para uma mudança na divisão de
poder. Então decidimos criar uma coisa meio que nossa”.
Fonte: Agência Brasil
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