Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Sem reajuste de gasolina, Petrobrás gasta R$ 900 milhões a mais por mês

Alta do dólar eleva custo de importação da Petrobrás, que pode ser compensado por reajuste de combustíveis.

BRASÍLIA - A demora na autorização de um novo reajuste para a gasolina e o óleo diesel no País deve provocar um gasto adicional para a Petrobrás de R$ 900 milhões por mês na importação desses combustíveis, segundo cálculos do Itaú BBA. Mas a presidente Dilma, apesar de decidida a autorizar o reajuste, quer esperar que o câmbio e a inflação estejam sob controle para definir o aumento.
A presidente avisou à estatal e aos auxiliares envolvidos com os cálculos do reajuste, segundo uma fonte graduada do governo, que aguardará a "acomodação" do câmbio numa "banda mais estável" de variação. E também quer projeções da área econômica sobre eventuais impactos de um choque de oferta global nas commodities agrícolas causado por nova quebra de safra nos Estados Unidos.

Dilma quer ter segurança sobre o "espaço na inflação" que o governo terá para amortecer seu efeito nos índices de custo de vida. O adiamento do reajuste é uma aposta na "convergência" dessas variáveis para estreitar o aumento. O governo já "precificou" que, a partir de agosto, a inflação medida pelo IPCA voltará a subir. "Todo ano é assim. Por isso, vamos esperar essas duas variáveis para decidir o tamanho do reajuste", informou a autoridade.

Esse "espaço" será decisivo para dimensionar o aumento nos preços na refinaria, uma medida considerada altamente impopular, mas necessária para reduzir as perdas da petroleira estatal com esses combustíveis.

Custo. A Petrobrás deverá gastar cerca de R$ 900 milhões mensais com importações sem esse aumento, avaliou relatório do Itaú BBA divulgado ontem. Esse gasto adicional, calcula a corretora, elevará a relação dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, imposto, depreciação e amortização) para 4,2 vezes até o fim de 2014 e a relação dívida líquida/capital total a 46%.

O óleo diesel já foi reajustado duas vezes neste ano - 6,6% em janeiro e 5% em março. A gasolina teve aumento de 5,4% na refinaria em janeiro. A Petrobrás alega perdas com a defasagem entre os preços internos e a cotação internacional de derivados de petróleo, cotado em dólar - a moeda americana caiu 0,71% e fechou ontem a R$ 2,37.

O governo não tem mais espaço para neutralizar um novo aumento, já que zerou o imposto da gasolina (Cide) e elevou ao teto a mistura de etanol.

Volatilidade. A presidente avalia que a instabilidade do dólar impede, neste momento, qualquer projeção ou cálculo para o reajuste da gasolina e do óleo diesel. Por isso, o governo vai esperar o dólar flutuar de maneira mais suave. "Quando ficar em um intervalo durante um período mais longo, pode ser o momento de reajustar", disse a fonte. Mas os ruídos externos, com a iminência de mudanças na política monetária dos EUA, mantêm as dúvidas sobre essa variação menos brusca.

Dilma também avalia que é mais prudente esperar eventuais efeitos de nova seca nas principais regiões agrícolas americanas antes de definir. Isso pode alterar o quadro global de oferta e demanda de alimentos, puxando ainda mais para cima os preços dessas commodities. O reflexo do problema climático na inflação de alimentos pode alterar todo o panorama inflacionário neste semestre. Em 2012, quando ocorreu uma seca nas lavouras americanas, houve forte pressão dos alimentos no IPCA. "Temos de ter certeza sobre isso", disse a fonte.

Impactos. A estimativa do Itaú BBA mostra os potenciais impactos de uma alta dos preços na economia. Um reajuste de 10% no diesel e na gasolina tem impacto de 0,27 ponto porcentual no IPCA de 2013. A redução de alíquotas de PIS e Cofins pode neutralizar esse impacto ao consumidor final, mas custaria cerca de R$ 4 bilhões ao Tesouro. Isso reduzindo o superávit primário em 0,1% do PIB, o que é significativo, já que cumprir a meta atual de 2,3% já parece difícil, diz o relatório.

