Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Petrobras manterá importação recorde de gás por seca em 2014, dizem fontes

RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO, 4 Fev (Reuters) - Os volumes recordes de importação de gás pela Petrobras deverão se repetir em 2014, diante da seca prolongada que afeta reservatórios das hidrelétricas e determina o despacho de térmicas a gás, numa situação já vivenciada no ano passado.

As importações de gás natural saltaram de cerca de 36 milhões de metros cúbicos diários em 2012 para a marca histórica de 47 milhões de metros cúbicos por dia em 2013, mostram dados oficiais.

"Do jeito que está o calor, o verão, não tem jeito. Vamos manter o patamar do ano passado e importar bem", disse uma fonte com conhecimento da situação, na condição de anonimato.

Importações no mercado à vista, feitas em geral quando há uma necessidade maior, normalmente são realizadas a valores mais elevados do que aquelas contratadas, o que colabora para aumentar gastos da Petrobras com compras externas de combustíveis, segundo especialistas.

Outra fonte ligada à empresa concorda que a Petrobras deverá no mínimo manter os volumes importados de 2013, podendo até ter de aumentá-los neste ano.

Isso ocorreria porque, além da menor geração por hidrelétricas, há uma maior necessidade de energia pelo crescimento da demanda de os outros segmentos do mercado, segundo a fonte.

ALTA NOS GASTOS

A Petrobras importa gás natural da Bolívia por meio de contrato de longo prazo e também Gás Natural Liquefeito (GNL) de diversas fontes, normalmente no mercado "spot", a preços mais elevados.

A estatal gastou até setembro do ano passado o equivalente a todo o valor desembolsado para comprar gás em todo o ano de 2012, mostram dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

A compra de gás no mercado à vista, diante da demanda emergencial gerada pelas térmicas, é um dos fatores por trás desses gastos adicionais.

Segundo o presidente da consultoria Gas Energy, Marco Tavares, a Petrobras deve estar registrando uma perda neste momento de cerca de 250 milhões de reais por mês, já que precisa importar gás no mercado "spot" a preços altos entre 16 a 17 dólares por milhão de BTU, mas vende a cerca de 10 dólares por milhão de BTU.

O preço do gás no "spot" está alto já que o frio no hemisfério norte também aquece a demanda pelo combustível naquela região, e a Petrobras não pode repassar a diferença para os contratos com termelétricas.

"Como o mercado de GNL agora teve uma subida grande, a Petrobras está tendo um prejuízo. Isso já aconteceu quase todo o primeiro semestre do ano passado", disse, acrescentando que a perda mensal calculada no ano passado era de cerca de 200 milhões de reais por mês.

Procurada, a Petrobras não comentou informações relacionadas à importação de gás.

Se perde no fornecimento do insumo, a Petrobras, que também atua na geração térmica, pode ter ganho na venda de energia elétrica, com o acionamento de mais unidades.

IMPORTAÇÕES BILIONÁRIAS

De janeiro a novembro do ano passado, as importações de gás natural pelo Brasil consumiram cerca de 6,6 bilhões de dólares, de acordo com a ANP.

Em janeiro de 2013, quando os reservatórios da hidrelétricas também estavam em níveis críticos, as importações de gás natural dispararam 120 por cento em relação ao mesmo mês de 2012, segundo o órgão regulador, que ainda não publicou dados de 2014.

Naquele mês, quando mercado até temeu o perigo de racionamento de energia, praticamente toda a capacidade termelétrica do país foi acionada e assim ficou principalmente ao longo do primeiro semestre.

Em janeiro deste ano, a seca atípica voltou a atingir a região Sudeste, levando à redução dos nível dos reservatórios em plena estação úmida, e as térmicas do país passaram a gerar a praticamente toda capacidade.

Segundo Tavares, as térmicas do sistema interligado de gasodutos estão consumindo atualmente entre 36 milhões e 38 milhões de metros cúbicos por dia. Outros 7 milhões estão sendo consumidos por térmicas nos sistemas isolados do Maranhão e outros 5 milhões no Amazonas.

O consumo brasileiro de gás natural em 2013 cresceu 17,8 por cento no Brasil, para cerca de 67,2 milhões de metros cúbicos por dia, estima a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), com a Petrobras batendo recorde de fornecimento do produto nacional ao mercado.

