Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

domingo, 15 de julho de 2012

Sombras do mundo que se vai

Para pesquisador, um novo modelo econômico baseado na conectividade está sendo gerado em plena crise global.


O indiano-americano Parag Khanna é um intelectual peculiar, que alia a sólida bagagem acadêmica à mochila de viagem com que visita sociedades e culturas sobre as quais escreve. Nas "pesquisas de campo" que fez por mais de cem países, Khanna - que tem apenas 35 anos - pratica, além de seu hindi nativo, o inglês, francês, alemão e espanhol que fala com fluência, além de "um árabe básico". E coteja os conhecimentos adquiridos em seu doutorado na London School of Economics e em seu mestrado na School of Foreign Service da Universidade Georgetown com as informações sutis de um futuro ainda em gestação no mundo.

Não é difícil entender por que esse "acadêmico aventureiro", como já foi chamado pela imprensa norte-americana, define a si próprio como um geoestrategista. Pesquisador sênior e diretor da Iniciativa de Governança Global da New America Foundation e membro do European Council on Foreign Relations, Khanna foi recrutado como conselheiro pelas Forças Armadas dos EUA na tentativa de desatar o nó das campanhas militares no Iraque e no Afeganistão. E integrou, como consultor para assuntos de política externa, a equipe da campanha vitoriosa de Obama à presidência.

Com dois livros publicados no Brasil pela editora Intrínseca, O Segundo Mundo - Impérios e Influência na Nova Ordem Global (2008) e Como Governar o Mundo - Os Caminhos para o Novo Renascimento (2011), ele acaba de lançar nos EUA, em parceria com sua mulher Ayesha (economista e doutora em Sistemas de Informação pela London School), Hybrid Reality. A trilogia consolida sua visão de um mundo dominado por três grandes impérios, os EUA, a União Europeia (UE) e a China, mas cujos parâmetros de desenvolvimento foram modificados pela velocidade das trocas tecnológicas em uma era de conectividade global.

Na entrevista a seguir, o pensador, eleito uma das 75 "pessoas mais influentes do século 21" pela revista Esquire, vê o mundo convulsionado pela mais violenta crise econômica desde o pós-guerra com lentes voltadas para o que vem depois. "Esta não é uma crise global", sentencia sem medo Parag Khanna, para quem, apesar dos efeitos no até então intocado motor dos Brics, a China revela em sua resiliência que os chamados mercados emergentes vieram para ficar. E que a transformação em curso, na direção de uma "Era Híbrida" de seres humanos cada vez mais conectados entre si e com as máquinas, vai subverter consideravelmente a hierarquia de poder global.

"A tecnologia dirige a economia, não o contrário", provoca o acadêmico aventureiro, que vê no novo cenário não só um potencial de recuperação dos países ricos, como um universo de novas possibilidades para os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil. Eis a nota otimista do diagnóstico que Khanna faz da crise a que assistimos hoje, contra a qual pouco adiantam os velhos mecanismos de fomento econômico e de nada vale a emulação nostálgica do antigo sonho americano: "A imensa inovação em curso nas tecnologias da informação, na biotecnologia, nanotecnologia, robótica, nas fontes de energia alternativas, está criando possibilidades econômicas para muito mais gente no mundo que em qualquer outra época".

O PIB chinês desacelerou, a Itália segue a Espanha no pedido de ajuda à UE e a economia americana continua na lona. O que esperar do mundo neste início de século 21?

Conforme escrevi em O Segundo Mundo há alguns anos, o mundo no século 21 será sustentado por três grandes impérios - os EUA, a União Europeia e a China. Isso não significa, no entanto, que cada um desses três não seja frágil. A retomada americana é muito dependente de estímulos econômicos e do potencial de descobertas de reservas de gás de xisto baratas. A UE nem se recuperando está, embora a crise econômica esteja forçando o bloco a tomar medidas necessárias e progressivas na direção de uma união mais forte. Já a China é considerada um pesadelo estatístico, com dados econômicos nos quais não se pode confiar, mas não acredito que vá ocorrer uma "aterrissagem forçada". A desaceleração do crescimento em função do comércio externo do país será compensada pelo crescente número de chineses que entram no mercado de consumo e na classe média. Mantendo a inflação controlada e a moeda fraca, a China será capaz de manter seu crescente progresso material enquanto retoma a competitividade no comércio exterior. Continuo acreditando que os três serão as superpotências mundiais no século 21, e não ainda a Índia, por exemplo.

Quando o economista Jim O’Neill cunhou, em 2001, a expressão Brics, anunciando a transferência do poder econômico global do G7 para os países emergentes, não podia adivinhar o impacto que teria a crise financeira de 2008, seguida por essa que se abateu sobre a zona do euro. O tranco pode inviabilizar os países emergentes?

O termo Brics surgiu de uma expressão crucial: mercados emergentes. A categoria "mercados emergentes" é bem mais ampla e compreende muito do que eu chamo de "segundo mundo". Por ser tão aberta e conter trajetórias tão diferentes, é difícil resumi-la em uma frase. Mas a ideia sugeria desde o princípio que certos países tenderiam a emergir, como o Brasil e a Malásia, enquanto outros iriam fatalmente cambalear, como a Venezuela e a Líbia. E o fato é que, neste exato momento, os mercados emergentes têm feito um bom trabalho para amenizar os efeitos da crise financeira de 2008 e da crise na zona do euro. Eles continuam a crescer, embora mais modestamente. Existe neles um certo grau de descolamento, que vejo como um forte sinal da emergência desses mercados e de um outro padrão de investimentos.

No Brasil, a desaceleração da previsão do PIB para este ano causa grande preocupação. Ainda mais levando em conta os problemas da China, tida como 'motor' dos Brics...