O cálculo da corretora não inclui o impacto indireto em toda a cadeia de valor da produção, o que poderia adicionar cerca de 0,10% do PIB em período mais prolongado.

"Acrescente a isso o risco de protestos de rua e greves de motoristas de caminhão, ou uma possível reação dos prefeitos de cidades como São Paulo ou Rio, que estão pedindo o restabelecimento da Cide sobre a gasolina para financiar a redução das tarifas de transporte público", avaliam os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes.

Fonte: O Estado de s. Paulo

Peso da indústria na economia brasileira volta ao nível de 1955

A indústria tem um peso na economia brasileira tão grande quanto tinha em 1955, antes de Juscelino Kubitschek chegar à Presidência e anunciar seu Plano de Metas para o desenvolvimento do país.

A produção do setor corresponde, atualmente, a 13,3% do PIB (produto interno bruto); em 1955, eram 13,1%, segundo o estudo “Por que reindustrializar o Brasil?”, divulgado nesta quarta-feira (28) pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

De acordo com o estudo, a desindustrialização no Brasil começou na década de 1980, após a participação do setor no PIB atingir um pico de 27,2%. A projeção da Fiesp é de que, se a atual tendência continuar, a proporção tende a chegar a 9,3% em 2029 ou antes.
A princípio, os dados poderiam levar a crer que a indústria perdeu importância para o país, tornando-se uma atividade secundária para o crescimento econômico, uma vez que o setor de serviços gera mais da metade do PIB.

A Fiesp, no entanto, defende nesse estudo uma tese exatamente oposta. Afirma que, se a tendência de queda da participação da indústria no PIB se mantiver, junto com uma baixa taxa de investimento das empresas, “as perspectivas de o país atingir um nível de renda per capita minimamente compatível com o patamar dos países desenvolvidos se mostram cada vez mais distantes”.

A entidade argumenta que, nos países ricos, primeiro houve uma forte industrialização, o que permitiu o aumento da renda per capita. A desindustrialização só começou quando o PIB atingiu o nível de cerca de US$ 20 mil por habitante.

Um ponto comum de todos os países com mais de 25 milhões de habitantes que conseguiram atingir uma renda per capita de US$ 20 é que, em todos eles, esse patamar foi atingido quando a indústria representava mais de 20% do PIB, segundo a pesquisa.

Por isso, a Fiesp acredita que o Brasil teve uma “desindustrialização prematura” e “acelerada”. A proposta dos representantes da indústria é de que o governo crie as condições para que o segmento se desenvolva e ajude a aumentar a renda per capita do país.

O estudo calcula que para dobrar a renda per capita do país em 20 anos não é preciso crescer a taxas chinesas. Basta que o PIB avance 4% ao ano. Se a meta for dobrar a nossa renda per capita em 15 anos, a economia deveria se expandir 5,3% ao ano, diz a Fiesp.

Fonte: UOL Economia

Siderúrgicas devem subir preços a montadoras de carros, diz Goldman

SÃO PAULO (Reuters) - As siderúrgicas brasileiras provavelmente vão implementar um aumento nos preços de aços planos vendidos a montadoras de veículos que pode chegar a 5 por cento até o final do ano, escreveram analistas do Goldman Sachs em relatório a clientes nesta quarta-feira.

Segundo o analista Marcelo Aguiar e sua equipe, o aumento nos preços no Brasil anunciado entre março e abril, que variou de 6 a 8 por cento dependendo do produto, e o incremento de 5 a 6 por cento em agosto ainda não foram totalmente repassados às montadoras.

As fabricantes de veículos mantêm contratos de longo prazo com as siderúrgicas e o preço normalmente é negociado anualmente ou a cada seis meses, dependendo das condições do mercado.