GNL

Segundo dados do Boletim Mensal de Acompanhamento da Indústria de Gás Natural do governo federal, publicado em dezembro de 2013, o volume importado da Bolívia variou de cerca de 31 milhões a 32 milhões de metros cúbicos por dia em 2013. As cargas de GNL representam cerca de metade das importações da Bolívia, ou um terço das importações totais.

No ano passado, foram importadas pela Petrobras entre 80 e 85 cargas de GNL, em razão da forte demanda térmica e elétrica no país, disse a primeira fonte com conhecimento direto do assunto ouvida pela Reuters. Foi o maior volume já importado pela estatal.

"A não ser que tenhamos um inverno muito chuvoso... a previsão é de manter este patamar... Lá pelo meio do ano, no nosso inverno, entre junho, julho e agosto temos que ver qual vai ser o volume de chuva", acrescentou a fonte.

Fonte: Reuters Brasil

Partes do Norte, Sudeste e Sul do Brasil sofrem apagão por falha em sistema

SÃO PAULO (Reuters) - Regiões no Norte, Sudeste e Sul do país tiveram o fornecimento de energia elétrica interrompido nesta terça-feira após uma "perturbação" no sistema elétrico nacional, segundo informações do Operador Nacional do Sistema (ONS).

Às 14h03, a "perturbação" no sistema nacional causou o desligamento da transmissão de energia entre a entre a região Norte e as regiões Sudeste e Sul, entre Colinas (MA) e Serra da Mesa (GO), interrompendo o fluxo de 5 mil megawatts (MW) para essas regiões, informou o ONS, em nota.

Para evitar que a interrupção se propagasse, o ONS solicitou o alívio de energia, causando o desligamento automático de cargas pré-selecionadas pelos agentes distribuidores locais.

"Às 14h41, a interligação Norte-Sudeste foi religada e a frequência normalizada", informou o ONS.

O processo de recomposição das cargas de energia desligadas para retomada do fornecimento já foi iniciado.

A Eletropaulo, em São Paulo, a Celesc, de Santa Catarina, e a Light, no Rio de Janeiro, são algumas das distribuidoras que interromperam o fornecimento de energia elétrica.

A Light desligou 17 subestações de energia a pedido do ONS, interrompendo o fornecimento de energia para cerca de 600 mil clientes. Já a Eletropaulo informou que o desligamento atingiu regiões nos municípios de Cotia, Vargem Grande Paulista, Embu e Diadema, na Grande São Paulo. O problema atingiu também os bairros da capital paulista Capão Redondo, Pedreira, Cidade Ademar, Mooca, São Mateus, Vila Prudente, Itaquera, Vila Mariana, Guaianases e Vila Matilde.

A CEEE-D, que atua no Rio Grande do Sul, informou que também teve áreas afetadas, mas não detalhou o total.

Fonte: Reuters Brasil

Dólar cai quase 1% e volta a R$2,41 com anúncio de rolagem de swap

SÃO PAULO, 4 Fev (Reuters) - O dólar fechou em queda de quase 1 por cento e voltou a 2,41 reais nesta terça-feira, em reação ao anúncio do Banco Central na véspera de que dará início ao processo de rolagem dos contratos de swap cambial tradicional que vencem em março e em linha com a depreciação da divisa dos Estados Unidos sobre outras moedas emergentes.

A moeda norte-americana perdeu 0,90 por cento, a 2,4152 reais na venda, mas chegou a bater 2,4061 reais na mínima do dia. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 1,1 bilhão de dólares.

"Com certeza, se o BC não tivesse anunciado a rolagem antecipadamente, o dólar estaria subindo", afirmou o analista do Brasif Gestão André Santoro.

O BC informou após o fechamento da sessão anterior que iniciará na quinta-feira a rolagem do equivalente a 7,378 bilhões de dólares em swaps que vencem em 5 de março,aumentando a oferta de hedge num momento de turbulência externa, sobretudo nos mercados emergentes.

A autoridade monetária tem rolado integralmente os swaps que venceram nos últimos meses e analistas afirmam que essa rodada não deve ser exceção. Desta vez, o BC anunciou a rolagem mais cedo, em meio à forte pressão sobre o dólar.

Durante a manhã, o BC também deu continuidade às intervenções diárias, vendendo a oferta total de até 4 mil swaps tradicionais com volume financeiro equivalente a 197,0 milhões de dólares. Foram 730 contratos para 1º de agosto e 3.270 contratos para 1º de dezembro deste ano.

A depreciação do dólar ante o real veio em linha com a queda da divisa norte-americana sobre outras moedas emergentes, que vêm sofrendo intensa pressão nas últimas semanas em meio à onda global de mau humor com países em desenvolvimento.

