sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Bancos estrangeiros vão financiar infraestrutura

Há forte aposta nas concessões de aeroportos e estradas. A avaliação é de que a concorrência será maior nestas duas áreas

São Paulo - Bancos estrangeiros também vão entrar como financiadores nas concessões de infraestrutura no Brasil. Há forte aposta principalmente nos leilões de aeroportos e rodovias.

O HSBC confirmou que já tem mandatos voltados para os leilões anunciados pelo governo. "Temos estudos de interesse por concessões", afirmou Sergio Monaro, diretor de Project Finance do HSBC.

Na avaliação de Monaro, há uma expectativa de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reduza o spread nos repasses dos recursos para financiamento às concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, mas ainda não há nada efetivo neste sentido. "O governo quer sentir primeiro a motivação dos bancos. As condições ainda estão sendo definidas", disse.

O spread do BNDES hoje nos repasses aos bancos é de 0,75 ponto percentual. A meta é reduzir este índice para baixar o custo dos empréstimos na ponta final. "O governo está tentando algumas flexibilizações."

Monaro ressalta que o governo vai criar formas de agrupar os bancos para que eles façam o repa sse dos recursos. " Mas o modelo em si não muda."

Embora os empresários interessados nas novas concessões reclamem da chamada taxa de retorno dos investimentos nas concessões, os bancos avaliam que a taxa oferecida pelo governo pode ser considerada atrativa. "É uma questão meio polêmica. A taxa interna de retorno desalavancada, que é a TIR do projeto, não é a rentabilidade do acionista na parcela de equity do projeto. É a taxa de retorno dos fluxos do projeto. Essa taxa de 7,2% anunciada pelo governo para rodovias, por exemplo, leva em conta os números com as premissas do governo", explica Alberto Zoffmann, diretor de Project Finance do Itaú BBA.

"Quando você coloca a possibilidade de financiar 60%, 70%, 80% dos recursos, através do BNDES, no longo prazo, essa taxa interna sobe para a faixa de 15% a 16%, o que o governo mesmo tem dito... Ou seja, é uma taxa acima da inflação, acima do IPCA, o indexador normalmente usado para essas operações. Então parece bem atrativa olhando sob essa ótica", acrescenta Zoffmann.

A questão, segundo o diretor do Itaú BBA, é que toda a análise parte de premissas do governo. O temor das empresas é que o custo que elas assumirão fique acima do que foi estimado pelo governo, fazendo com que a taxa de retorno convirja para os 7,2% citados inicialmente.

Já o professor Carlos Rocca, do Centro de Estudos do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), acredita que para atrair mais investidores privados para as concessões o governo precisa repetir o que fez no caso das rodovias: desistir de tabelar a taxa de retorno dos projetos. "Considerando as duas concessionárias com ações em bolsa, a taxa de retorno exigida pelos investidores é de cerca de 11% ao ano, em termos reais", diz, referindo-se a um estudo realizado em junho. "Essa taxa pode variar com o tempo e de acordo com a conjuntura. Mas essa é uma taxa de empresas estabelecidas, com receitas conhecidas. Para um projeto novo, o risco é maior e a exigência dos investidores idem".

Para Rocca, os fundos de pensão, porém, podem aceitar taxas menores, por uma série de razões - não pagam imposto de renda, e têm horizonte de longo prazo para as aplicações que, por estatuto, precisam render algo como 4,5% mais o IPCA.

O problema é o enorme volume de investimentos que serão necessários em tão pouco tempo. O governo não tem como financiar tudo e os bancos privados não tem funding de longo prazo. "Por isso, fixar uma taxa de retorno do projeto é uma má ideia. Para viabiliza-la seria preciso que o governo emprestasse recursos a taxas subsidiadas. Neste caso, os leilões não fariam sentido, pois o sentido dos leilões é atrair capital privado." Os bancos privados, lembra Rocca, vão entrar compartilhando os riscos, co repassadores de dinheiro do BNDES - nesse sentido, um spread maior pago pelo BNDES nesses repasses pode ajudar.

O interesse pelos leilões dos aeroportos do Galeão (RJ) e Confins (MG) deve ser forte, incluindo a participação de empresas estrangeiras. Haverá bastante demanda também por concessões de rodovias, segundo avaliações de bancos. Entretanto, o modelo que envolve as ferrovias, que contará com a gestão da estatal Valec, não tem agradado as empresas. Quanto aos portos, a avaliação é que trata-se de algo completamento novo no país, portanto haverá interesse por algumas áreas e por outras, não.

BNDES anuncia condições para rodovias

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou ontem, quinta-feira, as novas regras de apoio às concessões rodoviárias.As regras valerão para os vencedores das licitações da terceira etapa do Programa de Investimentos em Logística (PIL), marcadas para o dia 18.

Há opções em renda fixa e renda variável, além da possibilidade de um empréstimo ponte, nas mesmas condições da linha principal,mas com prazo máximo de desembolso de 90
dias após a assinatura do contrato. O empréstimo ponte terá como garantia fiança corporativa ou fiança bancária.

O BNDES também permitirá a conversão do sistema de Amortização Constante (SAC) para o sistema Price, de prestações constantes, caso o tomador do crédito emita debêntures. O objetivo é estimular a emissão de debêntures.A expectativa do banco é que a diversidade dos instrumentos de financiamento aumente a atratividade para os investidores.

O limite de financiamento será de 70% do volume de investimentos obrigatórios previstos no plano de negócios da concessionária, com prazo de 25 anos -5 de carência e 20 para amortização. O custo será de TJLP mais 2% ao ano.

As condições de apoio em renda variável permanecem as mesmas.O Banco poderá subscrever - via BNDESPar - ações ou valores mobiliários conversíveis ou permutáveis em ações.A concessionária deverá ser uma sociedade anônima, com sede no Brasil e com controle majoritariamente privado.

O valor mínimo de apoio da BNDESPAR é de R$ 100 milhões, e a participação máxima de até 20% do capital social da beneficiária ou o equivalente a 30% do capital próprio relativo à referida concessão. Entre os dois valores, prevalecerá o menor.

Na avaliação do economista Mansueto Almeida, da diretoria de Estudos Setoriais e Inovação do IPEA, os esforços do BNDES para apoiar os investidores estão em linha com o interesse de atrair os investidores privados. Segundo ele, o aumento da participação dos bancos privados também é essencial, já que o país terá que viabilizar vários projetos em um período muito curto.

"Essa é uma boa oportunidade também para os bancos. A questão é a taxa de retorno", resume.

Entre 2003 e 2012, a participação do BNDES no financiamento à infraestrutura passou de 18,4% para 35,4%.

Fonte: Brasil Econômico

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