Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Restinga, desconhecida e ameaçada

Destruição de parte da vegetação remanescente em Matinhos abre a discussão sobre a preservação desse ecossistema
Um caso ocorrido no Litoral do Paraná no dia 16 de dezembro de 2011 gerou polêmica e levantou a questão da importância dos cuidados com um ecossistema pouco conhecido, mas presente em boa parte das praias. Em uma denúncia, o professor Rangel Angelotti, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), afirma que máquinas da prefeitura de Matinhos utilizadas para retirar a areia acumulada nas calçadas teriam, naquele dia, destruído uma faixa de restinga da praia brava de Caiobá.
A restinga, presente nas dunas das praias e considerada Área de Preservação Permanente (APP), é um ecossistema formado por um tipo de vegetação que nasce entre o ambiente marinho e o terrestre. “Ela protege a cidade do avanço tanto das areias [provocado pelos ventos], quanto do mar e os danos que podem ser causados por ressacas”, explica o professor.
Fotos: Walter Alvez/Gazeta do Povo / A restinga ajuda a conter o avanço da areia e a entrada do mar
Fotos: Walter Alvez/Gazeta do Povo
De acordo com Angelotti, houve descaso do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) em autorizar a operação de máquinas no local e provocar a retirada do ecossistema. “Matinhos já sofre com a erosão e a prefeitura ainda destrói essa barreira natural”, reclama. Por ironia, no mesmo local existe uma placa colocada pela prefeitura e IAP que alerta a população sobre a preservação do local.
Resposta
Sobre a autorização para o uso das máquinas, o IAP informa que ela foi dada apenas para a remoção de areia de uma parte da calçada próxima à restinga. Segundo o Instituto, após a denúncia do professor foi realizada uma vistoria no local e constatou-se que os danos da intervenção foram mínimos. O IAP fez um relatório e o enviou à prefeitura delimitando onde as máquinas podem passar, onde é permitido depositar areia e quais atividades de manutenção podem ser realizadas no local. A Secretaria de Meio Ambiente de Matinhos foi procurada pela reportagem para falar sobre o caso, mas ninguém foi encontrado.
Sobre a sujeira nesses locais, o IAP informou que a responsabilidade da retirada do lixo do local é das prefeituras dos municípios, que têm recebido ajuda da Operação Verão na coleta de lixo e limpeza da orla e das restingas.
Projeto de engorda não saiu do papel
A ausência da vegetação nas areias de Matinhos é um dos motivos que levam a cidade a ter terrenos quase cobertos pela água do mar. Casas na beira-mar, próximas ao centro da cidade e ao Balneário Flo­­rida, que apresenta áreas com erosões avançadas, sofrem com a ameaça de ressacas. “A especulação imobiliária destruiu as restingas”, afirma o professor Angelotti.
A empresária Maria do Carmo Chemin de Oliveira, moradora da região, diz que se não houvesse pedras na areia, a água já teria avançado mais e destruído terrenos que ficam de frente para o mar. “Minha casa e a dos vizinhos está com o piso rachado”, diz ela, que participa do movimento Matinhos Pede Socorro.
Ela e outros moradores re­­clamam da demora na realização das obras para a revitalização da orla de Mati­­nhos. Um projeto, já aprovado, faria a “engorda” da praia entre os balneários de Caiobá e Flórida, áreas afetadas pela erosão. As obras, entretanto, dependem de um projeto de responsabilidade do governo do Paraná. “Esperamos isso por muito tempo e não temos resposta”, disse o também empresário João Carlos Bencz.
De acordo com o governo do Paraná, a demora para a concretização do projeto ocorre porque o governo anterior tinha apenas um projeto básico, que não englobaria todas as necessidades e estudos para as obras. Em novembro de 2011, o governador Beto Richa autorizou a liberação de verba para a contratação de uma empresa que fará os estudos necessários ainda este ano. Segundo o governo, o processo deve ser longo.

Fonte: Gazeta do Povo

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