Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Controle do mercado livre de energia deve elevar preços


Governo baixa portaria que exige mais previsibilidade do consumidor e dificulta contratos de fornecimento.

Uma nova norma para aumentar o controle sobre o mercado livre de energia, a portaria 455 do Ministério das Minas e Energia (MME), que entra em vigor em 1º de novembro, está levando ao mercado insegurança e expectativa de alta de preços.

O mercado livre de energia é o segmento alternativo ao mercado cativo, no qual os consumidores têm contrato fixo com um fornecedor. No mercado livre - ou Ambiente de Contratação Livre (ACL) -, grandes consumidores, como indústrias, compram energia para certo período. Ao fim do mês, depois que a energia é usada, verifica-se o consumo e os contratos são ajustados e registrados (ex-post).

Se gasta mais energia do que o contratado, o usuário também pode equacionar as contas com mercado spot (à vista), o PLD - preço de liquidação das diferenças, publicado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), que é somado a um ágio.

Há anos o mercado pede ao governo que permita a usuários vender os volumes comprados e que excedem ao usado. O tema foi tratado em audiência pública em março de 2010, mas ficou sem respostas.

Além de não resolver a questão, a portaria trouxe amarras. Ela determina que os contratos não podem mais ser registrados depois do uso (ex-post). Os registros deverão ser mensais a partir de 1º de novembro até 30 de junho de 2013, quando a frequência passa a ser semanal.

Na fase de transição - de registros mensais -, poderão ser feitas alterações, após a verificação do consumo, nos montantes registrados antes do uso.

A partir de julho, os ajustes são vedados. "Os montantes só poderão ser alterados antes do início da semana de entrega da energia. Se não podem fazer registros posteriores, os consumidores não podem ajustar os contratos conforme o consumo, como acontece hoje", diz Luis Gameiro, diretor da Trade Energy, uma das comercializadoras do setor. Significa que a compra será semanal e o usuário deverá estimar o consumo para fazê-la.

"Como os consumidores vão acertar em 100% o consumo que terão?", questiona Carlos Faria, presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace). "Máquinas quebram, pedidos são cancelados. O consumo pode subir porque está fazendo mais calor do que se previa e os shoppings têm de usar ar condicionado."

Um dos prováveis impactos da norma, devido à dificuldade em prever o volume exato a ser usado, é o incremento no preço spot, que poderá ser mais demandado, se as empresas contratarem volumes menores. "O ágio deve ficar mais alto por conta das incertezas", diz Chrispher Vlavianos, sócio-diretor da Comerc, que atua em comercialização e gestão de energia.

"O consumidor terá de fazer uma conta muito justa e, mesmo assim, acabará tendo um pouco a mais ou a menos."

"É muito ruim para o consumidor", avalia Marcio Sant` Anna, sócio-diretor da Econ Energia, outra comercializadora do setor. "Não vejo o valor da portaria, sem liberdade para vender o excedente, o que traria mais liquidez para o mercado."

Faria, da Anace, concorda: "Não há aumento da liquidez, mas de preços, pois os consumidores precisarão comprar volumes maiores para se garantir."

Consultor especializado em gestão de energia, Alexandre Furstenberger, da Andrade&Canellas, reforça: "No momento em que se fala em diminuir custos, vem uma portaria que traz incerteza e expectativa de aumento de preço, embora ainda não seja possível quantificá-lo. E até a própria incerteza já impacta nos preços."

Fonte: Brasil Econômico

Inflação na China avança e produção industrial recua


A produção industrial caiu para 8,9% em agosto, caracterizando o menor ritmo de expansão desde maio de 2009.

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) da China subiu 2% em agosto, em relação ao ano anterior.

Em julho, a inflação teve alta de 1,8%, conforme dados do Departamento Nacional de Estatísticas (NBS) divulgados no domingo (9/9) pela agência oficial de notícias Xinhua.

Os preços dos alimentos subiram 3,4% em agosto, refletindo o impacto de fortes chuvas e a alta nos preços globais de grãos, o que pressionou o indicador.

Tal resultado torna mais difícil para as autoridades chinesas equilibrarem o controle da inflação e o afrouxamento monetário em uma economia em desaceleração. 