De novo, essa não é uma crise global, embora todos os países tenham fatores de risco com que se preocupar. O fato de a economia chinesa estar desacelerando não deveria espantar ninguém, tendo em vista as taxas de crescimento que o país apresentou nas últimas três décadas. E o fato de a China ainda exibir taxas bastante distintas das americanas e europeias mostra quanto o país foi capaz de estreitar laços com outras regiões, como a África, o Oriente Médio e a América Latina, e manter em bom nível suas exportações.

A crítica às políticas de austeridade para combater a crise têm crescido na Europa, especialmente após a vitória de François Hollande na França. Em uma região onde 4,5 milhões de pessoas deverão perder seus empregos nos próximos quatro anos, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), austeridade é a solução?

Austeridade e disciplina são coisas diferentes. Eu acredito na disciplina, mas não em austeridade em contexto de desemprego tão alto. Mas essa disciplina de que estou falando requer visão estratégica para os próximos anos, o que os países periféricos da zona do euro ainda não demonstraram.

Apesar disso, a leitura de Hybrid Reality transparece otimismo. O que o sr. e sua mulher, que também assina o livro, estão vendo que ninguém mais parece estar?

Estamos olhando não para questões de crescimento econômico no curto prazo, mas para as trocas e rupturas tecnológicas de médio e longo prazo. A tecnologia dirige a economia, não o contrário. A imensa inovação que está em curso nas tecnologias da informação, na biotecnologia, nanotecnologia, robótica, nas fontes de energia alternativas e em outras áreas - e na combinação de todos esses campos - está criando novas possibilidades econômicas para muito mais gente no mundo do que em qualquer outra época. Ao contrário do que se pensa, a tecnologia tem criado de longe muito mais empregos do que destruído.

Por que o sr. diz que a civilização humana necessita hoje menos de QI (quociente de inteligência) e QE (quociente emocional) do que de QT, quociente tecnológico?

Porque a tecnologia está evoluindo e se espraiando rapidamente no mundo. O que distingue as sociedades hoje não é tanto a renda ou o sistema político, mas o grau de acesso e domínio da tecnologia. As sociedades que estiverem à frente da curva tecnológica e educarem suas populações a permanecerem empregadas em um ambiente globalmente competitivo vão permanecer estáveis e prósperas. O que requer quociente tecnológico, a capacidade de se adaptar à mudança tecnológica, não apenas a uma rotina conhecida.

Mas em um mundo economicamente tão desigual é possível acreditar nisso? Ou o que o sr. chama de 'Era Híbrida' chegará apenas para uns poucos e privilegiados países?

A Era Híbrida está chegando para todos. Aqui está o mais simples e profundo exemplo: os trabalhadores chineses, que formaram o "chão de fábrica" global, estão agora ameaçados pela automação robótica. A FoxConn (companhia chinesa responsável pela montagem de produtos de alta tecnologia, como iPhones e iPads) planeja introduzir mais de 1 milhão de robôs em suas fábricas. E também este fato: o celular é a infraestrutura mais penetrante e disseminada da história da humanidade. Em dez anos, todas as pessoas na Terra terão um aparelho celular. Em cima dessa rede, poderão ser desenvolvidas outras tecnologias, como contas bancárias via celular e telemedicina. Esses são fenômenos do que chamamos de Era Híbrida - algo que atinge tanto os mais ricos do mundo, que terão acesso a órgãos artificiais e todo o tipo de privilégios futuristas, quanto os mais pobres.

Mas para os pobres não seria apenas um modo mais sofisticado de consumir produtos produzidos em nações ricas? É difícil imaginar o cidadão de um rincão longínquo da África ou da América Latina tomando parte ativa nessa nova economia tecnológica globalizada de que o sr. fala.

Na verdade, as vendas de produtos que mais crescem na África hoje são de bens de baixo custo oriundos da China e da Índia. Então, você pode perceber como são importantes hoje os fluxos entre países em desenvolvimento - mais do que de países "ricos" para "pobres". Além disso, muita inovação tem surgido nos emergentes, como os celulares movidos a energia solar, por exemplo. Sem falar no fato de que tecnologias como o tablet estão difundindo rapidamente a literatura em países como Ruanda e Camboja. Então, a Era Híbrida também tem o potencial de reverter as dinâmicas hierárquicas de dominância econômica ocidental.

O sr. foi consultor da campanha presidencial de Barack Obama. Como avalia o desempenho dele até agora?

Esses quatro anos, evidentemente, foram uma decepção. Foi um mandato que passou rapidamente, deixando um pequeno progresso na saúde financeira do país e pouco - ou nenhum, eu diria - sucesso na política externa. Claro que as condições em que ele assumiu foram terríveis, quase as piores imagináveis.

Acha que Obama será reeleito?

Espero que seja, mas que sua performance dessa vez seja melhor, e seu governo, capaz de formular políticas de longo prazo mais criativas e eficazes. A administração Obama ainda carece de uma grande estratégia, o que é especialmente problemático em relação à política externa.

Em um livro recentemente lançado no Brasil, Éramos Nós - A Crise Americana e como Resolvê-la, o jornalista Thomas Friedman e o professor Michael Mandelbaum lamentam o fim do 'sonho americano' mas acreditam que o sistema político do país será capaz de retomar seu peso histórico. O sr. concorda?

Eu já refutava esse argumento no Segundo Mundo. Não podemos simplesmente esperar por uma renovação geracional baseada nas conquistas do pós-guerra na metade do século 20. Ela não vai ocorrer. O que precisamos é de um consenso político e de políticas de investimento doméstico sensatas. Isso não está acontecendo. Eu prefiro uma mudança substantiva ao apego a esse tipo de nostalgia.

E até que ponto potências tradicionais e emergentes, como os EUA, a Índia e a China, por exemplo, estão preparadas para essa nova era de conectividade e inovação compartilhada que o sr. antevê?

