Curitiba, capital do Paraná, única cidade avaliada com desempenho "bem acima da média" no Índice de Cidades Verdes/Fotos: Reprodução
Embora sejam assoladas por problemas comuns a realidade urbana, tais como crescimento desordenado, transporte caótico e poluição, por exemplo, algumas das grandes cidades da América Latina procuram promover iniciativas capazes de proporcionar soluções inteligentes e rápidas rumo ao desenvolvimento sustentável, conforme recomenda o Índice de Cidades Verdes (GCI, na sigla em inglês), produzido pela Economist Intelligence Unit, com o patrocínio da Siemens.
Uma das práticas exemplares que consta no documento vem da equatoriana Quito, onde o ato de plantar árvores é praticamente uma obsessão desde 2006. Um relatório para o governo municipal da capital do país concluiu que a cidade tinha 9.000 hectares de cobertura de árvores urbanas, mas recomendou dobrar essa quantidade a fim de colher diversos benefícios ambientais: cobertura das árvores, absorção da poluição do ar, redução do consumo de energia ao proporcionar sombra e melhoraria da conservação da água ao limitar a perda do recurso proveniente da chuva.
O “Projeto de Florestação e Reflorestamento” foi implantado na cidade em 2008, o que culminou no plantio de cerca de seis milhões de árvores, a maioria de espécies nativas. Os pontos fortes do projeto são os métodos diferenciados que utiliza. As autoridades responsáveis pelo programa não impuseram um plano único totalmente abrangente. Em vez disso, cooperaram com os vários departamentos e instituições em toda Quito, além de seus esforços diretos. Uma iniciativa específica inclui cobrir as grandes avenidas com árvores. Também se destacam as seguintes ações:
- Trabalhadores municipais e voluntários foram empregados para replantar 300.000 árvores perdidas durante os incêndios do verão de 2009;
- Em 2006, a cidade criou um concurso de plantio de árvores com grupos vizinhos em 145 distritos. O concurso “Meu Bairro está Vestido de Árvores” levou ao plantio e à manutenção de 140.000 árvores;
- Em 2008 o equivalente a 5.000 hectares havia sido reflorestado, embora alguns deles tivessem sido plantados em áreas rurais nos arredores.
A arborizada Quito, capital do Equador/Foto: Kaushal Karkhanis
O programa busca demonstrar que incentivar uma grande faixa de instituições e pessoas físicas a simplesmente plantar as árvores e deixar a natureza agir pode trazer benefícios ambientais e estéticos para as cidades. Em março de 2011, por exemplo, funcionários públicos da Empresa Elétrica Quito trocaram por um dia seus escritórios pelos frios terrenos de uma comunidade rural a 3.500 metros de altitude, nos arredores da capital do Equador, para plantar árvores. Desde novembro de 2010 eles participam, em turnos, do plantio de dez mil mudas do gênero Polylepis, como parte de um convênio com o Fundo Ambiental para a Proteção de Bacias e Água (Fonag).
Lixo que gera energia
Em São Paulo, os gases de efeito estufa oriundos da decomposição dos resíduos sólidos, a exemplo do metano que é 21 vezes mais nocivo que o CO2, são retirados dos aterros sanitários Bandeirantes e São João (cujas atividades foram encerradas em 2007 e 2009, respectivamente), tratados por uma empresa privada contratada pela prefeitura e, em seguida, convertidos em energia elétrica.
Os dois locais têm capacidade conjunta para 46 megawatts, o que os torna uma das maiores iniciativas de coleta de metano do mundo. Os projetos deverão reduzir as emissões de carbono em cerca de 11 milhões de toneladas até 2012. Além disso, a iniciativa integra o Mecanismo para o Desenvolvimento Limpo, vinculado ao Protocolo de Kyoto.
Aterro Bandeirantes, em São Paulo, desativado em 2009/Foto: Fernando Stankuns
São Paulo divide seus créditos de carbono do projeto com a empresa parceira (Biogás Engenharia Ambiental), e a cidade vende a sua parte para angariar recursos voltados à outras iniciativas. A capital participou de um leilão inédito no mercado, realizado em uma bolsa regulamentada em 2008 e arrecadou US$ 36 milhões somente naquele ano. A maior parte do dinheiro é usado para melhorar os bairros ao redor dos aterros sanitários. Em 2009, por exemplo, foram abertas duas áreas de lazer, totalizando 9.200 m², que incluem playgrounds, pistas de caminhada e espaço comunitário.
Outra empresa também planeja começar a gerar energia a partir do lixo em 2013. Especializada no gerenciamento e aterros sanitários, a Estre Ambiental estima ter potencial de 60 MW a partir do biogás produzido em seus dez empreendimentos em São Paulo.