Já os preços aos produtores (PPI) recuaram 3,5% em agosto, contra uma queda de 2,9% em julho.  

A produção industrial retraiu para 8,9% em agosto, ante 9,2% no mês anterior, caracterizando a taxa de expansão mais baixa desde maio de 2009.

As vendas no varejo, no entanto, subiram 13,2% no mês passado, frente a 13,1% em julho.

Balança comercial

O superávit comercial da China atingiu US$ 26,661 bilhões em agosto, valor 6,2% superior ao resultado de julho, quando a balança comercial ficou positiva em US$ 25,100 bilhões.

As exportações avançaram 2,7% no período em análise, enquanto as importações caíram 2,6%.

Fonte: Brasil Econômico

domingo, 9 de setembro de 2012

Expectativa com Fed conduz Ibovespa aos 59 mil pontos


Com o anúncio do Banco Central Europeu, de que irá comprar títulos dos países com problemas, cresce o otimismo com a atuação do chairman americano Ben Bernanke.

Após avançar 2,56% nesta quinta-feira (6/9), aos 58.321 pontos, amparado pelo anúncio de Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), o Ibovespa acumula alta de 2,21% na semana. O giro financeiro na sessão ficou em R$ 6,8 bilhões.

Pela manhã, Draghi disse que realizará compras ilimitadas de bônus da dívida soberana com vencimentos entre um e três anos, de países da Zona Euro que fizerem solicitação. No entanto, os países terão que aceitar as condições de austeridade impostas pela autoridade.

Diante do otimismo generalizado e expectativas com a possível flexibilização monetária nos Estados Unidos, chamada de QE3, que pode ser anunciada na quinta-feira (13/9), o principal índice da bolsa brasileira pode atingir a resistência (ponto que, se superado, indica a possibilidade de continuidade de movimento de alta da ação) de 59 mil pontos.

De acordo com o analista gráfico, Eduardo Matsura, da Souza Barros Corretora, "as chances são grandes de romper essa resistência, pois nesta semana rompeu os 57.700".

Com a valorização, a possibilidade de chegar no suporte (patamar que, se perdido, aponta para uma chance de queda em sequência), que está em 56.200, é quase nula.

Cenário externo

Na sexta-feira (7/9), feriado da Independência do Brasil, será divulgado os dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos. Em julho, houve criação de 163 mil vagas, acima do esperado pelo mercado. "Em outra ocasião, se o dado viesse ruim, os investidores comemorariam, prevendo que viria algum estímulo", aponta Rogério Freitas, sócio da Teórica Investimentos.

No entanto, ele afirma que no último discurso de Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), o chairman mudou sua postura e deixou claro que irá atuar mesmo se o mercado mostrar melhora na recuperação.

A consultoria Briefing.com espera que sejam criados 130 mil vagas, já o Bradesco aponta para 120 mil postos em agosto. Ambas instituições acreditam na estabilidade da taxa de desemprego, a 8,3%.

Na Europa, apesar de indicadores importantes, como a produção industrial na Zona do Euro, o mercado deve continuar digerindo o anúncio do presidente do BCE. Porém, o movimento de correção deve prevalecer, diante da alta esticada.

Na quarta-feira (12/9), haverá votação na corte alemã para decidir o futuro dos empréstimos aos países necessitados. "A Alemanha ainda está bem reticente em ceder e colocar mais dinheiro na Zona do Euro, mas vemos que está numa posição que algo precisa ser feito", afirma Marcelo Varejão, analista da Socopa Corretora.

China

No final de semana, serão publicados a produção industrial e as vendas no varejo na China. Dependendo do resultado, as ações de empresas brasileiras ligadas a commodities podem ser penalizadas.

Na opinião de Freitas, a China é o único país que está fazendo políticas a longo prazo. "O governo está mudando o perfil de exportador para ficar mais focado no mercado doméstico e não depender do resto do mundo", analisa.

O modelo de crescimento é bem visto, com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 4% e 5% nos próximos anos, sustentado pelo consumo interno.

"As empresas que se beneficiaram do boom das commodities na China, como a Vale e as siderúrgicas, terão que se adaptar à nova fase. Se os dados vierem ruins, será bom para os chineses, que querem focar no mercado interno", destaca o sócio.

