Para Natixis, retomada está mais lenta do que em crises dos últimos 30 anos; já Garcia, da OEB, diz que interdependência de países europeus dificulta reação aos problemas.
Depois do crescimento de 3% na economia americana em 2010, muitos acharam que a crise econômica global havia ficado no passado. Os resultados de 2011 e deste ano, no entanto, mostraram que a recuperação ainda está longe até mesmo de poder ser prevista.
Comparando a recessão de 2008 e 2009 com outras crises nos Estados Unidos e na Europa desde os anos 80, o economista do banco francês Natixis, Patrick Artus, concluiu que esta recuperação está "muito lenta" em termos de produção e emprego.
Segundo ele, para que o Produto Interno Bruto (PIB) retomasse seus níveis pré-crise no início da década de 1980 foi preciso seis trimestres nos Estados Unidos e oito na Europa. Já no início dos anos 90, foram necessários cinco trimestres para os americanos e oito para os europeus se recuperarem.
Dessa vez, conforme os cálculos de Artus, foram necessários três anos e três trimestres nos Estados Unidos. Na Europa, o PIB ainda não retornou ao nível pré-crise - mesmo porque, a região está enfrentando uma nova onda de problemas e novas recessões estão previstas.
"As explicações para essa lentidão parecem ser o alto nível de endividamento do setor privado e a elevada aversão ao risco das empresas", afirmou Artus.
De acordo com o economista, o endividamento do setor privado em 2008 e 2009 estava mais alto do que nas três décadas anteriores. Ao mesmo tempo, a taxa de investimento das famílias e das empresas continuou fraca, atenuando o ritmo de recuperação.
O segundo fator, a aversão ao risco, também tem impactos nas taxas de investimento e de contratação, o que retardou a recuperação.
Que recuperação?
Manuel Enriquez Garcia, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP e presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, vai além de apenas notar a lentidão da recuperação.
Ele compara a crise a um vulcão, que entrou em erupção nos Estados Unidos e sua lava atingiu os mais diferentes lugares da Terra, entre eles - e com alta intensidade - a Europa.
"O vulcão ainda está em erupção. Ele continua jogando a lava ainda mais longe e já chegou no Brasil e na China", afirma.
Resumindo, a crise começou com a falta de regulação no mercado imobiliário americano, que levou a uma quebra generalizada dos bancos. Como o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) pode emitir dinheiro, ele injetou liquidez na economia para poder sair da crise.
Quando a "lava" chegou à Europa, ela atingiu os países que tinham a situação semelhante aos Estados Unidos em termos imobiliários: Irlanda, Portugal, Grécia e Espanha.
O problema é que, enquanto o Fed tinha autonomia para emitir moeda, os países da Zona do Euro dependem do Banco Central Europeu. Ou seja, eles perderam a capacidade de emitir dinheiro. Assim, o Estado tenta salvar os bancos e acaba arruinado ele mesmo.
"Isso aconteceu na Espanha e acontecerá na Itália e na França, provavelmente", avalia Garcia. "A crise vai se estendendo e parece não ter fim. O fato desses países serem dependentes de outros torna muito desequilibrada a situação", completa.
Segundo o professor, não há um horizonte que permita vislumbrar a recuperação. O desenrolar da crise está apontando cada vez mais para a probabilidade de destruição da moeda única.
Nos Estados Unidos, a situação não é tão dramática. Além do Fed poder emitir moeda, a dívida do país ainda é financiada pelo resto do mundo, já que os europeus, asiáticos e até os brasileiros têm boa parte das reservas internacionais em títulos americanos.
"Incrivelmente, mesmo em crise, o único lugar seguro no mundo para se guardar dinheiro é nos Estados Unidos, nos títulos do Tesouro americano".
Crise de 1929
Porém, Garcia discorda da comparação feita pelo economista francês. Para ele, esta crise não pode ser comparada com os últimos 30 anos e tem semelhanças muito maiores com a crise de 1929, devido a essa falta de regulamentação e à quebra generalizada dos bancos.
"As crises a partir de 1970 estão mais ligadas à questão do petróleo e suas consequências nas economias desenvolvidas e nas subdesenvolvidas, como eram chamados os emergentes naquela época", comenta o professor.
Fonte: Brasil Econômico
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