"Nossas checagens indicam que o atual preço do aço pago pelas montadoras está 10 por cento abaixo do pago por outros clientes das siderúrgicas", afirma o relatório. "Isso é incomum", acrescentaram os analistas.

Em Brasília, o diretor de relações institucionais da General Motors e também presidente da associação de montadoras, Anfavea, Luiz Moan, disse que reajustes ainda não chegaram para o setor.

"Nós ouvimos na imprensa, na verdade, esse desejo das siderúrgicas (de aumentar os preços). Mas, até o momento, do ponto de vista das montadoras, esse reajuste ainda não chegou", disse Moan durante audiência na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.

"Se eventualmente chegou a alguma montadora, está no processo de negociação", acrescentou.

Um recente declínio do real contra o dólar pode disparar uma cláusula que acelera o reinício da negociações de preços, disseram os analistas do Goldman.

A companhia mais beneficiada por reajustes, segundo os analistas, seria a Usiminas, maior fornecedora de aço ao setor automotivo do país, que deve 35 por cento da receita às vendas para montadoras. A CSN também se beneficiaria de preços maiores às fabricantes de veículos, disse Aguiar no documento.

As siderúrgicas já anunciaram reajustes de preços de aços planos e longos no início de agosto para distribuidores do país, após a intensificação da desvalorização do real contra o dólar.

Às 11h18, as ações da Usiminas subiam 1,68 por cento enquanto o Ibovespa operava em alta de 0,36 por cento. A CSN, enquanto isso, avançava 0,58 por cento.

Fonte: Reuters Brasil

FMI diz que Brasil está se recuperando de desaceleração, apoia mais reformas

BRASÍLIA, 28 Ago (Reuters) - A economia do Brasil está se recuperando gradualmente da desaceleração que começou em meados de 2011, mas mais esforços para impulsionar a produtividade, a competitividade e os investimentos são cruciais para melhorar o crescimento, afirmou o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta quarta-feira.

Em um relatório feito com base em consultas anuais junto a autoridades econômicas brasileiras, o FMI elogiou o foco do Brasil em reformas para melhorar os problemas do lado da oferta, afirmando que isso vai impulsionar o investimento e aliviar os gargalos de infraestrutura.

O relatório informou ainda que será importante para o Brasil elevar a poupança doméstica, melhorar o mecanismo de indexação do salário mínimo e continuar a reformar seu sistema previdenciário.

"Outros esforços para fomentar o investimento privado deveriam incluir a melhora da taxação e das condições empresariais", informou o FMI.

Fonte: Reuters Brasil

Reformas na China enfrentam resistência dentro do Partido Comunista

Uma iniciativa que a China lançou em meados de julho para aumentar o poder do mercado no setor bancário foi um passo significativo na reforma do modelo econômico do país. Ela pode também ter sido a última decisão tomada com facilidade pelos novos líderes chineses, cujo programa de reforma deve enfrentar uma oposição ferrenha dentro do Partido Comunista.

O presidente Xi Jinping e o primeiro-ministro Li Keqiang vêm defendendo um papel mais limitado do governo. Agora, estando os economistas convencidos de que o modelo chinês de crescimento baseado num alto nível de investimento já está exaurido, o governo deu sinais de que pretende reequilibrar a economia colocando mais peso na demanda doméstica.
Em julho, o governo eliminou o limite mínimo para as taxas de juros de empréstimos bancários. Mas outras propostas para aumentar a força do mercado na economia estão passando por um processo de revisão pouco promissor. Isso provavelmente vai diluir as medidas e pode até deixá-las de fora da agenda da reunião de líderes do Partido Comunista marcada para o fim do ano.