No Brasil

Logo na segunda-feira (10/9), o mercado vai acompanhar o Índice de Preços ao Consumidor Semana (IPC-S). Além disso, na quarta-feira (12/9), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística informará a pesquisa mensal de emprego no país.

Para fechar a semana, na sexta-feira (14/9), o Banco Central divulgará a prévia da atividade econômica de julho, com expectativa de alta de 0,40%, contra aumento de 0,75% no mês anterior.

Em relação ao mercado acionário, Freitas não aposta na compra das ações das empresas ligadas ao setor de siderurgia, que foram fortemente beneficiadas nesta semana diante do pacote do governo de elevar impostos de 100 produtos importados. "Os papéis estão muito caros e com excesso de confiança, o que pode ser um problema", pontua.

Por outro lado, Matsura acredita que ainda há espaço para as ações da Usiminas (USIM5) crescerem, pois já rompeu uma resistência e está encostando na próxima, que é de R$ 9,64. Se ultrapassar, o valor vai para R$ 11,30. No pregão de hoje, o papel finalizou com avanço de 0,74%, vendida a R$ 9,54.

Fonte: Brasil Econômico

Com risco inflacionário, BC pode afrouxar controle


Além da dinâmica de preços, eventos econômicos previstos, interna e externamente, apontam para recuo na cotação da divisa americana nos próximos meses.

Os recentes dados de inflação, ainda que não venham apresentando forte aceleração, encontram-se em patamares elevados, e qualquer repique de alta fará o mercado ligar o sinal de alerta.

Caso isso aconteça, o Banco Central (BC) pode permitir que o dólar volte a operar abaixo dos R$ 2,00 para conter a alta dos preços.

"A inflação está estagnada, mas em um patamar muito elevado, qualquer curva pra cima vira desespero. Talvez o BC permita que o dólar caía um pouco mais, abaixo dos R$ 2,00, e volte a utilizar o câmbio como instrumento para contenção dos preços", pondera Ovídio Soares, operador de câmbio da Interbolsa do Brasil, que não descarta a cotação do dólar em torno de R$ 1,90 no médio prazo.

Com o real mais valorizado, aumentam as dificuldades para o exportador vender seu produto no mercado internacional, elevando a oferta no próprio país.

Soma-se a isso um cenário de menores vendas por parte dos empresários brasileiros, que pode levar a uma redução no quadro de funcionários, o que, por sua vez, reflete em queda da demanda, também contribuindo para o controle de preços.

"É uma possibilidade, o governo Lula sempre fez isso", observa o especialista.

A expectativa por uma nova rodada de estímulos nos Estados Unidos, caso venha a ocorrer efetivamente, irá inundar de liquidez as praças mundiais, e é outro fator que tende a pressionar negativamente a cotação da divisa americana.

Na quinta-feira (6/9), com dados positivos vindos dos Estados Unidos, e a confirmação do programa de compra de títulos do Banco Central Europeu (BCE), o dólar caiu 0,53% frente ao real, negociado a R$ 2,029 para venda.

"O dólar só não caiu mais porque na sexta (7/9) é feriado no país, e é quando sai um dado super importante (taxa de desemprego americana), então o pessoal não está querendo ficar muito vendido", afirma Soares.

Nesta semana que se encerra mais cedo para o mercado doméstico pelo feriado da Independência, tivemos o que pode ser o início da temporada de captação externa das empresas brasileiras, capitaneada pela República e pela Vale, tradicionalmente players que abrem a porteira para outros setores irem em busca de capital mundo afora.

"O Brasil ainda é um ímã de atração de dólar, mesmo com a queda da taxa de juros", observa Soares.

Além disso, a taxação de 100 produtos importados anunciada pelo governo irá fazer com que os produtos nacionais ganhem competitividade, o que pode levar os produtores a irem vender suas mercadorias no exterior, trazendo ainda mais dólar para dentro do território nacional.

"O dólar só não bateu em R$ 1,00 porque o BC entrou muitas vezes", diz o operador da Interbolsa.

Fonte: Brasil Econômico

BC busca balizar expectativas de juros em 2013


O BC não escondeu que o cenário para inflação piorou no curto prazo, mas tentou acalmar as expectativas em relação ao ano que vem.

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) mostrou um Banco Central (BC) preocupado com a alta nas expectativas de inflação e juros em 2013.