Não há uma resposta comum na preparação de nações tão diversas. Ayesha e eu chamamos essa capacidade de se adaptar às novas tecnologias de "technik". Os EUA são grandes inovadores e criadores de tecnologias, mas estão ficando para trás na difusão de penetração de internet de banda larga no país e também na educação científica dos jovens. A Índia, embora muito pobre, tem leis sofisticadas no que diz respeito ao "direito à informação" que demonstram uma impressionante technik.

E o Brasil? O que deve fazer para garantir uma boa inserção nessa nova era?

O Brasil está diversificando sua economia e investindo em energias alternativas, biotecnologia e outras áreas. Avanços já são visíveis na agricultura, em alguns setores manufatureiros, na área da construção civil e no turismo. Tudo isso é importante para impulsionar o emprego e aperfeiçoar a infraestrutura do país. Sem uma boa infraestrutura é bem mais difícil absorver as novas tecnologias sistematicamente, como será necessário. Essa é uma estratégia inteligente na escalada aos setores-chave de liderança no futuro. Sem exagero, vejo o Brasil em condições de igualdade de poder com os EUA na Era Híbrida.

Fonte: O Estado de São Paulo

sábado, 14 de julho de 2012

O pesadelo da imobilidade urbana: até quando?


Por Marcos Pimentel Bicalho*  

No final do ano passado, na abertura da reunião do Fórum Nacional de Secretários de Transporte, em João Pessoa, o Governador da Paraíba, em sua fala, disse, mais ou menos literalmente a seguinte frase: “as políticas do Governo Federal de incentivo à indústria automobilística, ainda que tenham tido efeito benéfico para a economia, foram desastrosas para as cidades brasileiras”.

De fato, a concessão de incentivos fiscais para a produção de automóveis foi uma das principais medidas do Governo para enfrentar, com sucesso, a crise econômica mundial de 2009, e continua sendo peça importante das ações que visam manter aquecida a economia nacional. Porém, a que custo?

O Governador se referia aos congestionamentos, a parte mais visível do problema. Perdas econômicas, para as cidades, e deterioração da qualidade de vida, para a população, antes sentidas apenas nas grandes metrópoles, se tornaram parte do cotidiano de todas as cidades médias, e até de menor porte, guardadas as devidas proporções, é claro.

Outros graves problemas também decorrem do modelo de transporte abraçado pelo país, mais intensamente a partir da segunda metade do século passado: consumo de energia, poluição e acidentes de trânsito também são externalidades das políticas de mobilidade que moldaram o Brasil para e pelo transporte rodoviário, e as cidades para os automóveis.

O sonho de modernidade do século XX se transformou no pesadelo da imobilidade e, mesmo para a minoria que tem acesso aos automóveis, este modelo dá sinais claros de esgotamento. Se, no início, ter um carro conferia ao seu proprietário pleno acesso a todas as oportunidades da vida urbana, em comparação com as condições dadas àqueles que usam os meios de transporte coletivo, hoje, esta garantia não existe mais. Ainda que em condições mais vantajosas, os usuários do transporte individual também sofrem hoje para se deslocar, presos nos congestionamentos que eles mesmos provocam.

Se sofrem os privilegiados, padecem ainda mais aqueles que dependem do transporte público, preteridos nos incentivos fiscais, ignorados nos investimentos públicos e abandonados na gestão cotidiana do espaço público de circulação.

O Brasil pratica uma política de Robin Hood às avessas: há mais subsídio para a produção de automóveis do que de ônibus; o preço da gasolina, que movimenta os automóveis, é mantido congelado, enquanto sobe o do óleo diesel, que move a quase totalidade do transporte coletivo urbano; e bilhões são gastos em obras viárias (duvidosas) direcionadas para a inalcançável meta de “desafogar o trânsito”, enquanto que investimentos em metrôs e corredores de ônibus não saem do papel.

Esforços inúteis! Obras viárias faraônicas, cada vez mais caras, prometidas como solução para os problemas do trânsito, têm vida útil cada vez mais curta, quando já não são inauguradas saturadas, em função do vertiginoso crescimento da frota de automóveis, e, mais recentemente, de motocicletas, em circulação.

Não há solução para o deslocamento diário de grandes quantidades de pessoas que não seja o transporte público, de qualidade e a preços acessíveis, para a população. Mais do que nunca são necessários investimentos continuados, dos três níveis de governo, na expansão da infraestrutura destinada ao transporte coletivo urbano. A recente retomada dos investimentos federais no setor, com os PACs da Copa e da Mobilidade em Grandes Cidades (acima de 700 mil habitantes), deve ser louvada, mas é modesta e insuficiente para atender as necessidades de um país cada vez mais urbano.

E, por fim, não basta investir na melhoria do transporte público, ainda que isto seja necessário e urgente. Serão necessárias, em paralelo, crescentes restrições econômicas (pedágio urbano) e operacionais (rodízio), destinadas a reduzir o uso do transporte individual. Como o espaço viário é escasso, ele precisa ser destinado para o uso dos meios mais eficientes de transporte, isto é, aqueles que transportam um maior número de pessoas ocupando menos espaço e com menores custos sociais.


* Marcos Pimentel Bicalho é urbanista, consultor em planejamento de transportes e assessor técnico da Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP.

Fonte: Instituto Carbono Brasil / Carta Maior

Povos em todo o mundo classificam economia verde como falsa solução


Brasil, Filipinas, Uganda e Colômbia. Nesses quatro diferentes países, a implementação de projetos de REDD e manejo florestal, entre outros mecanismos econômicos para compensação de impactos ambientais propostos pela economia verde, tem afetado a população local. Indígenas, militantes, servidores públicos ou agricultores, todos têm uma história que revela um processo chamado de financeirização da natureza por organizações e redes nacionais e internacionais que atuam na defesa do meio ambiente. 