A reunião, chamada de "Terceiro Plenário", será imbuída de um significado histórico. Foi no Terceiro Plenário de 1978 que Deng Xiaoping passou à frente do sucessor escolhido pelo líder revolucionário Mao Zedong, Hua Guofeng, e colocou o país no caminho da economia de mercado. Em 1993, a mesma reunião estabeleceu as bases para o enxugamento das estatais, uma decisão impopular que tirou o emprego de milhões de pessoas.

Desta vez, Liu He — chefe do grupo interno do partido que cuida do setor financeiro e conhecido por suas inclinações reformistas e pró-mercado — vai liderar pequenas equipes de trabalho na elaboração de propostas econômicas específicas, segundo Cheng Li, analista do centro de estudos americano Brookings Institution.

"Liu He tem uma formação muito sólida", disse Li. "Ele trabalhou em finanças por 15 ou 20 anos. É um talentoso tecnocrata econômico". A questão principal é se essas habilidades serão suficientes para superar a formidável oposição às reformas.

Espera-se que os líderes ponham um fim no modelo de desenvolvimento que serviu bem à China por décadas. Esse modelo se baseou em grandes volumes de investimentos na indústria e em infraestrutura, subsidiados por juros artificialmente baixos, e num exército de migrantes rurais que trabalhavam nas fábricas das cidades chinesas sem colher os benefícios urbanos, como acesso às escolas locais e programas de saúde.

As mudanças sendo estudadas incluem acabar com as restrições à posse da terra e à residência em cidades, ajustar o sistema de impostos para repassar mais recursos aos empobrecidos governos locais e relaxar os controles sobre os preços dos combustíveis, disse Yiping Huang, um economista que deu consultoria ao governo no passado. As reformas financeiras para liberar os juros sobre os depósitos bancários e permitir que o dinheiro entre e saia mais livremente do país também estão no topo da agenda.

Ainda assim, muitas reformas potenciais diminuiriam o controle do Estado. Os bancos estatais seriam forçados a remunerar os depósitos dos correntistas a taxas mais competitivas. Autoridades locais poderiam ter que aumentar os gastos sociais em cidades cada vez mais populosas, e não está claro se a reforma fiscal seria suficiente para compensar isso.

"As pessoas estão alimentando muitas expectativas sobre a reforma fiscal, mas duvido que haverá um progresso substancial nisso. É difícil equilibrar os interesses dos governos central e locais", disse Yao Yang, professor de economia da Universidade Peking.

Uma questão fundamental para os planos dos líderes é a meta do primeiro-ministro Li de trazer mais chineses para as cidades, que segundo ele geram crescimento e consumo privado. Num exemplo dos obstáculos adiante, a equipe de planejamento do governo que delineou esse programa de urbanização teve suas propostas esvaziadas por outros ministérios e departamentos, segundo um pesquisador próximo da equipe.

Permitir que os 260 milhões de trabalhadores migrantes que já estão nas cidades da China tenham acesso aos benefícios dos residentes poderia acirrar a competição por moradias e educação, aumentando a pressão sobre as já sobrecarregadas finanças dos governos locais.

Segundo os poucos detalhes divulgados até agora sobre o plano de urbanização do governo, as mudanças começariam nas cidades menores — deixando num nimbo a situação dos milhões de trabalhadores migrantes das cidades maiores.

"As autoridades em geral preferem promover a migração para as cidades menores, mas isso é uma abordagem equivocada", disse Yukon Huang, ex-diretor do Banco Mundial para a China que hoje está na Fundação Carnegie para a Paz Internacional. "Os ganhos de produtividade com a migração da mão de obra são maiores nas grandes cidades", acrescentou.

Com a cúpula do governo dando prioridade à urbanização, é possível que as propostas finais sejam mais abrangentes na extensão dos direitos de residência aos migrantes.

A difícil concepção dos planos reflete os obstáculos que os líderes enfrentam ao submeter reformas a um processo político que depende de um consenso no Partido Comunista. Os excessos da era Mao levaram o partido a diluir o poder entre várias pessoas e departamentos, enquanto redes de patronagem garantem a antigos líderes, como o ex-presidente Jiang Zemin, manter o poder nos acordos políticos necessários para aprovar as medidas.

