Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Produtos agrícolas devem pressionar IPCA em setembro


Dinâmica de preços limita atuação do BC, com expectativa da Selic em 7,5% no final do ano ganhando força no mercado. 

O choque de ofertas dos produtos agrícolas, decorrente da forte seca que atingiu os Estados Unidos, deve bater com mais força no mercado brasileiro nas próximas aferições do IPCA, o que fará o índice acelerar em relação ao fechamento de agosto, de acordo com a previsão dos analistas.

"O grupo Alimentação e Bebidas certamente continuará pressionado, pois esperamos que os efeitos indiretos das altas de milho e soja sobre as proteínas (por encarecerem as rações) se intensificarão a partir de setembro", diz a equipe da LCA, em relatório.

Após registrar taxa de 0,91% em julho, o grupo de alimentos teve desaceleração no mês passado, mas ainda assim seguiu em nível elevado, com uma alta de 0,88%. O grupo teve uma contribuição de 0,21 pontos percentuais no índice fechado do mês passado.

O grupo habitação, por sua vez, que recuou de 0,54% em julho para 0,22% em agosto, deve voltar a acelerar em setembro, prevê a consultoria, por conta de reajustes previstos no setor de energia elétrica residencial.

Além disso, transportes, que passou de uma deflação de 0,03% para uma inflação de 0,06%, deve manter a trajetória ascendente na próxima medição, com o avanço previsto pela LCA nos preços do etanol e da passagem área.

"Entendemos que o IPCA mostrará comportamento mais pressionado neste segundo semestre em relação aos meses anteriores, a despeito de alguns alívios pontuais, como em recreação", reforça o Bradesco.

O item recreação, que teve alta de 0,97% em julho, registrou deflação de 0,54% em agosto, o que levou a inflação do grupo despesas pessoais a recuar de 0,91% para 0,42%.

Por mais que a acomodação nos níveis da atividade econômica ajude a manter a inflação de serviços controlada, o repasse da alta do preço internacional de grãos para a inflação doméstica ao consumidor deve se intensificar, prevê também a instituição financeira.

A ainda desafiante dinâmica inflacionária, com a recente deterioração nas expectativas do mercado, evidenciada no boletim Focus do Banco Central (BC), que tem taxas crescentes na projeção do IPCA há oito semanas seguidas, limita o espaço da autoridade monetária para estender seu ciclo de flexibilização, observa Alberto Ramos, do Goldman Sachs.

Pela previsão dos economistas consultados para o Focus, o IPCA irá terminar o ano em 5,20%. Em agosto, o índice de preços ficou em 5,24%, ante 5,20% em julho. Para 2013, o prognóstico é por um IPCA de 5,51%.

"No máximo, o BC irá promover mais um corte de 0,25 ponto percentual em outubro, dependendo dos dados de atividade a serem divulgados", pondera o especialista da instituição financeira americana.

Caso os aguardados pacotes de estímulo dos governos americano e europeu sejam efetivamente confirmados, a liquidez abundante decorrente dessas operações tende a forçar ainda mais a alta nos preços, ressalta Pedro Paulo Silveira, da Tov.

O anúncio do governo federal, de elevar o imposto de importação de 100 produtos, também é um fator adicional a causar pressão sobre os preços durante o segundo semestre, destaca Silveira.

"Ainda que o BC não suba a taxa básica, é pouco provável que ele insista no ciclo de queda. Aumenta a probabilidade de ficarmos com os juros básicos parados onde estão, aos 7,5%", afirma o economista da Tov.

Por ter se aproximado das estimativas do mercado, e sinalizar a aproximação do fim do ciclo de corte nos juros, confirmando a expectativa de uma ala do mercado, os reflexos do IPCA de agosto foram limitados sobre o movimento da curva de juros futuros da BM&FBovespa nesta quarta-feira (5/9), que opera sem tendência definida.

Mais negociado, com giro de R$ 67,032 bilhões, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2013 recuava de 7,28% para 7,26%, enquanto o para julho do mesmo ano subia de 7,34% para 7,36%, com volume de R$ 7,546 bilhões.

Fonte: Brasil Econômico

Brasil foi única economia dos Brics a avançar em ranking de competividade, diz pesquisa


O Brasil foi a única economia do chamado bloco dos Brics (formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que cresceu no Relatório de Competitividade Global 2012-2013, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial.
O país teve um aumento de cinco posições em relação ao ano anterior, passando para a 48ª colocação e ultrapassou a África do Sul, assumindo a segunda posição entre os Brics. Em 2011, o Brasil também já havia subido no ranking na mesma proporção em relação a 2010, passando da 58ª para a 53ª colocação.