O tema pode parecer abstrato à primeira vista, mas basta ouvir um pouco das falas de quem vive esta realidade de perto para entender que o principal resultado são as violações ao direito à terra e à água. Para dar uma dimensão do problema, o Grupo Carta de Belém reuniu no dia 16 de junho, na Cúpula dos Povos, pessoas de todo o planeta que têm lutado para garantir seu direito ao território e, consequentemente, sua sobrevivência.

“Não queremos as populações tradicionais como peças de museu”, desabafou a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (AC), Dercy Teles de Carvalho. Nascida e criada na cidade a 189 km da capital Rio Branco, Dercy de Carvalho, 58 anos dos quais 35 dedicados à defesa dos direitos dos trabalhadores rurais, tem presenciado a exploração predatória da madeira e o êxodo rural causados pelo manejo florestal comunitário da Reserva Extrativista Chico Mendes. 

A iniciativa em teoria contribui para o uso sustentável da floresta. Mas, na prática, resulta no desequilíbrio da fauna local e na limitação da agricultura para subsistência das famílias que vivem na Resex. As regras para o manejo florestal impedem a caça e o plantio de outras espécies para a alimentação da comunidade local, explicou Dercy. Por isso, a população rural que antes era de 60%, hoje se reduz a 37% em razão da saída de jovens para a cidade em busca de emprego. 

“A gente vive no Acre, referência mundial em sustentabilidade, mas para quem está na floresta isso é só no papel. Não vemos essa melhoria da qualidade de vida das populações tradicionais que é colocada pelo governo”, disse Dercy, destacando a incoerência entre a imagem do estado do Acre e os reais impactos da política ambiental na região.

Falta transparência nas transações de carbono

Não só os povos da floresta têm sentido as consequências de propostas baseadas na economia verde. A partir da denúncia da engenheira agrônoma e funcionária pública da Prefeitura de Apiaí, São Paulo, Delma Fontanesi, a Polícia Federal começou a investigar um suposto esquema de compensação ambiental por meio da venda de crédito de carbono em Apiaí. A cidade está localizada no Vale do Ribeira, região que possui 17% da Mata Atlântica remanescente. 

Com o envolvimento de advogados, prefeitos da região e organizações não governamentais a ação consistiria na criação de um parque que depois seria entregue à gestão da iniciativa privada. Entretanto, falta transparência à negociação que, por lei, deveria ser submetida à população.

“No final do ano passado, descobri por acaso que o prefeito estava criando um parque municipal de 35 mil hectares. Como o Snuc [Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza] diz que a criação de uma unidade de conservação deve pelo menos ser discutida com a comunidade, comecei a cobrar do Conselho de Desenvolvimento Rural, dos sindicatos e de outras lideranças políticas e a falar com interessados que estavam perdendo seus terrenos. A partir disso, começamos a investigar por que uma unidade de conservação estava sendo criada às escondidas”, contou Delma que apontou o interesse de usineiros de cana de açúcar e citricultores de São Paulo na compensação ambiental. Ela lembrou que o novo Código Florestal permite a compensação ambiental por bioma. Assim, o agricultor pode expandir suas fronteiras agrícolas ao pagar pela compensação em outro lugar.

REDD e land grabbing no centro da disputa por terra

Nas Filipinas e na Uganda, a conversão da terra em dinheiro se dá principalmente pelo land grabbing, uma corrida pela compra de terras em países em desenvolvimento principalmente por corporações nacionais e transnacionais que se intensificou a partir da crise mundial de alimentos de 2008.

A filipina Leda Mariano relatou o conflito agrário em seu país, onde 75% da população é de agricultores. Ela contou que as áreas para agricultura estão sendo destinadas ao uso comercial e industrial de corporações transnacionais, com remoção dos pequenos agricultores que antes viviam e cultivavam na região. Incentivando a luta por reforma agrária, citou a decisão da Suprema Corte das Filipinas que em 2011 determinou a distribuição da Hacienda Luisita, a segunda maior propriedade de uma só família do país, para pequenos agricultores. Apesar de o processo de distribuição de terras ainda estar em andamento e apresentar problemas como o não reconhecimento das mulheres – o governo entrega as terras apenas aos agricultores –, Leda o considera uma vitória de uma luta de quase 50 anos.

Na Uganda, a questão agrária está diretamente ligada aos agrocombustíveis e aos projetos de REDD no país. Para David Kureeba da rede Amigos da Terra Internacional, os dois são falsas soluções para o problema das mudanças climáticas e juntos impulsionam a corrida pela compra de terras, que acontece com o apoio do governo. Ele reforça que ambos atendem a interesses de indivíduos, e não de comunidades.

O REDD também é criticado no Brasil. Para o índio Henrique Suruí, os projetos de sequestro de carbono irão causar conflito entre os indígenas. Ele reforçou que não são necessários técnicos ou projetos que ensinem os índios a preservar a Amazônia – algo que sempre fizeram – e cobrou do governo uma demarcação de terras justa. O REDD não é consenso entre os Suruí. Atualmente a Associação Metareilá do Povo Indígena Suruí desenvolve o Projeto Carbono Suruí, primeira iniciativa de REDD+ no país, que tem como parceiros a ONG americana Forest Trends e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). 

Água também entra na conta

Na Colômbia, a parceria público-privada aliada à militarização dos territórios e a mudanças na legislação nacional tem conduzido à privatização da água, de acordo com Danilo Urrea, da Censat Água Viva – Amigos da Terra Colômbia. Ele vê a Organização das Nações Unidas como arena internacional para o debate do tema, mas aponta contradições.