Para este ano, a autoridade monetária repetiu o conteúdo do comunicado da decisão, dizendo que, caso seja realizado uma redução nos juros, a medida será tomada com "máxima parcimônia".

O mercado entendeu a declaração como um sinal de que, se o BC decidir por um novo corte nos juros, este será de 0,25 ponto percentual, e não mais de 0,5 ponto como vinha fazendo desde maio.

Além disso, a afirmação sugere que o Copom aguardará os próximos indicadores para decidir se fará ou não um novo corte. Dessa forma, o mercado continua dividido entre os analistas que preveem um corte de 0,25 ponto e os que acreditam que o ciclo de redução de juros está encerrado.

"O Copom confirmou o comunicado da decisão sem reforçá-lo. Os analistas continuaram com a mesma percepção que tinham antes da ata", diz Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil.

Para a LCA Consultores, o mais provável é que o ciclo de redução nos juros tenha se encerrado, embora não esteja descartado um corte extra. Também para o Banco Espírito Santo, o cenário base é de que os juros sejam mantidos em 7,5% daqui para frente.

Na visão da corretora Concordia, na próxima reunião a autoridade monetária vai realizar uma última redução de 0,25 ponto. A mesma previsão tem a Austin Rating e o Bank of America Merrill Lynch.

"O atual ciclo de afrouxamento monetário pode ter se encerrado em agosto, ou está há apenas um passo de acabar; os próximos dados dirão", resumem, em relatório, os analistas Alethea Batista, Giovanna Bambicini e Alberto Ramos, do Goldman Sachs.

O BC não escondeu que o cenário para inflação piorou no curto prazo, mas tentou acalmar as expectativas em relação ao ano que vem.

"O Copom reafirma sua visão de que a inflação acumulada em doze meses, que começou a recuar no último trimestre do ano passado, tende a se deslocar na direção da trajetória de metas, de forma não linear", diz o documento.

O trecho foi incluído nesta ata, após o impacto da alta dos alimentos nos últimos índices de inflação.

Dessa forma, ao mesmo tempo em que o BC sinaliza que o corte de juros está perto do fim, a autoridade monetária tenta convencer o mercado de que essa baixa nos juros não será revertida no ano que vem.

"O Copom tenta passar a ideia de que não terá necessariamente que subir os juros em 2013", diz Leal. "Se os juros sobem na parte mais longa, isso reduz o alcance do corte na Selic."

"O BC mostra que não está preocupado com a inflação, e não tem pressa em sinalizar o início do ciclo de alta", afirma, em relatório, David Beker, estrategista de renda fixa do Bank of America.

Contudo, a reação dos mercados à ata era quase neutra. Os contratos de depósito interfinanceiro de um dia (DI de um dia) para janeiro de 2013, os mais negociados, tinham alta de 0,01 ponto percentual, a 7,280% ao ano. Para janeiro de 2014, o DI avança 0,01 ponto, a 7,810%.

"Esperamos que a divergência entre a inflação e a meta fique cada vez mais evidente ao longo de 2013, e mantemos nossa projeção de que é provável uma reversão na política monetária no ano que vem", afirmam, em relatório, Jankiel Santos e Flávio Serrano, do Banco Espírito Santo.

Fonte: Brasil Econômico

Bom hoje, péssimo no futuro

Segundo economistas, o estímulo ao consumo que garantiu o crescimento do PIB no segundo trimestre não é viável no longo prazo.