Apesar de ter caído três posições na classificação geral, a China, que ocupa a 29ª colocação, ainda lidera o grupo. Os demais países do grupo também registraram quedas em relação ao ano passado.
A Índia caiu três posições passando para 59ª colocação, a África do Sul passou da 50ª para a 52ª colocação e a Rússia desceu uma posição no ranking, passando para o 67º lugar.
O ranking de competitividade é elaborado a partir de pesquisas de opiniões e percepções com 14 mil empresários em 144 países no mundo.
Brasil
O relatório de Competitividade Global destaca que o Brasil aparece agora entre as 50 economias mais competitivas do ranking, e que a melhora de posição acontece "apesar do índice de inflação de quase 7%".
O estudo afirma que o Brasil melhorou nas suas condições macroeconômicas e tira proveito de ter o sétimo maior mercado interno do mundo.
O país também é elogiado por seu uso cada vez maior de tecnologias da informação e comunicação e no acesso a financiamentos para projetos de investimentos.
No entanto, o Brasil ocupa posições baixas na avaliação de empresários sobre eficiência do governo e confiança em políticos.
"Apesar destes pontos fortes, o país também enfrenta desafios importantes. A confiança em políticos é baixa (121º no ranking específico para o tema), assim como a eficiência do governo (111º), por causa de excesso de regulação governamental (144º) e desperdício em gastos (135º)."
"A qualidade da infraestrutura de transportes continua como um desafio de longo prazo que não foi abordado, e a qualidade da educação não condiz com a necessidade cada vez maior de força de trabalho qualificada."
Os esforços do Brasil para incentivar micro e pequenas empresas são reconhecidos, mas o país ainda é visto como um dos mais difíceis para novos empreendedores, com percepção de que os impostos são altos demais e provocam distorções na economia.

O relatório diz que algumas percepções dos empresários não refletem necessariamente a realidade brasileira.
Sobre competitividade sustentável, "o desempenho geral relativamente bom do Brasil mascara uma série de preocupações ambientais, como desmatamento da Amazônia, com o país registrando um dos maiores índices de desmatamento do mundo. E apesar de o Brasil demonstrar um desempenho geral razoável na área de sustentabilidade social, a desigualdade enorme do país segue preocupante".
América Latina
Na América Latina, o Chile, em 33º lugar, manteve a sua liderança mesmo tendo caído duas posições e vários países latino-americanos registram avanços, como o Panamá, que foi do 49º lugar para o 40º, o México, que foi do 58º para o 53º e o Peru, que passou da 67ª para a 61ª colocação.
Nas primeiras posições da tabela, pelo quarto ano consecutivo, a Suíça ocupou o primeiro lugar. E Cingapura permaneceu na segunda colocação. A Finlândia ultrapassou a Suécia, passando a ocupar o terceiro lugar.
O top ten do ranking traz ainda, por ordem, Holanda, Alemanha, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Hong Kong e Japão.

Ranking da competitividade 2012-2013

1. Suíça (1º no ranking anterior)
2. Cingapura (2)
3. Finlândia (4)
4. Suécia (3)
5. Holanda (7)
6. Alemanha (6)
7. EUA (5)
8. Grã-Bretanha (10)
9. Hong Kong (11)
10. Japão (9)
29. China (26)
48. Brasil (53)
52. África do Sul (50)
59. Índia (56)
67. Rússia (66)

Ainda que tenha aumentado sua posição geral, os Estados Unidos seguem em queda, pelo quarto ano consecutivo, tendo perdido duas posições.
Sobre os Estados Unidos, o relatório cita o aumento das vulnerabilidades macroeconômicas e aspectos do ambiente institucional do país como fatores de preocupação na classe empresarial, particularmente a pouca confiança pública nos políticos e uma perceptível falta de eficiência do governo.
Mas o estudo indica ainda que o país permanece sendo uma potência global em termos de inovação e que seus mercados funcionam de forma eficaz.