Nesse contexto, o dólar chegou a ser negociado a 2,45 reais em alguns momentos na semana passada, patamar identificado por alguns no mercado como um importante teto de resistência por ameaçar a inflação já elevada no país.

"O nível de 2,45 reais tem dado uma balizada no mercado, com o pessoal voltando a puxar o dólar para baixo quando passa disso", disse o operador de câmbio da corretora B&T, Marcos Trabbold.

Analistas ressaltam que o cenário de volatilidade deve continuar assolando os mercados emergentes, mesmo que de maneira um pouco diferenciada.

A valorização do dólar ante o real desde o início do ano até agora (2,45 por cento) é a segunda menor dentro de uma cesta de oito moedas emergentes, à exceção do peso argentino, perdendo apenas para a rúpia indiana. O maior avanço veio sobre o rublo russo, que somou 6,42 por cento até esta sessão.

Fonte: Reuters Brasil

'Bandeira tarifária' já teria encarecido conta de luz

Se o governo não tivesse adiado a entrada em operação do sistema de bandeiras tarifárias, que indicará se a energia vai custar mais ou menos, o brasileiro já teria de começar a controlar o uso da eletricidade para não levar um susto no fim do mês. Durante este ano, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) vai publicar as bandeiras estipuladas para cada mês, como teste. Para fevereiro, será vermelha, o que significaria um acréscimo de R$ 3 a cada 100 quilowatt (kW) consumido.
As bandeiras tarifárias - verde, amarela e vermelha - serão definidas com base nas condições de geração de energia no País. Como neste momento o sistema vive sob forte estresse por causa das chuvas abaixo da média histórica - o terceiro pior volume em 84 anos -, a bandeira é vermelha. O mecanismo repassa mensalmente para a conta de luz os gastos com geração termelétrica, necessárias para compensar a queda no nível dos reservatórios.

Ao mesmo tempo, o sistema permite ao consumidor decidir se reduz o uso da eletricidade ou se paga mais por ela. No mês passado, a bandeira definida pela Aneel era amarela, que significaria acréscimo de R$ 1,50 a cada 100 kW (na verde, não há aumento).

Segundo cálculos da consultoria Thymos Energia, nesse caso a conta de luz de um brasileiro que não conseguisse reduzir o consumo seria 9% maior. No caso das indústrias, o impacto seria bem mais pesado: 11%.

O sistema deveria entrar em vigor em janeiro deste ano, mas foi adiada para janeiro de 2015. Segundo a Aneel, a prorrogação foi necessária para o aperfeiçoamento do mecanismo. Mas, entre especialistas, a decisão foi interpretada como forma de controlar os impactos do aumento da conta de luz na inflação em ano de eleição.

Zerada

O diretor de Regulação e Gestão em Energia da Thymos Energia, Ricardo Savoya, observa que, se as bandeiras tarifárias estivessem em vigor no ano passado, a redução promovida na tarifa pela MP 579, que tratou da renovação dos contratos de concessão, teria sido praticamente zerada.

"Em média, o pacote lançado pelo governo em setembro de 2012 reduziu os custos em 14%. Considerando o volume de térmicas acionadas no ano passado, com as bandeiras tarifárias, a redução teria sido de 4%", calcula o executivo.

A situação não seria diferente neste ano. Na semana passada, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinou a entrada de 15,5 mil megawatts (MW) de energia termoelétrica para evitar a redução dos reservatórios, especialmente na Região Sudeste - que no domingo estava em 39,98% da capacidade de armazenamento.

Embora seja um teste, as distribuidoras divulgarão, na fatura mensal, a simulação da aplicação das bandeiras. O consumidor poderá compreender qual bandeira estaria valendo se o sistema já estivesse em funcionamento.

Fonte: Jornal de Brasília

IPC-Fipe acelera alta a 0,94% em janeiro por Educação e Despesas Pessoais

SÃO PAULO , 4 Fev (Reuters) - O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) de São Paulo encerrou janeiro com alta de 0,94 por cento, depois de avançar 0,65 por cento em dezembro, pressionado principalmente pelos preços de Educação e de Despesas Pessoais, informou nesta terça-feira a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Na terceira quadrissemana de janeiro, o IPC-Fipe tinha subido 0,86 por cento no período anterior.

