O diretor do gigantesco fundo soberano da China acredita que os riscos de uma ruptura da zona do euro estão aumentando, e diz que o fundo está reduzindo suas carteiras de ações e títulos de dívida ao continente.
Os comentários de Lou Jiwei, presidente da Corporação de Investimento da China, estão entre os mais pessimistas sobre a Europa já feitos por um alto funcionário chinês. Eles refletem um desânimo crescente em Pequim com a forma como os líderes europeus estão lidando com a escalada da crise no maior mercado de exportação da China, e com a ansiedade sobre um potencial de contágio mundial.
"Há um risco de que a zona do euro desmorone e esse risco está aumentando", disse Lou em entrevista ao The Wall Street Journal, a primeira que concede a um meio de comunicação ocidental em cinco anos.
A retração da CIC, cujos movimentos são amplamente moniorados pelo mercado, poderia esfriar o interesse dos investidores por ativos europeus, dizem analistas, potencialmente contribuindo para um aumento ainda maior nos custos de financiamento para países atolados em dívida.
O presidente de CIC, Lou Jiwei, diz que o risco de ruptura da zona do euro é alto.
Com cerca de US$ 410 bilhões em ativos em carteira, o CIC é o quinto maior fundo soberano do mundo. Foi fundado pelo governo chinês em 2007 em busca de melhores retornos para as reservas cambiais chinesas, que tradicionalmente se mantinham estacionadas em investimentos de baixo rendimento como os títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Os líderes chineses definiram uma melhor gestão dos US$ 3,3 trilhões das reservas cambiais do país, a maior do mundo, como uma prioridade para o setor financeiro.
Lou também sugeriu que a China libere os controles sobre sua conta de capital, uma medida que liberaria os fluxos de investimento com outros países e afrouxaria as rédeas sobre o yuan. Depois que a crises da zona do euro enfraquecer, poderia ser um bom momento de "abrir a conta de capital", disse Lou.
Os investidores globais têm examinado a estratégia de investimentos da CIC recentemente por causa da especulação frequente no mercado sobre a possibilidade de que a China socorra a zona do euro através da compra de dívida europeia. Funcionários do CIC têm enfatizado que o fundo é um investidor comercial e que não será parte de nenhum esforço coordenado de investimento chinês.
Lou disse que a CIC reduziu sua exposição aos países "periféricos" da Europa há muito tempo, antes de incorrer em qualquer perda, e que cortou suas participações em ações e títulos de dívida europeus. "Atualmente, achamos que há demasiado risco nos mercados públicos da Europa", disse. Lou não especificou a que países periféricos ele estava se referindo, mas esse grupo é normalmente definido por empresas e analistas como sendo Grécia, Portugal e Irlanda, que foram forçados a aceitar resgates internacionais, bem como as economias maiores da Itália e Espanha, onde os rendimentos dos títulos de dívida subiram para níveis que muitos no mercado consideram insustentáveis.
É pouco provável que o CIC seja um investidor em quaisquer obrigações em euros criadas para apoiar o endividado bloco. Algumas autoridades europeias já cogitaram a ideia de criar uma forma de dívida coletiva para dar maior suporte a países europeus cujos custos crescentes de financiamento levantam dúvidas sobre a capacidade deles de reformar suas economias.
Lou, um cientista da computação que virou economista, não acha que a Europa esteja pronta para emitir esse tipo de dívida. "A Europa não tem a disciplina fiscal necessária e não tem as políticas adequadas", disse, acrescentando que esse tipo de título talvez não seja um bom investimento para o CIC. "O risco é muito grande, e o retorno muito baixo", disse Lou.
Ainda assim, o CIC continuará a investir no continente, mas vai se concentrar em private equity e investimento direto, incluindo infraestrutura, disse Lou. "Neste momento, estamos dando menos peso a países desenvolvidos e mais peso aos mercados emergentes".
Autoridades europeias têm apelado a Pequim para que a China ajude a resolver a crise de dívida da zona do euro oferecendo apoio financeiro através de novos investimentos e da compra de dívida europeia. Os líderes chineses, até agora, têm expressado confiança no futuro da Europa, mas têm evitado assumir qualquer compromisso financeiro firme. Os líderes também pediram à Europa que avancem as tão necessárias reformas.
Lou, de 61 anos e diretor do CIC desde 2007, disse que o resto do mundo vai estar vulnerável à crise da dívida europeia, embora o seu impacto sobre a Ásia provavelmente será relativamente pequeno. Mesmo assim, os problemas de dívida na Europa causaram uma forte desaceleração nas exportações da China, um pilar da economia chinesa, disse Lou. "Ninguém consegue manter sua pólvora seca quando a de todo mundo está molhada", disse.
Fonte: The Wall Street Journal
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