“A ONU reconhece através da resolução da Assembleia Geral de 2009 o direito à água. Por outro lado, a economia verde através de todos os seus programas do Pnuma nega esse direito e tenta criar um mercado azul completamente direcionado pelas propostas de empresas como Coca-Cola e Nestlé e que nos diz que a única possibilidade de garantia de acesso à água no mundo é através do controle público-privado e da política do Banco Mundial implementada nas últimas décadas”, analisou o ativista. 

Danilo propôs como alternativa a elaboração de um projeto de manejo público e comunitário da água no qual as populações tenham soberania territorial para garantir a qualidade das fontes. Para ele, a disputa pela água tem a ver com a garantia de territórios para sobrevivência dos povos e representa algo maior: o desaparecimento do Estado democrático de direito em função do aumento do poder de grandes corporações.

Larissa Packer, advogada da ONG Terra de Direitos e membro do Grupo Carta de Belém, também traçou uma análise mais ampla. Segundo ela, a proposta de uma economia verde está intimamente ligada à resposta do sistema capitalista à escassez de recursos naturais. Assim, a lei da oferta e da procura continua em vigência, o que em vez de proteger pode intensificar a degradação ambiental.

“É por isso que quanto mais a indústria do petróleo queimar combustível fóssil e liberar CO2 na atmosfera, menos ar puro teremos. Quanto maior a degradação das florestas, menos árvores irão existir. Se a árvore vira um título financeiro, quanto mais se avança com o petróleo maior o valor do título ambiental. Não é assim que a especulação financeira se dá? Por isso, a economia verde não tem nada de verde. É a mesma economia marrom. É mais uma forma de contemplar o mercado financeiro e o livre comércio dos bens comuns”, concluiu.

Sobre o Grupo Carta de Belém

É uma articulação de organizações e movimentos socioambientais, trabalhadores e trabalhadoras da agricultura familiar e camponesa, agroextrativistas, quilombolas, organizações de mulheres, organizações populares urbanas, pescadores, estudantes, povos e comunidades tradicionais e povos originários que compartilham a luta contra o desmatamento e por justiça ambiental na Amazônia e no Brasil. Foi criada em 2009 como resposta à Convenção do Clima de Copenhague que instituiu o mercado de carbono. Em 2011, o Grupo lançou a publicação “Quem ganha e quem perde com o REDD e Pagamento por Serviços Ambientais? – Documento de Sistematização das Convergências do Grupo Carta de Belém extraídas do seminário sobre REDD+ e Pagamento por Serviços Ambientais X Bens Comuns”.

Fonte: Instituto Carbono Brasil / Fundação Heinrich Böll

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O império chinês chegou ao limite?

Nova York - A China desperta temor em boa parte do mundo há pelo menos duas décadas. A princípio, pela rapidez avassaladora com que dizimou concorrentes ao inundar o planeta com produtos a preços baixíssimos. Hoje, o temor permanece, mas pelo motivo contrário — a ameaça de uma queda brusca no vigoroso ritmo de crescimento do país, a segunda maior economia mundial.

Desde os anos 90, a China cresce a uma taxa acima de 10% ao ano. Em 2012, analistas preveem uma expansão em torno de 7%. Alguns cogitam a  possibilidade de uma desaceleração abrupta, com consequências potencialmente dramáticas para o mundo todo. Até onde vai o fôlego chinês?

EXAME colocou a questão para dois especialistas — um pessimista e outro otimista. O economista Michael Pettis, professor da Universidade de Pequim, prevê um cenário alarmante. O investidor americano Jim Rogers, ex-sócio de George Soros e dono da empresa de investimentos Rogers Holdings, acredita na resistência chinesa. A seguir, os principais trechos dasentrevistas. 

EXAME - A economia chinesa vai se retrair de forma brusca?  

Michael Pettis - Sim, o modelo de cres­cimento chinês é insustentável. Um intenso cronograma de investimento comandado pelo Estado se tornou a principal fonte de crescimento do país nos últimos anos. Como a dívida cresce de maneira bem mais veloz que a economia, essa situação não poderá continuar por muito tempo.

Uma queda acen­tuada no crescimento da economia parece inevitável. Como este é um ano de transição política, com a passagem do comando do país no início de 2013, é possível que o governo se esforce para manter um ritmo razoável neste ano. Não mais do que isso.

Jim Rogers - Não acredito nisso. Está claro que o ritmo das últimas duas décadas, acima de 2 dígitos, diminuirá nos próximos anos, mas o governo tem instrumentos para administrar um desaquecimento suave. Parte da economia continuará próspera, como a agricultura e os negócios ligados ao tratamento de água. Muita gente continuará a fazer muito dinheiro na China. 

EXAME - Até que ponto a China investiu bem nos últimos anos? 

Michael Pettis - Até os anos 90, boa parte do investimento era viável. Desde então, muito dinheiro foi gasto com centenas de projetos imobiliários vazios, infraestrutura excessiva e expansão da capacidade das fábricas, sendo que o mundo já tem excesso de capacidade produtiva. 

Jim Rogers - No geral, os planos de investimento foram bem arquitetados. Por outro lado, o que funcionou no passado não vai funcionar daqui para a frente. O desafio da China está no futuro — como não se tornar um país semelhante aos Estados Unidos, que acumularam uma dívida gigantesca sem investir para se tornarem mais competitivos no longo prazo, e sim para manter burocratas em seus empregos. 



EXAME - A China precisa de um novo modelo de crescimento?  


Michael Pettis - Sim. E a única maneira de conseguir isso é aumentar a renda média da população. É fácil dizer e difícil executar. Desde 2005, quando o governo chinês anunciou claramente a intenção de fazer essa transição, o consumo interno só diminuiu sua participação no PIB.