O resultado final de janeiro ficou acima da expectativa em pesquisa da Reuters, cuja mediana de 9 analistas apontava alta de 0,90 por cento, com as projeções variando entre 0,70 e 0,93 por cento.

Segundo a Fipe, o grupo com maior peso sobre a variação do índice foi Educação, com 0,2474 ponto percentual, após registrar alta de 6,95 por cento em janeiro, ante variação positiva de 0,07 por cento no mês anterior.

O segundo maior peso veio de Despesas Pessoais, com alta de 1,96 por cento, representando 0,2319 ponto percentual.

O mercado aguarda agora a divulgação na sexta-feira do resultado do IPCA de janeiro, depois de o alto nível dos preços no ano passado ter levado o Banco Central a elevar a Selic no início do ano em 0,5 ponto percentual, para 10,5 por cento.

A divulgação do IPC-Fipe referente à primeira quadrissemana de fevereiro ocorrerá em 11 de fevereiro.

O IPC-Fipe mede as variações quadrissemanais dos preços às famílias paulistanas com renda mensal entre 1 e 10 salários mínimos.

Fonte: Reuters Brasil

Indústria avança 1,2% em 2013 mas tem em dezembro pior resultado em 5 anos

RIO DE JANEIRO, 4 Fev (Reuters) - A produção industrial brasileira encerrou 2013 com alta acumulada de 1,2 por cento, com destaque para o setor de Bens de Capital, mas em dezembro registrou o pior resultado mensal em cinco anos ao recuar 3,5 por cento, o que aponta para um início de 2014 complicado.

Em 2012, a produção industrial brasileira registrou a primeira retração desde 2009 ao recuar 2,5 por cento, em número revisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira.

Já a queda da produção em dezembro ante novembro foi a segunda seguida e marcou o pior resultado desde dezembro de 2008, quando a atividade mostrou recuo de 12,2 por cento. Foi também bem pior do que a expectativa em pesquisa da Reuters, cuja mediana apontava queda de 1,50 por cento.

Na comparação com dezembro de 2012, a produção caiu 2,3 por cento, ante expectativa do mercado de estabilidade.

De acordo com o IBGE, entre as categorias de uso o destaque do ano passado ficou para Bens de Capital, uma medida de investimento, que mostrou alta de 13,3 por cento no acumulado do ano. Entretanto, somente em dezembro essa categoria teve uma queda de 11,6 por cento ante novembro.

Já Bens Intermediários mostrou estabilidade no ano passado, mas recuou 3,9 por cento em dezembro. Por sua vez, Bens de Consumo mostrou queda de 0,2 por cento em 2013 e de 2,5 por cento no último mês do ano passado.

A queda mensal dos Bens de Consumo foi resultado de recuos tanto em Duráveis quanto em Semiduráveis e não Duráveis, de 3,0 e 2,3 por cento respectivamente.

A indústria brasileira apresentou um comportamento errático ao longo do ano passado, o que dificultou a recuperação da economia como um todo.

O IBGE ainda revisou o resultado de novembro sobre outubro para queda de 0,6 por cento, ante recuo de 0,2 por cento divulgado anteriormente. Na comparação anual em novembro, o avanço foi revisado para 0,3 por cento, de 0,4 por cento.

Fonte: Reuters Brasil

Política de Dilma é criticada até por keynesianos

Dilma Rousseff tem a sua imagem, frequentemente, atrelada à escola keynesiana, pela defesa à intervenção estatal na economia. Foto: Antonio Cruz/Ag.Br
Modelo econômico comemorado em 2010 já não é consenso. Economistas querem investimento, mas não sabem de onde virá

Rio - Inflação próxima do teto da meta, balança comercial deficitária, desvalorização cambial crescente e cenário externo preocupante. Um ambiente de instabilidade está dando margem a críticos do governo da presidenta Dilma Rousseff, em ano de eleição, para questionar a política econômica que, em artigo publicado em 2010, o então secretário do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa (atual pesquisador da Fundação Getúlio Vargas), classificou como caso de sucesso. "Durante o governo Lula, o Brasil iniciou uma nova fase de desenvolvimento econômico e social, em que se combinam crescimento econômico com redução das desigualdades sociais", comemorou, então, Barbosa.

Com um Produto Interno Bruto (PIB) negativo em 0,5% no terceiro trimestre de 2013, comparado a igual período anterior, e o processo de retração da desigualdade estagnado, como demonstra a Pesquisa por Amostras de Domicílio (Pnad) de 2012, academia e mercado questionam: a fórmula desandou?