A expectativa é que o primeiro aterro a ser explorado seja o de Guatapará, localizado em município de mesmo nome, na região de Ribeirão Preto. O local recebe resíduos domésticos e industriais de cidades próximas. A operação está prevista para 2013. A ideia é instalar por etapas em torno de 7 motores de 1,4 MW de capacidade cada, de acordo com a evolução da disponibilidade de biogás ao longo de 20 anos.
Eficiência energética
A capital da Argentina, Buenos Aires, destaca-se quando o assunto é a redução da energia utilizada nas construções. Voltado para diminuir o consumo em 100 edifícios públicos, o “Programa de Eficiência Energética em Prédios Públicos”, criado em 2008, pretende obter cortes de 20% até o final de 2012, em relação aos níveis de 2007, e deverá eliminar 5.000 toneladas de emissões de carbono.
No início de 2010, as autoridades da cidade auditaram exaustivamente cinco prédios: dois escritórios, dois hospitais e uma escola, além de desenvolver planos de redução do consumo de energia adaptados individualmente para cada um deles. A primeira auditoria, por exemplo, examinou o uso da energia no escritório utilizado pela Agência de Proteção Ambiental da Argentina, que está apoiando o programa. A auditoria descobriu um potencial para o consumo geral de energia em 30%, inclusive reduzindo o consumo pelos computadores em 55%. As auditorias serão utilizadas como exemplos das melhores práticas, para ampliar o programa de inclusão de mais 31 prédios.
Buenos Aires investe na eficiência energética dos prédios/Foto: Reprodução
No final de 2009, o governo da cidade impulsionou o programa com a nomeação de um gerente de energia para monitorar o consumo em cada prédio do governo. As autoridades começaram com os prédios públicos porque, em geral, eles são grandes e podem alcançar economias significativas rapidamente. Eles também estabeleceram um exemplo para o setor privado. O departamento ambiental de Buenos Aires já começou a trabalhar na legislação que vai impor medidas de eficiência energética aos prédios do segmento. Outro objetivo do programa é criar guias de eficiência energética para residências, negócios e indústrias.
Trânsito Rápido de Ônibus
Transportar uma média de 1,6 milhão de passageiros por dia e reduzir o tempo das viagens em um terço são alguns dos resultados da rede Transmilenio, de Bogotá (Colômbia), baseada no sistema de Trânsito Rápido de ônibus (BRT, na sigla em inglês). Atualmente com 84 km, mas com possibilidade de crescimento, o projeto foi inaugurado no ano 2000.
Nove linhas usam faixas dedicadas no meio de algumas das mais largas avenidas da cidade. Como parte do programa, Bogotá substituiu a rede anterior de ônibus mais poluidores e menores, o que permitiu que vendesse créditos de carbono de acordo com o MDL.
Apesar de não ser perfeito, uma vez que sofre frequentes excessos de passageiros, o BRT mostra-se acessível aos residentes em uma cidade com renda relativamente baixa, além de ajudar a desafogar o trânsito. Redes semelhantes foram implantadas em outras cidades que integram o Índice e estão sendo planejadas para diversas outras cidades em toda a América Latina.
BRT transporta 1,6 milhão de passageiros diariamente em Bogotá/Foto: Reprodução
A pioneira, nesse sentido, foi Curitiba, capital do Paraná, onde o BRT é aplicado com sucesso desde 1973. A rede da cidade comporta ônibus longos e articulados que percorrem 72 km de vias dedicadas que se prolongam no padrão raiado a partir do Centro. Espinha dorsal do sistema de tráfego da metrópole, o BRT inclui milhares de quilômetros de rotas e transporta 1,8 milhões de passageiros por dia. Os passageiros pagam para entrar em uma das mais de 350 estações especialmente projetadas para reduzir os tempos de entrada e saída.
No total, são 465 linhas urbanas e metropolitanas operadas por 28 empresas privadas. “O principal atributo do BRT é que ele incorpora características do metrô por um custo cerca de 20 vezes menor por quilômetro”, explicou ao portal UOL Luís Antônio Lindau, pós-doutor em engenharia de tráfego e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A cidade é dona do maior número de veículos por habitantes entre as capitais brasileiras: 0,63 veículos/habitante, o triplo de Salvador (0,19) e superior à média nacional de 0,27, conforme dados de 2010 do IBGE - o que reforça a importância do desenvolvimento do BRT. “O nosso sistema de transporte não é excelente, mas funciona razoavelmente bem comparativamente com outras cidades brasileiras. Está bem estruturado, tem tarifa única, é integrado, eficiente do sistema de transporte na canaleta (via especial, onde trafegam alguns tipos de ônibus)”, observou Ricardo Antônio Almeida Bindo, supervisor de planejamento do Instituto de Planejamento e Pesquisa de Curitiba (IPPUC), entidade ligada à prefeitura.
Fonte: Jornal do Meio Ambiente
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