Quando a situação econômica aperta, o governo sabe que pode contar com os brasileiros. Os dados do Produto Interno Bruto (PIB), divulgados no fim de agosto, confirmam: não fosse pelo consumo das famílias – uma conta que engloba os gastos das pessoas físicas –, a economia do país não teria crescido.
Segundo o Instituto Bra­­sileiro de Geografia e Esta­tística (IBGE), esse consumo subiu 2,4% no período entre abril e junho e compensou, com sobras, perdas ocorridas em outras áreas. Por trás desse crescimento está um mecanismo de incentivos cujo gatilho foi acionado em maio, e que inclui redução de impostos para setores selecionados (eletrodomésticos, automóveis e material de construção) e redução de encargos para financiamentos. Embora tenha salvado o país de uma possível recessão, o estímulo ao consumo não é unanimidade entre os economistas. Há entre eles o temor de que o uso contínuo desse remédio traga novas ameaças à saúde do paciente Brasil.
Arriscar um pouco faz bem ao país
O dinheiro poupado pelos brasileiros se transforma em crescimento econômico quando é investido. “Nós estamos pensamos em poupar apenas recebendo juros”, diz Fábio Araújo, da consultoria Brain. “Devíamos nos acostumar com um pouco mais de risco.”
Os juros, quase sempre, são pagos pelos títulos do governo, com baixo risco. Eles estão caindo: há dez dias, o Copom reduziu a taxa de referência, a Selic, ao seu menor nível histórico, 7,5% ao ano. Quem quiser receber mais precisa se expor aos títulos privados – que, como diz Araújo, agregam um pouco mais de risco. Estão incluí­das aí as ações e papéis como debêntures. “Você pode até não comprar esses títulos diretamente, mas os bancos compram e eles vão para fundos em que as pessoas físicas investem”, explica.
Recursos levantados dessa forma alimentam os investimentos das empresas. E o país precisa deles. “Para ampliar o crescimento, o lógico seria gastar em infraestrutura”, observa o professor José Guilherme Vieira, da Universidade Federal do Paraná. “Os planos recentes que o governo anunciou, focados na área de logística, são insuficientes.”
Vieira lembra que várias pesquisas sobre o ambiente para negócios apontam o Brasil como um país “burocrático, um tanto corrupto e caro pelo ponto de vista trabalhista e tributário” – aliada à questão logística, a frase serve como uma síntese do que se costuma chamar de “custo Brasil”, ou seja, aquele conjunto de variáveis que faz com que produzir aqui seja mais caro que em outros países. Trabalhar para corrigir falhas nessa área seria um bom começo para destravar o crescimento. “São medidas microeconômicas que poderiam melhorar as condições de competitividade do Brasil”, diz.
As empresas também tiram do consumo o seu lucro – afinal, as mercadorias compradas em concessionárias, lojas e mercados precisam ser fabricadas em algum lugar – e podem financiar com ele seus investimentos. Mas muitos economistas acreditam que essa fonte está secando. “As medidas de estímulo ao consumo que o governo tomou neste ano são semelhantes às de 2009, mas desta vez foram menos eficientes”, comenta Vieira. “É como um remédio que perde a força porque o corpo do paciente já está acostumado a ele.”
Debêntures e outros títulos privados ajudam as empresas a financiar seus investimentos. A remuneração desses papéis costuma ser um pouco superior aos títulos do governo, porque embutem maior risco.
Ninguém nega que as medidas eram necessárias, dado o ambiente de crise que se instalou com o calote da dívida da Grécia e a fraqueza geral das economias do hemisfério Norte. A questão está na falta de estímulo à poupança, que é vista como a reserva de recursos que vai financiar o crescimento nos próximos anos. “Os grandes condutores do desenvolvimento devem ser o investimento e a exportação. E não se faz isso sem poupança”, resume o professor Lucas Dezordi, coordenador do curso de Economia da Universidade Positivo.
A variável-chave, então é a taxa de poupança (que, simplificando, equivale ao porcentual do PIB que o Brasil produz, mas não gasta). A do Brasil está na casa dos 17% – um terço da taxa da China e pouco mais da metade da registrada no Chile, por exemplo. “Nosso problema de crescimento está relacionado à nossa baixa taxa de poupança que, ao contrário de outros países, não acompanha o crescimento”, escreveu o economista Mansueto de Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em um artigo recente sobre o assunto. Ou seja: o país gera mais riqueza, mas ela é direcionada ao consumo e não ao investimento.
Nos últimos anos, o governo tomou algumas medidas que favorecem a poupança: regulamentou novas formas de investimento, como, por exemplo, os Certificados de Recebíveis Imobiliários; reduziu os limites para aplicação no Tesouro Direto; e emitiu títulos por meio da BNDESPar, braço do banco estatal BNDES para participação em empresas privadas, entre outras medidas.
“Todo formato de título ou aplicação financeira que seja interessante para o investidor é uma forma de estimular a poupança”, define Fábio Araújo, professor da PUCPR e sócio do escritório de consultoria Brain Bureau de Inteligência Corporativa. Faltou, entretanto, uma política pública, programada e planejada para incentivar o cidadão a guardar dinheiro. Por outro lado, empresas interessadas em vender investem fortunas em publicidade e, nos últimos tempos, têm contado com o apoio do governo para reduzir os preços. Assim a concorrência pelos reais das famílias brasileiras se torna desigual.
Para Lucas Dezordi, da Universidade Positivo, alguns indicadores demonstram a falta de fôlego de setores da economia nacional, provocada pela ausência de poupança. É o caso da indústria de transformação, que vem perdendo importância no PIB. “É um setor que precisa de investimento para se manter atualizado e competitivo”, diz. “E a cada medida que libera o crédito, o governo dá mais um passo na direção de destruir uma estratégia de longo prazo.”

