A maior recessão da Europa desde a Segunda Guerra Mundial parece estar prestes a acabar.
Um surto de crescimento na Alemanha vem ajudando a amenizar o sofrimento econômico sentido por muitos na região, mas ainda é modesto demais para melhorar o cenário global.
Uma série de dados econômicos recentes, incluindo um relatório da produção industrial alemã que mostrou robustez, aumentou as esperanças de que os 17 países da zona do euro, depois de seis trimestres de contração, passaram a registrar crescimento, mesmo que seja fraco. A produção industrial alemã subiu 2,4% em junho em relação a maio, informou o governo, bem acima das estimativas dos economistas, de alta de 0,3%.
A boa notícia da Alemanha se somou à pesquisa recente feita com gerentes de compra da zona do euro e sinais de desaceleração da recessão na Itália e na Espanha, terceira e quarta maiores economias da região, respectivamente. O Banco da Inglaterra elevou ontem suas estimativas de crescimento. E a taxa de desemprego em Portugal caiu pela primeira vez em dois anos.
Tudo somado, os dados sinalizam uma eminente, embora fraca, recuperação liderada pela Alemanha, no segundo ou no terceiro trimestre, segundo economistas. A divulgação dos dados do Produto Interno Bruto da região no segundo trimestre está prevista para o próximo dia 14.
"A economia da Alemanha registrou uma retomada impressionante do crescimento no segundo trimestre", o que deve ser suficiente para impulsionar a saída da zona do euro da recessão", diz Carsten Brzeski, economista-chefe do banco ING-DiBa .
A recessão na Europa, embora prolongada, não foi profunda e sua recuperação tende a ser pequena. Isso significa que o crescimento provavelmente será insuficiente para criar mais empregos de forma notória em países que enfrentam dificuldades como a Grécia ou a Espanha.
Os dados mais recentes não "sinalizam uma recuperação cíclica que você possa associar às recessões de antigamente", diz o economista-chefe para a Europa do RBC Capital Markets. "Esta é uma recuperação lenta." O RBC prevê que a economia da zona do euro cresceu no segundo trimestre, mas apenas 0,1%.
A modesta recuperação na Europa faria pouco para ajudar a economia global, que vem sofrendo com a desaceleração do crescimento na Ásia e em muitos mercados emergentes e a expansão limitada dos EUA.
Há várias razões para a recuperação na Europa: os exportadores estão tirando proveito do pequeno crescimento global, os consumidores estão ligeiramente mais dispostos a gastar e os governantes estão aliviando os cortes radicais no orçamento que afetaram a produção econômica. Mas o desemprego continua alto em muitos países e o volume de empréstimos bancários é bastante fraco. O crescimento minúsculo que pode se materializar nos próximos meses não será suficiente para deter a ascensão da dívida pública da região, o que gera o risco de a crise recomeçar.
Como a maioria dos países desenvolvidos, a Europa foi varrida pela crise em 2008. Mas, ao contrário dos EUA, ela tem tido dificuldade para se reerguer, em grande parte devido à explosão da crise da dívida em 2010. Essa crise teve três efeitos particularmente nocivos: levou os governos a promoverem cortes de gastos e aumentos de impostos rapidamente, a fim de retardar o crescimento da dívida pública; levou os bancos a fechar as torneiras do crédito, especialmente para pequenas empresas em países mais debilitados; e golpeou a confiança, tanto de consumidores que poderiam gastar quanto de empresas com poder de investir.
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Esses efeitos vêm perdendo força, mesmo que lentamente. Após grandes cortes no orçamento em 2011 e 2012, os governos estão abrandando o ritmo à medida que diminui a pressão dos mercados financeiros para que eles interrompam a alta da dívida pública. Os empréstimos bancários ainda continuam fracos, mas parece que a situação pelo menos deixou de piorar.
"Estamos vendo algo no lado do crédito", disse o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, na semana passada. "Mas isso é apenas um começo."
Há também sinais de que o consumidor está ficando mais otimista. As pessoas tinham "adiado um monte de compras", diz Francesco Garzarelli, um dos diretores de pesquisa macroeconômica no Goldman Sachs . "As vendas de automóveis na Itália eram abismais. Agora, elas estão voltando e se normalizando."
Uma verdadeira reviravolta na zona do euro exigiria uma melhora substancial nas maiores economias da região, depois da Alemanha — França, Espanha e Itália —, onde os sinais de recuperação são ainda imperceptíveis.
Na Espanha, por exemplo, o PIB caiu apenas 0,1% no segundo trimestre deste ano ante o primeiro trimestre, o que levou o governo a dizer que a economia está saindo do fundo do poço após quase dois anos de recessão. Mas os empresários dizem que estão presos num limbo entre recessão e recuperação e não preveem um impulso antes de meados de 2014.
O constante mal-estar econômico impede empresas em crescimento, como a Tablet Army SL, uma a firma novata fundada na Espanha por Ana Ormaechea no início do ano passado, que desenvolve aplicativos para a publicação interativa de revistas e relatórios para tablets.
A empresária de 37 anos disse que sua base de clientes está aumentando e sua empresa, com sede em Madrid, está produzindo um número cada vez maior de publicações com a ajuda de alguns poucos freelancers. Mas os problemas econômicos endêmicos na Espanha estão impedindo sua expansão. A crise de crédito em toda tem levado alguns clientes a atrasar os pagamentos em até sete meses e ela não consegue obter financiamento bancário a preços acessíveis para ajudar a bancar as operações.
Se mais clientes pagassem no prazo, Ormaechea diz que consideraria contratar um empregado em tempo integral para assumir mais projetos, para que ela possa se concentrar na expansão dos negócios no exterior.
"Mas quando o país está numa situação tão ruim, você não tem outra opção, há que parar de sementes e empurrar seu próprio carro," diz ela.
Empresas italianas também continuam mergulhadas em dificuldades e muitos empregadores se queixam de que profundas reformas trabalhistas são necessárias. O diretor-presidente da Fiat, Sergio Marchionne, disse na semana passada que a montadora pode ser forçada a suspender qualquer investimento no país até que as condições melhorem.
"Se as condições na Itália permanecerem do jeito que estão, tornando impossível administrar as operações industriais no país, então, obviamente, qualquer compromisso que temos aqui será abalado", disse.
Fonte: The Wall Street Journal
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