Fonte: BBC Brasil


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Dilma: país tem desafio de erradicar a pobreza e, ao mesmo tempo, produzir ciência e tecnologia


Brasília - Ao comentar o Programa Tecnologia da Informação Maior, lançado no dia 20 de agosto, a presidenta Dilma Rousseff disse na segunda-feira (3) que o desafio do país é erradicar a pobreza e, ao mesmo tempo, produzir ciência e tecnologia, agregando valor à produção. “Esse é o caminho para o Brasil chegar à economia do conhecimento e se encaminhar cada vez mais para ser uma grande nação”, ressaltou.
No programa semanal Café com a Presidenta, ela lembrou que a previsão de investimentos chega a R$ 500 milhões voltados para o estímulo ao desenvolvimento e à produção de softwares no país. Segundo Dilma, o Brasil conta com quase 9 mil empresas que desenvolvem softwares, mas o objetivo do governo é ampliar esse número.
“Por isso, vamos investir nas pequenas empresas de tecnologia, que geram muitos empregos – principalmente contando com jovens que têm uma imensa capacidade de criar. Uma das medidas mais importantes desse programa é que nós vamos oferecer cursos para 50 mil trabalhadores do setor de tecnologia da informação.”
A presidenta também destacou medidas lançadas dentro do programa de política industrial Brasil Maior para fortalecer e ampliar a indústria de tecnologia da informação. Uma das ações trata da redução do valor que as empresas de softwares e de tecnologia da informação pagam à Previdência (desoneração da folha de pagamento).
“Ela é importante porque reduz o custo do trabalho e aumenta a competitividade das empresas”, disse. “Nós também reduzimos os impostos para as empresas que queiram produzir semicondutores e tablets no Brasil”, completou.
Dilma comentou ainda os resultados da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), ocorrida na semana passada no Rio de Janeiro. Ao todo, mais de 18 milhões de alunos de 44 mil escolas públicas de todo o país participaram da competição – 500 deles foram premiados.
“A matemática é o primeiro passo para o desenvolvimento científico e para a inovação tecnológica, porque é a base de todas as ciências e é fundamental para o aprendizado das engenharias, da física, da tecnologia da informação, da ciência dos computadores, por exemplo. A matemática ajuda a despertar o interesse dos nossos jovens pela ciência e pelo conhecimento.”

Fonte: Agência Brasil

Pesquisadores desenvolvem ferramenta para monitorar produtividade agrícola


Brasília – Em dois anos, a produtividade das principais commodities (produtos agrícolas e minerais comercializados no exterior) brasileiras, como soja, milho e algodão, poderá ser monitorada com maior precisão. A expectativa é que esta análise permita prever, inclusive, o nível de impacto que mudanças climáticas podem provocar em cada cultura e região do país.

Pesquisadores de mais de dez instituições de pesquisa no país, como universidades federais e centros de estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), estão há um ano estudando a melhor metodologia para avaliar essas culturas.

“Estamos tentando ampliar a capacidade de gestão agrícola e antecipar as informações. Tendo a metodologia para mapear a soja, a gente consegue fazer a regressão por produtividade”, explicou o pesquisador da Embrapa Alexandre Coutinho, coordenador do projeto denominado Mapagri (Metodologia para o Monitoramento da Atividade Agrícola Brasileira).

Nesta primeira fase, cada instituição desenvolveu uma metodologia diferente de monitoramento. Em outubro, os pesquisadores vão tentar criar um modelo mais uniforme para chegar à mesma análise em todo o território nacional. “Vamos ter que definir uma metodologia mais encorpada para todos rodarem no segundo ano e o resultado mais compatível e vamos trabalhar mais no nível nacional”, acrescentou.

Segundo Coutinho, com o mapeamento das culturas ao longo do ano, que está sendo elaborado em parceria com a Universidade de Kansas, nos Estados Unidos, os pesquisadores terão como analisar projeções como o risco de determinada região produzir abaixo da série histórica.

“No Rio Grande do Sul, [os pesquisadores] já estão na terceira etapa de monitoramento no campo. No Paraná, estão conseguindo separar [as imagens captadas por satélite] do milho e da soja”, contou Coutinho.

Além de servir como instrumento para políticas agrícolas e previsão para produtores, Coutinho acredita que o Mapagri pode ter funcionalidade para as empresas de seguro agrícola.

Atualmente, os seguros agrícolas são calculados tendo como base a média de produtividade medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A medida gera resistências por parte de alguns produtores que asseguram ter produtividade superior à taxa apontada pelo instituto.

Luiz Roberto Foz, presidente da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais (Fenseg), destacou que tradicionalmente as seguradoras trabalham em cenários de incertezas.

Apesar do tom pessimista ao declarar que “não existe previsão sobre o que vai acontecer em seis meses”, Foz reconheceu que “todo instrumento de monitoramento é útil para as seguradoras”, mas alertou que este não é o único instrumento de garantias para o setor.