Fonte: Gazeta do Povo

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Cidade da China vai restringir carros novos


É tão surpreendente como se Detroit ou Los Angeles decidissem restringir a propriedade de carros.

O governo municipal de Guangzhou, uma grande metrópole que é um dos centros da produção automobilística chinesa, introduziu mecanismos de leilão e sorteio de placas de licença na semana passada, com o objetivo de reduzir à metade o número de carros novos nas ruas.

As medidas restritivas da terceira maior cidade chinesa são as mais severas entre as ações tomadas pelas grandes cidades da China que vêm priorizando as questões de qualidade de vida ante o crescimento econômico em curto prazo, algo que o governo central enfrenta dificuldades para realizar em escala nacional.

As medidas têm o potencial de ajudar a limpar a água e ar notoriamente sujos da China, reduzir os custos de saúde e melhorar a qualidade do crescimento chinês em longo prazo.

Mas também impõem custos de curto prazo, dizem os economistas, em um momento no qual as autoridades de Pequim e de todo o mundo já estão preocupadas com a acentuada desaceleração econômica da China.

"É claro que, do ponto de vista do governo, estamos abrindo mão de certo crescimento, mas conseguir saúde melhor para todos os cidadãos certamente vale o preço", disse Chen Haotian, vice-diretor da principal agência de planejamento de Guangzhou.

Nanjing e Hangzhou, no centro-leste da China, estão adotando medidas para exigir gasolina e diesel menos poluentes. Cidades próximas da costa, como Dongguan e Shenzhen, no sudeste, Wuxi e Suzhou, no centro, e Pequim, no norte da China, estão forçando fábricas poluentes a fechar as portas. E Xi'an e Urumqi, no noroeste, estão proibindo a circulação e recolhendo compulsoriamente os carros construídos antes de 2005, quando as regras quanto a emissões de poluentes automobilísticos eram menos severas.

"Existe um reconhecimento de que o crescimento a qualquer custo por fim se tornou insustentável", diz Bem Simpfendorfer, diretor executivo da Silk Road Associates, uma consultoria de Hong Kong.

Diante da pressão do público pelo combate à poluição e congestionamentos de trânsito, governos municipais de toda a China têm enviado delegações a Guangzhou. Mas o governo nacional em Pequim pressiona contra novas restrições a automóveis, porque se preocupa com a saúde do grande setor automobilístico, disse An Feng, assessor sênior das autoridades centrais de transporte, em Pequim.

"Isso realmente se tornou uma batalha", disse An.

O governo municipal de Pequim começou a limitar a concessão de novas placas de licença no final do ano passado, quando a economia corria risco de superaquecimento, mas Guangzhou foi a primeira cidade a agir em meio à atual desaceleração. Por conta da insatisfação do público com relação ao tráfego, Guangzhou também criou um extenso sistema de metrô nos últimos anos, além de diversos parques e um renomado teatro de ópera.

As iniciativas do governo local não são a principal causa das dificuldades econômicas da China. O governo restringiu o crédito um ano atrás, como parte de um esforço bem sucedido de contenção da inflação, mas isso privou muitas das pequenas e médias empresas do país de crédito.

Outros problemas econômicos, mais amplos, vêm se acumulando há anos. Entre eles estão o excesso de capacidade da indústria e os monopólios exercidos por muitas empresas estatais, além da alocação ineficiente de empréstimos.