Em seu artigo, na época em que o Brasil avançava a ritmo chinês, Barbosa atribuiu o crescimento à mão do "Estado no estímulo ao desenvolvimento e no planejamento de longo prazo", uma clara alusão à teoria de John Maynard Keynes, teórico do século XX, defensor da tese de que o ciclo econômico não é auto-regulado. A própria presidenta Dilma Rousseff tem a sua imagem, frequentemente, atrelada à escola keynesiana, pela defesa à intervenção estatal na economia - como a decisão de segurar os preços dos combustíveis vendidos pela Petrobras e também da energia elétrica, contrariando os interesses empresariais. Seu orientador de mestrado na Unicamp foi o professor keynesiano Manoel Cardoso de Melo.

A esse grupo se contrapõem os neoliberais, credores no poder dos fundamentos financeiros para equilibrar a economia. No entanto, atualmente, diante de perspectivas não tão otimistas quanto as de três anos atrás, a presidenta enfrenta crítica de ambos os lados e não chega a ser reconhecida como uma fiel representante por nenhum deles. Presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), o professor da Universidade de Brasília (UNB) José Luis da Costa Oreiro enxerga na atual política econômica uma flexibilização do modelo econômico do "tripé" - câmbio flutuante, metade inflação e superávit primário - inaugurado pela equipe de Fernando Henrique Cardoso.

"Não houve mudança na matriz macroeconômica. O que foi feito foi alongar a convergência do centro da meta da inflação, reduzir a meta de superávit primário e manter o regime de flutuação cambial, mas com indução de valorização por meio de mais controle da entrada de capitais. Foi mantida a lógica do modelo anterior, só que o governo passou a testar os seus limites", diz Oreiro.

Em sua opinião, não é suficiente flexibilizar o tripé, criado para conter a inflação, para garantir crescimento econômico. Em vez disso, sua principal proposta é que o governo adote um sistema de meta de poupança pública, com foco no investimento. "Essa é a regra de ouro da política fiscal de Keynes, na qual o endividamento público só pode ocorrer para financiar investimento e não o consumo. É claro que é uma mudança que não pode ser feita do dia para a noite", ressalta o professor da UnB, salientando, em seguida, que a taxa de poupança pública hoje é negativa em 1% do PIB e que o ideal seria estar em 5%. "Não é uma política de austeridade, mas de mudança do perfil do déficit. É uma mudança da composição da poupança. O ideal é financiar todo o investimento com poupança interna e zerar a externa".

O que está em questão no debate sobre a política econômica atual, a mesma comemorada no artigo de Barbosa de 2010, é o gasto do governo e a sua capacidade de investimento em um ambiente externo mais hostil, diz o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. "A única coisa a ser feita é mostrar sinais fiscais menos expansionistas, evitar custeio. Exatamente o que ninguém sabe, porque o grau de mau humor chegou a um grau muito elevado", opina. Ele reclama de uma má vontade dos economistas. "Chegamos num ponto em que o mercado exige que o governo jogue o país para a recessão".
Solução à crise é tema de dossiê de Associação

A crise econômica internacional e o sentimento de falência do modelo neoliberal que predominou no cenário externo a partir de 2008 fortaleceu no Brasil um grupo de economistas que veem na mão do Estado a solução. Em meio à turbulência, foi criada a Associação Keynesiana Brasileira (AKB), em 2008. Sua função, desde então, é desenvolver o conhecimento da teoria do britânico John Maynard Keynes, para quem a "mão invisível" do mercado não funciona por si só contra situações de concentração de renda e desemprego. Em vez disso, a saída para os keynesianos está na intervenção do governo na economia.

Hoje, após seis anos de criação da entidade, cerca de 150 economistas brasileiros aderiram à AKB. São professores universitários, analistas de mercados, entes do governo e profissionais da iniciativa privada que apostam na intervenção do Estado como complementação aos mercados privados. Economistas formados, sobretudo, nas universidades federais - como Unicamp, UFRJ, UFMG e Universidade Federal de Uberlândia -, de diferentes orientações partidárias.

Anualmente, a AKB organiza um encontro internacional. Neste, acontecerá em agosto, na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, com homenagem ao economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, e minicurso de Nelson Barbosa, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV).

Além do fórum, os keynesianos brasileiros também produzem dossiês da crise. O terceiro e último, publicado em 2013, teve o sugestivo título "A economia brasileira na encruzilhada".

Fonte: Brasil Econômico