O banco central do Japão informou que, pela primeira vez em no mínimo 20 anos, a demanda interna — e não as exportações — está sendo a força motriz do crescimento econômico, já que a crise da zona do euro e o crescimento minguado da economia americana continuam a reprimir a demanda internacional.
O Banco do Japão revisou para cima a avaliação geral da economia — dando crédito à atividade que se seguiu ao terremoto e ao tsunami de março de 2011 no norte do país.
"A atividade econômica no Japão começou a ganhar força moderadamente. A demanda interna permanece firme, devido sobretudo à demanda ligada à reconstrução", declarou o banco no relatório mensal divulgado ontem.
Um aumento na demanda interna seria uma boa notícia para o BC japonês, já que o crescimento dos salários é visto como a melhor maneira de romper o longo ciclo deflacionário que há muito mantém a alta de preços em praticamente zero.
Ainda assim, a autoridade monetária continua cautelosa quanto às perspectivas no exterior, já que a crise europeia deflagrada pela Grécia ainda está se desdobrando.
"Ainda há um alto grau de incerteza na economia mundial", afirmou o banco central, acrescentando que é preciso dar especial atenção a "desdobramentos em mercados financeiros mundiais" em meio à crise da dívida europeia.
Após o estouro da bolha especulativa no Japão no início da década de 90, a economia do país cresceu sobretudo na base de fortes exportações; já a demanda doméstica ficou praticamente estagnada. Desta vez, no entanto, a situação parece ser outra, pois a demanda internacional anda fraca devido à crise da dívida europeia e ao crescimento ainda mirrado dos EUA.
A demanda interna está sendo atiçada pelos 19 trilhões de ienes (US$ 240 bilhões) a serem investidos em obras públicas ao longo dos próximos cinco anos, um fator crucial para a taxa de crescimento anualizada do PIB registrada no primeiro trimestre: 4,7%.
Embora o consenso entre economistas do setor privado seja o de queda do crescimento para um ritmo anualizado de 1,9% no período abril-junho, esses especialistas não veem um retorno ao quadro geral de contração econômica.
É que o consumo das famílias, que responde por cerca de 60% da economia, segue firme. O japonês está gastando em carros e casas de maior eficiência energética, menos nocivos ao ambiente.
Depois de um período voluntário de comedimento após a tragédia do ano passado, o consumidor japonês hoje parece mais disposto a fazer gastos supérfluos.
"Não há dúvida de que a demanda interna seja hoje o grande motor", disse uma pessoa familiarizada com o BC.
Alguns economistas do setor privado dizem que a economia poderia ser sustentada pelo menos este ano sem aumento das exportações. Devido à prolongada deflação no país, os salários basicamente não se mexeram em 2011, tendo ficado 0,2% menores do que um ano antes.
"Dificilmente as exportações serão um fator que arraste para baixo a economia", disse Akihiko Suzuki, economista-chefe da Mitsubishi UFJ Research and Consulting. "O foco é se os salários vão subir ou não" para facilitar uma recuperação sustentável, acrescentou.
As autoridades não estão apostando em uma recuperação "sem exportações", dizendo que a tradicional dependência de vendas externas ainda é um fator crítico, responsável por 15,1% do PIB no ano fiscal encerrado em março.
Para o banco, o aumento das exportações e da produção é condição indispensável para a economia japonesa entrar em plena recuperação. "A economia do Japão deve voltar a um caminho de recuperação moderada à medida que a demanda interna continue firme e economias no exterior saiam de um período de desaceleração", declarou a instituição.
Fonte: The Wall Street Journal
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