Jim Rogers - Sim. Depois que você construiu um trem-bala entre Pequim e Xangai, não faz sentido construir outro ao lado do primeiro. Mudar a rota de expansão é um curso natural. A China já fez muitos investimentos estatais que puxaram fortemente sua economia. Agora, o dinheiro tem de ir a outros lugares para fomentar o consumo interno.

EXAME - Qual será a dificuldade do país em encontrar um novo caminho para crescer? 

Michael Pettis - O modelo atual transfere riqueza da população, que recebe salários baixíssimos, e assim subsidia o crescimento do país. Aumentar a renda dos chineses significa abrir mão de uma importante fonte de crescimento. Politicamente, é muito difícil fazer isso.

Jim Rogers - A transição de uma economia baseada em investimento estatal e exportação para outra apoiada no crescimento do consumo interno tende a acontecer naturalmente — mas é um processo de longo prazo. Os salários já são maiores do que no passado.

Aos poucos, a classe média chinesa se tornará mais robusta. Isso levará tempo e alguns percalços podem surgir ao longo das próximas décadas. No século 19, os Estados Unidos tiveram 15 recessões. E se tornaram o país mais bem-sucedido do século 20. A China tem o mesmo desafio pela frente. 

O ciclo de prosperidade se completará à medida que os chineses tiverem mais poder de consumo e sentirem mais segurança em gastar e não economizar para se proteger de imprevistos. Isso não vai acontecer só porque o governo quer que aconteça.

EXAME - Além do desafio do crescimento, existe uma bolha imobiliária à vista? 

Michael Pettis - Existe uma bolha decorrente do excesso de liquidez e de taxas de juro extremamente baixas. A saída é aumentar os juros. Mas como os chineses se acostumaram a tomar empréstimo barato e farto, aumentar as taxas agora pode resultar em insolvências.



Jim Rogers - Sim. Quem investiu no setor imobiliário sofrerá um revés e perderá muito dinheiro. Mas não acredito que outros setores enfrentarão o mesmo tipo de problema.


EXAME - Há pressões para que o país valorize sua moeda. Qual seria a consequência imediata disso para a economia chinesa?

Michael Pettis - O impacto positivo é tornar o consumo mais acessível para a população e, dessa maneira, reduzir a desproporção que existe atualmente entre o volume de investimento estatal em infraestrutura e a capacidade de compra dos cidadãos.

O impacto negativo é tornar o país menos atraente para as exportações e, dessa forma, aumentar o desemprego. A China tem de mudar, mas não pode mudar facilmente. É a consequência clássica de deixar políticas distorcidas em vigor por muito tempo. 

Jim Rogers - Não acredito numa transição brusca. A moeda chinesa tende naturalmente a valorizar mais que o dólar nos próximos anos. O efeito disso não será homogêneo — vai ser bom para a população e vai ajudar a criar um novo ciclo de prosperidade. 

EXAME - Qual seria o impacto do arrefecimento chinês para a economia mundial?

Michael Pettis - Grandes exportadores de commodities, como o Brasil, vão sofrer com a queda drástica dos preços, numa redução que poderá chegar a 50% ou mais. Grandes importadores se darão bem pela mesma razão.

Jim Rogers - O mundo já sofre com os desdobramentos da crise nos Estados Unidos e na Europa. Um cenário pessimista representa piorar um contexto que já é bastante dramático. Mas não se pode esquecer uma diferença fundamental entre a China, um dos maiores credores do mundo, e outras grandes economias: o fôlego para investir.

Fonte: Jornal Meio Ambiente / Exame

O que afundou o etanol





São Paulo - Como é possível afundar um setor inteiro da economia em apenas três anos? O governo brasileiro fez, de uns tempos para cá, um esforço danado para destruir algo que vinha dando muito certo: a indústria de etanol. Até quatro anos atrás, o combustível feito da cana-de-açúcar parecia destinado a transformar a economia brasileira.

De olho em seu potencial, chegou ao Brasil gente muito pouco acostumada a perder dinheiro, como as multinacionais Shell, British Petroleum e Bunge e até os investidores  Steve Case, fundador da empresa de internet AOL, e George Soros.

O ápice aconteceu em 2008, quando os investimentos em novas usinas chegaram a 10 bilhões de dólares — e o volume de etanol vendido superou o da gasolina. Parecia o início de um movimento, mas foi, na verdade, seu pico. Entre 2009 e 2012, o setor de etanol só deu más notícias.

A produção de cana caiu 18% em 2011. E não há nenhum grande projeto previsto para os próximos anos. De longe, o principal culpado pela crise do etanol é a política de preços de combustíveis do governo, que mantinha há nove anos o preço da gasolina estável. No fim de junho, parecia que, finalmente, Brasília acordaria para o drama causado pelo subsídio à gasolina.

Falou-se num aumento de cerca de 15% nos preços. Mas logo seria jogado um balde de gelo em quem estava animado com essa perspectiva. A Petrobras anunciou um reajuste de 7,83% no preço da gasolina. Na prática, abastecer com gasolina vai continuar a ser mais barato do que usar álcool nos próximos meses.

É um sinal de que 2012 deve ser tão difícil para usineiros brasileiros quanto os últimos três anos. Qual foi a receita para afundar um setor inteiro em apenas três anos? A seguir, a equação que deixa tão difícil a tarefa de ganhar dinheiro com etanol no Brasil. 

1 Preços controlados

O maior inimigo dos usineiros é o mesmo que, há poucos anos, prometia ser seu maior aliado — o governo federal. No fim de 2008, a Petrobras começou a prospectar petróleo na camada do pré-sal. Foi a senha para o petróleo passar de vilão nacional a salvador da pátria.

