Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Alta de salários pode ajudar China a ajustar-se a crescimento mais lento


Os salários ainda estão aumentando na China e muitas empresas estão tendo dificuldade para preencher suas vagas, apesar do declínio acentuado na economia aqui — evidência de uma escassez estrutural de mão de obra que pode ajudar a China a ajustar-se ao crescimento mais lento sem causar instabilidade política e estimular o apetite do consumidor por produtos estrangeiros.

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Xinhua/Zuma Press
O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao (no centro), conversa com trabalhadores durante uma visita a Chengdu, capital da província de Sichuan.
Refletindo o aperto na oferta de mão de obra, os salários das famílias urbanas aumentaram 13% no primeiro semestre ante um ano atrás, e a média do salário mensal de trabalhadores migrantes subiu 14,9%, de acordo com dados do Órgão Nacional de Estatística da China. Uma pesquisa do Ministério do Trabalho em 91 cidades no primeiro trimestre mostrou que a demanda por trabalhadores excedeu a oferta num nível recorde, indicando um baixo desemprego.
A escassez de trabalhadores, que contrasta com o nível preocupante do desemprego nos Estados Unidos e na Europa, ajuda a explicar por que Pequim não está correndo para repetir os programas de estímulo maciços que pôs em prática em 2009.
Naquela época, o colapso do comércio mundial forçou demissões em larga escala nas fábricas ao longo da costa, e uns 20 milhões de trabalhadores migrantes voltaram para suas casas no interior. Os temores de agitação social que isso gerou levaram o governo a gastar generosamente com ferrovias para trens-bala, estradas e outros projetos de estímulo ao crescimento.
Até agora, a desaceleração não se mostrou tão severa quanto em 2009, quando a economia mundial mergulhou na recessão. Sheng Laiyun, um porta-voz da Agência Nacional de Estatística, disse que cerca de seis milhões de novos empregos foram criados nas cidades chinesas no primeiro semestre e os números do emprego de migrantes também subiram.
Mas salários em alta também têm os seus riscos. Na China, os salários ainda estão partindo de uma base muito baixa, mas estão subindo depressa. Às taxas atuais, os salários do setor privado de manufatura vão dobrar entre 2011 e 2015, e triplicar até 2017, corroendo a competitividade e prejudicando as exportações, as quais tiveram um papel fundamental no crescimento inicial da China.
De fato, a Boston Consulting Group calcula que os salários na China podem ultrapassar os do México este ano, quando se leva em consideração as diferenças de produtividade entre os dois países.
A transição para uma economia de altos salários, onde a produção do setor de serviços e o consumo doméstico têm um papel maior, não será tão linear. Ainda há decisões difíceis a tomar, incluindo a abertura de partes críticas do setor de serviços — como o segmento bancário e o de telecomunicações — a uma concorrência maior. Algumas dessas decisões requerem confrontar grupos de interesse poderosos como empresas estatais e governos locais. O processo vai se desenrolar por anos, não somente meses.
Os resultados terão consequências para aqueles que ganham e perdem com as rápidas mudanças na economia da China. O mesmo aumento nos salários que começou a elevar os preços dos produtos da China no mercado mundial também deve levantar a demanda por bens de consumo importados. Os principais beneficiados com o rápido crescimento da China até agora foram exportadores de commodities como a Austrália, rica em minério de ferro, e fabricantes de máquinas avançadas como a Alemanha. No futuro, os produtores de bens de consumo de primeira linha nos EUA e na Europa poderiam ganhar uma fatia maior do bolo.
O movimento de alta dos salários vem sendo moldado por mudanças na população e nas políticas do governo. O tamanho da força de trabalho se estabilizou, dizem os demógrafos, e começará encolher na metade da década, acirrando a competição por trabalhadores.
A China se comprometeu a aumentar substancialmente o salário mínimo, o que pressiona os empregadores a subir os salários dos funcionários mais qualificados. Pequim também elevou as indenizações aos demitidos. Isso desencoraja demissões, a não ser que haja uma queda drástica nos negócios.
No passado, o crescimento estonteante — em que o produto interno bruto subiu numa média de cerca de 10% ao ano pelos últimos 30 anos — foi necessário para criar empregos para os milhões de jovens trabalhadores que inundavam o mercado todo ano. Agora, esse fluxo está perdendo fôlego, no mesmo momento em que a China passa a priorizar o crescimento do setor de serviço.
Essa dinâmica ajuda a explicar por que há poucos casos de demissões, ainda que o crescimento do PIB tenha sido de 7,6% no segundo trimestre de 2012, quase metade do pico de 14,8% atingido no segundo trimestre de 2007. Explica também por que os líderes chineses parecem mais otimistas quanto a um crescimento mais lento. "A taxa de crescimento potencial da China diminuiu", disse Chen Dongqi, um experiente pesquisador do governo, acrescentando que "7% a 8% agora é o normal".
O desemprego oficial da China foi de 4,1% no fim do primeiro trimestre, embora os dados cubram somente os trabalhadores urbanos e sejam considerados pouco confiáveis pela maioria. A taxa de desemprego nos EUA foi de 8,2% em junho, sendo que os salários cresceram 1,7% no primeiro trimestre de 2012 comparado com um ano atrás. Na zona do euro, o desemprego atingiu 11,1% em maio, o nível mais alto desde a criação da moeda comum.
O vigor do mercado de trabalho na China vem das profundas mudanças demográficas. A política do filho único, introduzida no país em 1980, está começando a corroer o suprimento de trabalhadores. Em 2005, havia 120,7 milhões de chineses entre 15 e 19 anos de idade, segundo estimativas das Nações Unidas. Em 2010, esse número tinha caído para 105,3 milhões, e deve chegar a 94,9 milhões até 2015.
Fonte: The Wall Street Journal

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