“No Brasil não precisamos apenas de satélite, mas de redes de radar e centros meteorológicos, que quase não existem no Centro-Oeste. Tem algumas regiões que, ao invés de ter estes centros na área rural, eles estão voltados para as cidades”, criticou Foz.

Fonte: Agência Brasil

Competitividade chinesa não está atrelada somente ao custo da mão de obra, aponta pesquisador


São Paulo – Um levantamento feito pelas universidades de São Paulo (USP) e Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontou que o custo do trabalho na China subiu em média 140% entre 2002 e 2008, quando entrou em vigor a atual legislação trabalhista chinesa. A hora trabalhada no país passou a custar US$ 1,36. No entanto, o valor ainda é 23 vezes inferior ao pago nos Estados Unidos e seis vezes menor que o registrado no Brasil.

Apesar do aumento dos custos trabalhistas, a China continua a ter boa produtividade industrial, o que mostra que o desenvolvimento do país não está atrelado somente aos gastos com mão de obra, na avaliação do coordenador da pesquisa e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, Gilmar Masiero.

“A ideia de que o custo da mão de obra por si só explicava a produtividade chinesa sempre foi um mito, porque temos mão de obra barata na Bolívia, no Paraguai e não há desenvolvimento nesses países,” argumentou.
Embora muitas empresas, tanto públicas quanto privadas, tenham deixado a região costeira (fronteira com Hong Kong) para o interior em busca de reduzir os custos com trabalhadores, a produtividade tem sido favorecida pelo investimento em tecnologia como, por exemplo, na diversificação da matriz energética, com opções de exploração da energia solar e eólica, conforme Masiero.

Em 2009,o número de empregados chineses somava 780 milhões, o equivalente a 58,4% da população, sendo que 311 milhões (40%) concentravam-se nas zonas urbanas, de acordo com a pesquisa.

Encomendada pelo governo federal, a pesquisa resultou no livro A Competitividade Industrial Chinesa, em 2009. Segundo o secretário-executivo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE-PR), Roger Leal, o Brasil estuda aumentar sua competitividade no cenário mundial e é necessário conhecer o ambiente da economia chinesa. “Do ponto de vista da economia internacional não há mais como se pensar as relações internacionais e a questão da competitividade sem pensar o fenômeno chinês.”
Os dados foram divulgados hoje (4), após encontro sobre a competitividade da indústria chinesa no século 21, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Fonte: Agência Brasil

Rotatividade do mercado de trabalho aumenta e preocupa governo


Brasília – A rotatividade nos postos de trabalho vem crescendo no país, ao longo dos últimos anos. De acordo com estatística da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a taxa de rotatividade alcançou 36 pontos em 2009, número mais recente. Dois anos antes, era 34,3 pontos. O ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto, já  manifestou preocupação com o fenômeno.

Brizola Neto defende a regulamentação do Artigo 239 da Constituição Federal como forma de conter o aumento dessa estatística. No Parágrafo 4º da norma, há a previsão de pagamento de contribuição adicional por parte das empresas com rotatividade acima da média de seu setor. A rotatividade informada pela Rais é medida em uma escala de 0 a 100. Quanto mais alta, maior o risco de se perder o emprego.  

O crescimento da rotatividade medida pela Rais é acompanhado de aumento do desemprego.De acordo com números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), as demissões vêm aumentando nos últimos dois anos. No acumulado de janeiro a julho, 11,8 milhões de trabalhadores perderam o emprego, mais que o dado divulgado em julho do ano passado, quando o governo contabilizou 11,3 milhões de demissões.

As demissões também aumentaram na observação do acumulado dos últimos 12 meses. De agosto de 2011 a julho de 2012 ocorreram 20,1 milhões de demissões. No mesmo período de 2010 e 2011, as demissões somaram 19,1 milhões. No mês de julho desse ano, foram criados mais de 1,7 milhões de empregos formais. No entanto, houve, aproximadamente 1,6 milhões de demissões.

A rotatividade é um dos fatores que levam à precarização das relações de trabalho, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Quanto mais flexíveis as regras para se demitir um funcionário e mais informais os vínculos de trabalho, mais os empregadores tiram proveito da oferta de mão de obra, reduzindo seu custo e os benefícios associados.

A rotatividade, desse modo, pode indicar os níveis de informalidade da economia, de insegurança em relação às remunerações e, ainda, de acesso do trabalhador à proteção social e à Previdência.