Mas, por enquanto, o peso crescente da regulamentação dos negócios vem servindo para reforçar a tendência a um crescimento mais lento, dizem os economistas.

"É por isso que acho que a desaceleração deve ser uma tendência, em lugar de apenas um ciclo de curto prazo", diz Xiao Geng, diretor de pesquisa do Fung Global Institute, em Hong Kong.

As fábricas poluidoras forçadas a fechar as portas nas cidades cada vez mais afluentes do sudeste da China não têm conseguido licença para transferir suas atividades a cidades mais pobres no oeste e norte do país a menos que instalem dispendiosos equipamentos de controle de emissões, disse Stanley Lau, vice-presidente da Federação das Indústrias de Hong Kong, organização setorial que representa industriais responsáveis por 10 milhões de empregos na China continental.

"Não existe sinal de que esses custos se reduzirão com a desaceleração no mercado", disse.

Alguns executivos na China se queixam dos crescentes custos de regulamentação, especialmente porque as novas regras locais coincidem com um momento de alta de salários. Os críticos das medidas nos círculos empresarias afirmam que um ciclo de desaceleração pode não ser o momento certo para que a China abandone a corrida desenfreada pela prosperidade em que se engajou nas três últimas décadas.

Mas embora as medidas locais possam limitar o crescimento em curto prazo, são parte de uma transição mais ampla. A China não é mais apenas uma economia em desenvolvimento que pratica uma forma especialmente crua de capitalismo, embora se mantendo comunista em aparência. O país está se tornando uma moderna economia industrializada cujos líderes cada vez mais ouvem a opinião pública e buscam balancear o meio ambiente, o bem-estar social e muitas outras questões, em sua busca de crescimento econômico.

A questão é determinar que grau de sofrimento será imposto à China em curto prazo, na forma de crescimento mais lento e custos mais altos, a fim de criar uma economia mais balanceada e sustentável.

Ma Jun, diretor do Instituto de Assuntos Públicos e Ambientais, um grupo ambiental em Pequim, disse que as autoridades locais desenvolveram mais interesse pelas questões ambientais a partir do ano passado, depois de grandes manifestações de rua contra fábricas poluentes em cidades como Dalian, Shifang e Qidong. Em cada um dos casos, as autoridades locais concordaram em suspender a construção de fábricas ou fechá-las, depois de se tornarem objeto de ridículo local e nacional.

Bernadette Brennan, advogada sênior no escritório do Conselho de Defesa dos Direitos Naturais em Pequim, disse que depois de três décadas de experiência na China, no ano passado começou a ver verdadeira mudança. Em lugar de resistir à pressão por medidas de combate à poluição, afirma, as autoridades municipais começaram a solicitar conselhos de sua organização sobre como melhorar.

Medir os benefícios ambientais das políticas alteradas é difícil.

Uma série de tufões dificulta as comparações sobre a qualidade do ar na China este ano ante anos anteriores, disse Alexis Lau, diretor do centro de pesquisa atmosférica da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong. Em Guangzhou, as emissões de ampla gama de poluentes chegaram a um pico em 2007 e 2008 e recuaram em 2009 e 2010 devido a uma queda no crescimento econômico. As emissões começaram a subir de novo em 2011, com o retorno do crescimento, mas não retornaram aos níveis de 2008.

A poluição por unidade de PIB (Produto Interno Bruto) claramente caiu, disse Lau. As emissões de dióxido de enxofre, prioridade nas questões de poluição chinesa nos últimos anos devido à sua influência sobre a chuva ácida, se reduziram em todo o país, mas especialmente em Guangzhou, uma cidade de 15 milhões de pessoas, se computados os migrantes.

A dependência do governo local quanto à venda de terrenos para incorporação, como fonte de receita, pode limitar a disposição de alguns governos municipais para confrontar empresas. Mas os governos municipais também são donos de muitas das empresas que operam nessas cidades, o que faz com que as companhias pensem duas vezes antes de contestar medidas quanto à restrição na concessão de novas placas para automóveis.

"As montadoras de automóveis são propriedade do governo", diz Chen, que dirige um Toyota Camry montado em Guangzhou. "As companhias automobilísticas têm de obedecer ao governo".

Ele acrescentou que "para que precisamos de PIB se não tivermos saúde?"

Fonte: Folha de São Paulo