O dinheiro está voltando aos mercados emergentes, puxando as bolsas para cima e causando um aumento nas captações, à medida que a calmaria nos Estados Unidos, combinada aos juros baixos, levou investidores globais a tentar obter melhores retornos antes do fim do ano.
Investidores famintos por melhores rendimentos estão se aventurando mais em territórios de alto risco. Nas últimas duas semanas, eles compraram até US$ 1,8 bilhão de ações de bancos chineses na bolsa de Hong Kong. No mesmo período, o mercado de ações da Índia subia para níveis recordes. O Brasil emitiu US$ 3,25 bilhões em títulos de dívida, sua maior oferta de títulos em dólares já registrada. O Paquistão, por sua vez, anunciou na segunda-feira que vai vender títulos de dívida no mercado internacional pela primeira vez em seis anos.
Essa recuperação perto do fim do ano dá aos investidores, que são avaliados por sua performance anual, uma oportunidade para recuperar o terreno perdido. Os balanços de 2013 serão fechados em menos de dois meses e os retornos dos mercados emergentes decepcionaram durante uma boa parte do ano. Mesmo assim, o fluxo de capital não tem a mesma escala registrada no começo do ano, nem todos os mercados emergentes estão se beneficiando dele.
O entusiasmo é resultado da sinalização do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, de que vai manter o ritmo de seu programa de compra de títulos de dívida, despejando US$ 85 bilhões nos mercados a cada mês, uma iniciativa que tem mantido baixas as taxas de juros dos ativos mais seguros e atraído aos mercados emergentes grandes investidores institucionais que buscam obter retornos melhores.
Isso está abrindo uma última janela de oportunidade para que empresas e governos captem recursos a custos baixos antes que as taxas de juros comecem a subir, o que poderia acontecer no próximo ano, segundo previsões de economistas. Trata-se também de uma reversão de tendência em relação a alguns meses atrás, quando as preocupações de que o Fed poderia reduzir suas políticas de estímulo ainda este ano provocaram uma venda generalizada de ativos em mercados emergentes, já que os investidores previam retornos mais altos para papéis de baixo risco no mundo desenvolvido.
"A preocupação e o pânico sobre redução [do estímulo] pelo Fed foram provavelmente exagerados", diz Pierre-Yves Bareau, diretor de investimentos para o mercado de dívida de países emergentes do J.P. Morgan Asset Management, que gerencia US$ 1,5 trilhão em ativos ao redor do mundo. "Os mercados voltaram a uma posição mais racional."
Bareau diz que sua firma investiu em uma ampla gama de ativos de mercados emergentes depois da liquidação de alguns meses atrás, incluindo títulos de dívida soberana com maior prazo de maturação e divisas. A estratégia de investimento em câmbio já se esgotou e agora a empresa está aumentando sua exposição a títulos de dívida de empresas para substituí-la.
Algumas das maiores operações estão acontecendo em mercados que até então vinham sendo punidos. A Índia sofreu muito durante o êxodo do meio do ano porque muitos investidores temiam que, se a fonte de capital estrangeiro secasse, o país teria dificuldade para financiar seu déficit comercial. Mas agora a rúpia já subiu 6% depois de ter atingido um recorde de baixa em 28 de agosto. Nos últimos três meses, as ações indianas têm obtido o melhor desempenho da Ásia, subindo mais de 10%, para níveis recordes.
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A disponibilidade de capital estrangeiro também está estimulando uma onda de emissões de títulos de dívida corporativa. Empresas de mercados emergentes já venderam US$ 71 bilhões em títulos desde junho, elevando o total do ano para US$ 236 bilhões, quase um terço a mais do que o volume vendido até essa época do ano em 2012, de acordo com a Dealogic, empresa provedora de dados.
As empresas estão correndo para fechar negócios agora, antes de meados de dezembro, quando os operadores tipicamente começam a tirar férias e o mercado para novas emissões começa a perder força. O salto na atividade reflete eventos nos EUA, onde os investidores estão apostando em aberturas de capital no ritmo mais alto desde a crise financeira.
A América Latina, em particular, tem oferecido boas oportunidades para os investidores em busca de barganhas, depois que os retornos de títulos corporativos na região subiram quase 7% desde a liquidação do meio do ano. O mercado acionário da Argentina se destaca, com uma alta de 80% desde julho.
"Desde que o mercado começou a se recuperar, a maior parte do valor tem sido gerado na América Latina", diz Zara Kazaryan, gerente de fundos de renda fixa na Threadneedle Investiments, em Londres, que administra uma carteira de 84,9 bilhões de libras (US$ 136,2 bilhões) em ativos.
Kazaryan diz que o fundo dela vai aumentar sua exposição a títulos de dívida corporativos da América Latina este ano e que vai considerar também investir em ativos de alto rendimento em todos os mercados emergentes. Contanto que os rendimentos dos títulos do Tesouro americano não subam, diz ela, os títulos de dívida dos mercados emergentes vão continuar subindo.
Investidores dizem que as ações da China estão baratas e por isso eles estão correndo para comprar naquele mercado.
Boa parte dessa onda de ofertas de títulos de dívida e ações está acontecendo porque há uma grande quantia de dinheiro disponível no mercado. O J.P. Morgan Chase JPM +0.17% & Co. estima que US$ 66 trilhões estão circulando pelo sistema financeiro, um volume recorde e 4,6% maior do que no começo do ano.
A volatilidade, um barômetro importante de como os investidores se sentem em relação ao risco, diminuiu bastante, tanto no mercado de câmbio como no de ações, uma mudança que está encorajando os investidores a comprar sem medo de oscilações bruscas.
Alguns observadores, no entanto, alertam que esse renascimento dos mercados emergentes pode resultar em um abalo ainda mais severo quando o Fed finalmente começar a reduzir seu programa de compra de títulos de dívida.
"Há o risco de que a liquidação que vimos [em meados do ano] tenha sido só a primeira fase de uma deflação maior nos preços dos ativos de mercados emergentes", diz Brendan Brown, chefe de pesquisa econômica da Mitsubishi UFJ Securities International. Brown diz que um aperto monetário na China ou o desaquecimento de bolhas nos mercados imobiliários de países como o Brasil e a Índia poderiam desencadear uma queda global nos preços de ativos dos mercados emergentes.
"Os atrativos dos mercados emergentes eram dois: liquidez e fundamentos. Eu acho que o que vamos descobrir é que se tratava mais de liquidez do que de melhorar os fundamentos", diz Marc Chandler, diretor global de estratégia de câmbio da Brown Brothers Harriman. "Estamos próximos do pico da liquidez."
Fonte: The Wall Street Journal
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