Todas as atenções se voltaram para os combustíveis de origem fóssil. Em meio a tudo isso, o etanol acabou um tanto esquecido. A política de controle de preços da Petrobras começou a corroer os resultados de quem produz álcool combustível — o custo dos usineiros, afinal, não é fixo, ao contrário do preço da gasolina.

Os impostos da gasolina caíram de 47% para 35%, segundo a União da Agroindústria Canavieira, permitindo que a Petrobras elevasse o preço da gasolina na refinaria sem que o aumento chegasse ao consumidor final. O objetivo do governo, como se sabe, é controlar a inflação, mesmo que, para isso, seja necessário sacrificar o caixa da Petrobras.

O problema, para quem produz etanol, é que só faz sentido abastecer com álcool se seu preço for no máximo 70% do preço da gasolina — já que sua eficiência como combustível é menor. Resultado: desde 2009 não tem valido a pena para o consumidor abastecer com etanol. E assim, desestimulado, o setor pôs o pé no freio.

Os usineiros pedem redução de impostos. Segundo os empresários do setor, o etanol é mais tributado do que a gasolina se considerados os impostos por quilômetro rodado, já que o rendimento do etanol é menor. Nem mesmo os recentes estímulos à compra de automóveis surtirão efeito.

Em maio, o governo cortou os impostos que incidem sobre os carros novos e facilitou o crédito para o setor automotivo, com o objetivo de desovar o estoque das montadoras. Mas, com o preço da gasolina controlado, abastecer com álcool vai continua­r  a ser uma desvantagem.

E os carros que saírem dos pátios vão usar gasolina, não etanol. Segundo empresários do setor, esse é, de longe, o principal motivo para a crise recente. Não é o único, como se verá adiante. 

2 Crise financeira

As dívidas do setor só fazem crescer. Passaram de 7 bilhões de dólares, em 2006, para mais de 25 bilhões de dólares, no ano passado. Os grupos que investiram em produção antes da crise de 2008 tomaram muito dinheiro emprestado — e, com os anos difíceis que vieram depois, ficou mais complicado pagar os empréstimos.

Grandes multinacionais, como a indiana Renuka, a espanhola Abengoa e a singapurense Noble, decidiram colocar à venda suas usinas no país. Ficou tão difícil ganhar dinheiro que Rubens Ometto, fundador da Cosan e maior usineiro do país, decidiu diversificar seus investimentos.

Hoje, ele investe em setores mais estáveis, como distribuição de gás e logística. Em entrevista recente a EXAME, definiu o setor de açúcar e álcool como uma montanha-russa.

3 Baixa produtividade

A disparada dos gastos das usinas também atrapalhou. Em uma década, os custos de produção dobraram, puxados por fatores como a multiplicação do preço do aço, matéria-prima usada para construir novas usinas, e dos salários dos cortadores de cana. O encarecimento das terras também pesou. 

A baixa produtividade foi outro fator a deprimir o setor sucroalcooleiro. De um lado, algumas usinas adotaram variedades de cana-de-açúcar mal-adaptadas a novas áreas de produção, como Goiás, Mato Grosso do Sul e Tocantins. De outro, a sucessão de problemas climáticos, como falta de chuvas ou geada em excesso, exerceu papel de vilão.

A crise financeira secou a oferta de crédito, o que impediu as endividadas empresas de investir na renovação dos canaviais, tarefa essencial para aumentar o rendimento das lavouras. Tudo somado, a produtividade caiu de quase 90 toneladas por hectare, em 2009, para 69 toneladas, em 2011.

“Essa é a produtividade que obtínhamos nos anos 70”, diz Ismael Perina Júnior, presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil. 

4 Expansão do açúcar e do álcool anidro 

Para complicar ainda mais a situação, o aumento da frota de veículos forçou o Brasil a elevar as importações de gasolina. Elas passaram de 9 000 barris diários, em 2009, para 80 000 barris, em 2012. Com o aumento do consumo de gasolina nos últimos anos, a fabricação do álcool anidro, aquele que é adicionado à gasolina, engoliu parte do terreno antes ocupado pelo hidratado, o etanol que o consumidor compra nos postos de combustíveis.

Além disso, as usinas têm dado pre­ferência à produção do açúcar, que, no momento, tem preços mais atrativos no mercado internacional. Resultado: o Brasil precisou até importar etanol no ano passado. Quase 1 bilhão de litros do combustível veio do exterior, sobretudo dos Estados Unidos.

Essa situação era inimaginável até 2008, quando o etanol de cana-de-açúcar brasileiro era cantado como um produto muito mais eficiente do que aquele produzido do milho nos Estados Unidos. “Não é aceitável vermos o etanol reduzido à mera condição de aditivo da gasolina”, diz Miguel Rossetto, presidente da Petrobras Biocombustível (Pbio). 

Há saída? 

Se o Brasil quiser de fato se tornar uma potência em energia renovável, vai precisar dobrar sua produção de etanol até 2020, segundo estimativas de especialistas. Isso exigirá a construção de pelo menos 120 usinas e a moagem anual de 1,2 bilhão de toneladas de cana.

Do jeito que a coisa está hoje, quem vai investir 1 real sequer nesse negócio? “Temos um problema estrutural no setor, já que a produção de etanol está com a margem de lucro nula ou negativa. Nessas condições, não se pode esperar novos investimentos do setor privado”, diz Pedro Parente, presidente da Bunge Brasil, terceira maior empresa do setor.

A única forma de começar uma virada, segundo especialistas, é mudar a política de preços da Petrobras. O etanol continua a ser uma fonte de energia renovável e menos poluente do que as derivadas do petróleo. Enquanto o preço da gasolina for usado para controlar a inflação, o governo fará com o etanol o mesmo que vem fazendo há três anos: levando-o à lona.