O tema é objeto da Convenção 158 da OIT, sobre a dispensa desmotivada do trabalhador, ratificada pelo Brasil em 2008. Segundo essa convenção, um funcionário não deve ser demitido a menos que exista causa justificada, relacionada à capacidade ou ao comportamento e garantido o direito à ampla defesa, ou motivos econômicos, tecnológicos ou análogos, com necessidade de comprovação pela empresa.

Segundo dados da Rais, o setor da construção civil contrata muito, mas é o que mais demite trabalhadores, com taxa de rotatividade de 82,6 pontos. Os setores que têm menos rotatividade, por outro lado, são a administração pública direta, com taxa de 10,6%; os serviços industriais de utilidade pública, com taxa de 12,2%, como o fornecimento de água, luz, esgoto; e os correios – geralmente prestados por empresas também públicas. A estabilidade nesses setores, segundo a Agência Brasil apurou, é um dos maiores atrativos para quem busca trabalhar no serviço público.

As principais causas de desligamento, segundo dados do Ministério do Trabalho, são rescisão sem justa causa por iniciativa do empregador (52,1%), por iniciativa do empregado (19,4%), término de contrato (19,2%), transferência do empregado dentro da mesma empresa (5,9%) e rescisão com justa causa, por iniciativa do empregado ou do empregador (1,3%).

Fonte: Agência Brasil

Falta de estabilidade afeta empregos de alta e baixa qualificação


Brasília – Luiza Pereira, 38 anos,  e Teresa da Silva, 32 anos, a Tetê, são amigas e trabalham juntas há cerca de 15 anos. São manicures e buscam sempre atuar em dupla. Enquanto uma faz a mão, a outra faz o pé. No último ano, as duas já trocaram de emprego três vezes. Ficaram, em média, cerca de quatro meses em cada salão.

Luiza e Tetê têm famílias para sustentar. Ambas são responsáveis pela maior parte da renda familiar. A constante troca de local de trabalho é um problema na vida das duas. O setor de serviços, em que trabalham, tem índice de 37,7% de rotatividade, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), atrás da construção civil, da agricultura e do comércio.

“Tenho medo de sair de casa de manhã e voltar à noite demitida porque o salão fechou ou porque alguma cliente não gostou do serviço”, disse Luiza.

De acordo com o psicólogo e professor na área de psicologia do trabalho e saúde do trabalhador da Universidade de Campinas (Unicamp), Roberto Heloani, a demissão é uma ameaça que ronda boa parte das categorias profissionais. Para ele, a falta de empregabilidade afeta trabalhadores de alta e de baixa qualificação.

“Esse medo de perder ou reter o emprego começa na própria busca.  Ter [cursado] uma faculdade não é mais garantia. Há tempos atrás, uma pessoa de classe média fazia uma faculdade e tinha praticamente emprego garantido. Hoje, isso não ocorre mais. Corre-se o risco de ter feito uma universidade de primeira linha e ter dificuldade de encontrar até um estágio. A sensação de incerteza começa cedo”, informou Heloani.

Tetê, a manicure, explicou que, para tentar minimizar o risco de demissão, investiu em cursos na área de estética. “Aprendi também a fazer sobrancelhas e tratar de cabelos, como fazer hidratação e outros tipos de tratamento. Meu sonho é ter um dia a minha clínica de estética”, disse.

O professor Roberto Heloani alertou, no entanto, contra a busca incessante por capacitação, que nem sempre garante o retorno pretendido. Segundo ele, a atualização do empregado pode ajudar em certos momentos, mas não garante emprego e estabilidade que, em muitos casos, estão relacionados a fatores que não dependem do esforço do trabalhador – como a economia ou as finanças da empresa.

“A lógica de qualificação que temos hoje é idealizada. Se cobra tanto, se quer tanto, que é impossível o trabalhador cumprir todos os requisitos. A angústia acaba sendo um sentimento onipresente. Temos que desconstruir essa lógica. Muitos são demitidos porque são peças que não se encaixam mais em uma jogo altamente complexo”, explicou o professor.

Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que transtornos mentais são a maior causa de afastamento no trabalho na última década. Para Heloani, o próprio medo do desemprego acaba levando à demissão, gerando um paradoxo.

“Em primeiro lugar, o trabalhador não pode se culpar e acreditar que não consegue manter o emprego por alguma deficiência ou falta de dedicação. Há uma fortíssima tendência a fazer isso. Os danos psíquicos são muitos, o que engrossa essas estatísticas da OIT,  em que boa parte dos casos, o transtorno mental é a depressão severa que acaba levando à incapacitação”, informou.

Fonte: Agência Brasil