"Grandes projetos de reforma podem em geral levar dois ou três anos para serem completados", disse Zhang Yansheng, economista da Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento da China que não está envolvido com as propostas de urbanização. "É um longo processo."

Fonte: The Wall Street Journal

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O mundo emergente está entrando em crise?

Quem observa as movimentações do mercado financeiro nos países emergentes neste mês de agosto pode ficar com a impressão de que o mundo voltou algumas décadas no tempo – para uma época em que Ásia e América Latina eram apenas vistos como lugares de ganhos rápidos e altos riscos.
As regiões que na última década conseguiram registrar crescimento econômico em percentuais acima do mundo desenvolvido sofreram neste mês fortes oscilações nos mercados financeiros.
As moedas da Índia, Indonésia e Tailândia desabaram na comparação com o dólar, atingindo o menor nível desde 2009. Com exceção da China, as bolsas de valores asiáticas perderam em poucas semanas quase todos os ganhos do ano.
No Brasil, as autoridades monetárias anunciaram um plano multibilionário para conter a queda do real diante dólar, que já atingiu o patamar mais baixo dos últimos cinco anos.
O "mês do desgosto" fez com que muitos economistas e publicações especializadas passassem a se debruçar sobre uma questão: o mundo emergente está rumando para uma crise? Ou ainda: com que força essa turbulência financeira vai chegar à economia real?

Descolamento 'às avessas'
Em 2008, muitos economistas debatiam a tese do "descolamento" – a ideia de que o mundo emergente estava imune à grave crise que começava a atingir os países desenvolvidos. Com o tempo, economias como China e Brasil também desaceleraram o seu ritmo, e a tese perdeu força.
No entanto, a ideia voltou à discussão no último mês, mas agora com notícias de recuperação econômica na Europa e nos Estados Unidos, e turbulências nos mercados emergentes.
"Isso [o 'descolamento'] certamente é o que os números mostram. A Europa parece estar se recuperando e os números saindo dos Estados Unidos são surpreendentemente bons", disse Markus Jaeger, analista de risco global do Deutsche Bank Research, à BBC Brasil.
"Você tem dificuldades de achar alguma economia emergente que está com bom desempenho. Todos esses países estão com desempenho abaixo do potencial. Imagino que isso é uma espécie de 'descolamento às avessas', mas temos que esperar para ver o quão sustentável essas recuperações serão e o que acontecerá nos mercados emergentes. Mas certamente houve um ajuste nas expectativas."

Os emergentes e a turbulência

Mulher segura notas de rúpia da Indonésia
Os EUA sequer mexeram na sua política monetária ainda, mas o mero anúncio de que isso será feito no futuro já provocou turbulências em todo o mundo emergente.

Por ora, ainda não há reflexos nos índices de crescimento econômico, mas muitos países já estão mudando juros, tarifas e regras cambiais.

Veja o que está acontecendo em cada nação:
ÍNDIA: A rúpia indiana se desvalorizou 14% nos últimos três meses em relação ao dólar - a maior parte em agosto. A Índia é um dos países mais expostos a essas flutuações, devido ao grande déficit em conta corrente (um dos itens da balança de pagamentos nacional). No último mês, as autoridades prometeram tentar reduzir esse déficit até o fim do ano e anunciaram medidas paracontrolar a saída de dólares do país.
INDONÉSIA: O país tem os mesmos problemas da Índia - cotação da moeda desabando e déficit em conta corrente. O governo aumentou tarifas de importação e relaxou as cotas de exportação de alguns minérios.
TURQUIA: A lira se desvalorizou 10% nos últimos três meses. Na semana passada, o governo turco lançou um pacote para conter a moeda,aumentando os juros e limitando as operações de câmbio. Um estudo do Deutsche Bank diz que o país é um dos mais sensíveis às oscilações, devido a seu alto endividamento externo e déficit em conta corrente.
BRASIL: O real também está entre as moedas que sofreram forte desvalorização, sobretudo em agosto. O Banco Central anunciou na semana passada um pacote de negociações diárias de dólar, para tentar diminuir a volatilidade. Exportadores podem se beneficiar com o real mais fraco, mas o dólar alto tem efeito negativo na inflação, que está perto do limite superior da meta. Com isso, os juros básicos podem subir, afetando o crescimento.
ÁFRICA DO SUL: Na contramão dos demais, a África do Sul disse que não pretende intervir no rand, a moeda nacional, que está no patamar mais baixo em quatro anos. O governo encara a movimentação como uma "correção", já que o rand era tido como sobrevalorizado.