Fonte: Jornal Meio Ambiente / Exame



CUT mensaleira

Por Roberto Freire*


A economia, após todos os pacotes de estímulo do governo, continua patinando. A previsão é que o crescimento de 2012 seja ainda menor que os 2,7% de 2011. A arrecadação federal caiu pelo quarto mês consecutivo. A produção industrial continua em queda, tendo apresentado diminuição consistente durante os últimos quatro meses.
O recente recrudescimento da luta dos trabalhadores é fruto dos prenúncios de que a crise atingiu o mundo do trabalho. Fruto de uma política populista, a expansão do crédito para o consumo, agravou o endividamento familiar, perigosamente.
Os professores e funcionários das universidades federais, por exemplo, paralisaram suas atividades há quase dois meses.
Os servidores públicos de diversas categorias entraram em greve ou aprovaram indicativo de greve em face da negativa de negociar até mesmo perdas inflacionárias dos últimos anos pela presidente Dilma.
O governo, num ato de força e desrespeito aos trabalhadores, simplesmente mandou cortar o ponto dos grevistas.
Nesse cenário, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do Partido dos Trabalhadores (PT), ao invés de apoiar a luta dos assalariados no enfrentamento do governo-patrão, adota posturas próprias dos pelegos que combatia antigamente e pior, prestando-se hoje, a defender os mensaleiros.
O presidente da entidade, numa clara afronta à democracia e ao Estado de Direito, declarou que levará seus seguidores às ruas para defender os acusados no processo do mensalão.
Os trabalhadores brasileiros mereciam melhor representação. Tenho convicção de que os trabalhadores honestos do país não concordam com seus representantes e não sairiam às ruas para defender réus acusados de corrupção na mais alta Corte de Justiça do país.
Esse distanciamento da CUT dos trabalhadores que devia representar é fruto de seu aparelhamento pelo PT, como aconteceu com praticamente todos os movimentos sociais brasileiros que foram capturados ou cooptados.
O governo do PT aprovou legislação que prevê financiamento via imposto sindical das centrais, sem que esse dinheiro tenha controle do Tribunal de Contas da União (TCU).
A União Nacional dos Estudantes (UNE), há algum tempo, ganhou uma bolada para construção de uma nova sede que ainda inexiste. É por isso que não se vê a entidade defendendo os estudantes na greve das federais e não se vê a CUT defendendo os servidores públicos contra o governo.
Todos eles simplesmente materializam as palavras de Dirceu, quando disse que convocaria os movimentos sociais para defendê-lo nas ruas. Como são instrumentos de poder do PT, esses movimentos estão respondendo na mesma sintonia.
Ao mesmo tempo, mostra a face autoritária do PT que não respeita as instituições democráticas e quer sempre fazer valer os seus objetivos no grito.
O Supremo Tribunal Federal (STF) tem se portado de maneira exemplar, mostrando que há sólidas instituições no país e que julgará o caso do mensalão com a isenção necessária. As ruas não fazem parte dos autos.
O patético envolvimento da CUT é apenas o reflexo de algo mais grave e profundo, um processo de esvaziamento de representatividade dos movimentos sociais como mais um dos legados nefastos do governo lulopetista.
*Deputado Federal (SP), presidente do PPS
Fonte: Brasil Econômico

Dilma: governo age para país ter melhor desenvolvimento possível


A presidente mencionou os esforços para eliminar "entraves ao crescimento econômico do país", citando os cortes de juros, a redução de impostos e uma taxa de câmbio mais favorável à indústria.

Em um cenário de crise econômica internacional e de seguidos sinais de fraqueza da atividade no Brasil, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira (13/7) que seu governo está atento para garantir que o país tenha o melhor desenvolvimento possível.

"Meu governo está atento para garantir que nosso país, diante dessa situação internacional, tenha um desempenho melhor possível, e saia dessa crise aproveitando oportunidades que sempre uma crise trás", disse Dilma durante cerimônia da Petrobras, na Bahia.

O último sinal de fraqueza da economia brasileira veio na quinta-feira (12/7), quando o Banco Central divulgou seu índice considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), que apontou uma leve contração em maio. O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) registrou queda de 0,02% na comparação com abril.

Depois da divulgação do dado, Dilma tentou minimizar a importância do PIB. Durante a 9ª Conferência dos Direitos da Criança e do Adolescente, a presidente disse que "uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e adolescentes, não é o Produto Interno Bruto".

Diante de diversos sinais do esfriamento da atividade econômica no país, o governo tem adotado uma série de medidas de estímulo, para incentivar investimentos e consumo.

Nesta semana, o BC reduziu pela oitava vez seguida o juro básico da economia para 8,0% ao ano, atingindo novo recorde de baixa.

Na cerimônia na Bahia, Dilma mencionou os esforços para eliminar "entraves ao crescimento econômico do país", citando os cortes de juros, a redução de impostos e uma taxa de câmbio mais favorável à indústria.

"Nós estamos hoje praticando uma taxa de câmbio que impede que a nossa indústria seja sucateada por produtos com taxas de câmbio manipuladas, que por ventura venham do exterior", disse Dilma. Depois de o dólar ser negociado em torno de R$ 1,55 no ano passado, ele era cotado a R$ 2,03 no início desta tarde.

Dilma ressaltou que o objetivo do governo é garantir que as pessoas sejam beneficiadas pelo desenvolvimento. Segundo ela, o tempo de fazer o bolo crescer para depois repartir já passou.

"O nosso caminho é manter o nosso desenvolvimento e buscar cada vez mais garantir que os bônus, as vantagens, e os lucros desse desenvolvimento sejam distribuídos pelo povo brasileiro", disse ela.

Dilma participou da cerimônia de batismo da plataforma P-59, na qual foram investidos US$ 360 milhões para a construção, segundo a Petrobras, oriundos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Fonte: Brasil Econômico