Tsunami recuando
Ironicamente, é justamente a recuperação nos países desenvolvidos que provoca a instabilidade no mundo emergente neste momento.
No ano passado, o Banco Central americano havia anunciado o maior programa de estímulo financeiro da sua história, prometendo mantê-lo até que o índice de desemprego do país caísse. O programa de "afrouxamento quantitativo" (QE3), como é conhecido, inundou o mundo emergente com dólares, provocando uma queda na cotação das moedas nacionais.
Na época, houve protestos entre os emergentes contra os efeitos dessa política, que afetou a moeda, os custos e a balança comercial de vários países. As autoridades brasileiras chegaram a acusar uma "guerra cambial" e um "tsunami financeiro". Apesar dos protestos, muitas economias conseguiram se ajustar e continuar crescendo.
Agora que a economia americana parece estar se recuperando, o programa de estímulo será encerrado. A grande dúvida é sobre quando isso vai acontecer. Especula-se que o QE3 pode terminar em setembro, em dezembro ou talvez só no próximo ano.
O mero anúncio de que haverá uma mudança – sem qualquer alteração ainda na política monetária americana – já provocou toda essa turbulência recente nos países emergentes.
Os investidores estão se antecipando ao que esperam que vai acontecer. Com o fim do QE3, haverá menos dólares em oferta no mundo. Além disso, a recuperação dos Estados Unidos fará com que muitos investimentos migrem de volta para o país, descapitalizando os mercados emergentes.
Com a onda do "tsunami financeiro" recuando de volta para os Estados Unidos, o rastro deixado nos países emergentes é de moedas nacionais desvalorizadas, menos investimento externo, menos capital nas bolsas de valores, custos de importação mais altos e possível inflação.

Longo prazo
Mas nem todos veem com pessimismo esse novo momento.
Um editorial do jornal britânico Financial Times afirma que "as transformações econômicas nos países emergentes [nas últimas décadas] são profundas demais para que possam ser desfeitas por uma mera tempestade nos mercados". O jornal destaca que os países aprenderam as lições de crises passadas, como a asiática dos anos 1990, e acumularam reservas para lidar com momentos de grande saída de capitais.
Há quem veja na crise até mesmo uma oportunidade.
Markus Jaeger, do Deutsche Bank, diz que os emergentes podem ter perdas no curto prazo com a atual volatilidade, mas ganhos no longo prazo.
"Existe um perde-e-ganha. Por um lado, as condições financeiras ficarão mais apertadas nos mercados emergentes. Mas por outro lado, isso estará acontecendo em um contexto de crescimento mais vigoroso e mais sustentável nos Estados Unidos", explica Jaeger.
"No curto prazo, provavelmente é negativo, com toda essa insegurança em relação à moeda do Brasil e da Índia, e com todas as potenciais intervenções e um potencial aumento nas taxas de juros. No longo prazo, o crescimento econômico dos Estados Unidos deve dar uma contribuição mais forte e positiva ao crescimento nesses países."
O analista sênior da Economist Intelligence Unit (EIU) para a América Latina, Robert Wood, concorda.
"Eu acho que o que estamos vendo, essa volatilidade não só da moeda, mas de ações e preços, nesta fase, é que há algo positivo em tudo isso", disse Wood à BBC Brasil. "É porque a economia americana está mais forte, com previsão de crescer 1,6% este ano, ganhando momento, e podendo chegar perto de 2,5% no ano que vem."

América Latina
Ele acredita que o México é o país que pode mais se beneficiar, no longo prazo, com a recuperação americana, dadas as relações próximas entre as duas economias. Mas o Brasil também pode ter um impulso.
"Muito do que acontece na América Latina depende de México e Brasil, que respondem por 60% da economia da região."
Em tese, a desvalorização do real fortalece os exportadores brasileiros, já beneficiados com a recuperação dos Estados Unidos. Mas há riscos embutidos.
"Uma desvalorização da moeda é bem-vinda até uma certa medida pelos exportadores, mas um aumento muito brusco prejudica a inflação", diz Wood.
"Na visão da EIU, os países emergentes estão passando por um grande teste, mas ainda há muitas oportunidades. As economias da América Latina provavelmente conseguirão superar esses desafios."
O analista do Deutsche Bank ressalta que a instabilidade atual mostrou que o mundo de hoje é muito diferente do de dez anos atrás, e que os emergentes estão mais resistentes aos choques que vêm de fora.
"Olhando para os mercados emergentes hoje, é difícil achar uma economia que esteja vulnerável do ponto de vista sistêmico à saída de capitais. No final dos anos 1990, ou até mesmo em 2002 no Brasil, estes choques geralmente derrubavam as economias, desencadeando crises financeiras e econômicas", diz Jaeger.
"A crise de 2008 mostrou que esses países conseguem resistir até mesmo a choques enormes. Nos últimos cinco anos, isso não mudou. Os países conseguem navegar pelos choques, deixando suas moedas se desvalorizar, e depois disso a vida segue."

Fonte: BBC Brasil

Reserva cambial precisa ser um pouco queimada, diz Bacha

De acordo com o economista, isso sinalizaria ao mercado que o governo se preocupa com a apreciação do dólar.

SÃO PAULO - O diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica (Iepe) da Casa das Garças (CdG) e membro da equipe econômica que criou o Plano Real, Edmar Bacha, afirmou que o governo "precisar queimar um pouco de reservas cambiais" para sinalizar ao mercado que se preocupa com a apreciação do dólar.
De acordo com Bacha, as ações em derivativos e nas linhas cambiais no mercado futuro podem ser insuficientes para segurar a alta na moeda dos Estados Unidos porque não dão a liquidez necessária do mercado à vista.

"O dólar ''verde-amarelo'' é bom, mas quando o pessoal for querer, vai querer dólar mesmo. Tem de estar disposto a queimar um pouco de reserva, porque só atuar em derivativos e nas linhas, não é suficiente. É preciso assegurar que tenha liquidez no pronto", disse Bacha, após participar do seminário "Reindustrialização do Brasil", em São Paulo. "O Banco Central sabe disso. Não pode deixar de ter liquidez no pronto e criar no imaginário que você não precisa mexer nas reservas como se elas fossem sagradas", completou.

O economista, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), diz que ainda é difícil avaliar se o dólar no atual patamar de R$ 2,40 é bom ou ruim para os empresários por conta de um cenário conjuntural ruim, segundo ele. "Eu não gosto de discutir se chegou ou não ao câmbio que eu queria, porque não é esse o ponto. O ponto é ter um programa estruturado, consensual, planejado e não ficar reagindo às contingências do momento, como está acontecendo agora", criticou.

Bacha evitou comentar os impactos da alta do dólar na inflação e brincou: "Não faço análise (do impacto do dólar na inflação). Câmbio foi inventado por Deus para humilhar os economistas", concluiu.

Fonte: O Estado de S. Paulo