Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Ajuda do Estado cria ilhas de crescimento

Apesar dos sinais de esfriamento da economia, alguns setores mantêm ritmo de atividade mais forte, graças à mão visível do governo.

Na contramão do pessimismo que abarca a maioria dos agentes de mercado e analistas, há quem comemore o rumo atual da economia. O comércio de combustíveis - sobretudo, de gasolina e óleo diesel -, empregados da construção de arenas esportivas, exportadores de produtos agrícolas e a indústria de automóveis, isolados da média dos seus pares, vivem em uma espécie de ilha de prosperidade.

Com exceção do setor de grãos, especialmente favorecido neste ano pela supersafra, os demais têm em comum, em diferentes formas e medidas, o fato de receberem o auxílio do governo, seja pormeio da contenção de preços, seja pelo financiamento direto de obras ou de desonerações tributárias.

"A política de governo de Dilma Rousseff tem a marca do investimento em infraestrutura e logística e da mobilidade social. São apostas de longo prazo, para uma década. É um Estado incentivador, que se propõe o desafio de promover um salto histórico", defende o economista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Fernando da Costa Nogueira.

"Essa política só é sustentável em um ambiente fiscal muito bom. É preciso ter orçamento para isso. De fato, é um resultado artificial, provocado por privilégios a alguns setores, em um momento em que o superávit primário está em queda e em que o mercado está com a lupa atenta sobre as contas públicas brasileiras", contrapõe a diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica Casa das Garças e diretora e sócia-diretora da Galanto Consultoria, Mônica de Bolle.

A venda de combustíveis no varejo é apontada pela Confederação Nacional do Comércio Bens, Serviços e Turismo (CNC) como o segmento de destaque do setor. Enquanto a média de vendas do varejo restrito (excluídos automóveis e material de construção) foi de 6,1%, a de combustíveis avançou 7,4%, em 12 meses até junho. 

A constatação do desempenho positivo dos combustíveis é confirmada também pelos indicadores de geração de emprego. Esse foi, no comércio, o segmento que mais avançou na contratação. A alta foi de 7,42%, para uma média do setor de 3,28%, considerando a mesma base de comparação.

A avaliação do economista da CNC Fábio Bentes é que as vendas de combustíveis estão sendo favorecidas pela política de retenção de preços da Petrobras, produtora da gasolina e do diesel.

Ele ressalta que a inflação dos combustíveis foi de 0,9%, em 12 meses, enquanto, para a média do varejo foi de 5,7%. "Preço baixo é venda alta. E venda alta é alta no emprego. O raciocínio é bem direto", salienta.

Costa, da Unicamp, no entanto, acrescenta mais um fator a essa análise. "Não é só uma questão de preço. O ganho, na verdade, é estrutural. É efeito do crescimento da renda e do incentivo à compra de automóveis", ressalta.

Em linha com o comércio de combustíveis no varejo, a indústria automotiva desponta como a que mais cresceu no primeiro semestre deste ano, comparado a igual período do ano passado, como aponta a produção industrial do IBGE.

De fato, a produção de automóveis, veículos comerciais leves, caminhões e ônibus no período de janeiro a junho deste ano foi a maior já registrada pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A alta foi de 18,1%, ante o primeiro semestre de 2012, com a produção de 1,86 milhão de unidades.

A explicação está não só no mercado interno, como nas exportações. Mas o impulso maior partiu do programa de governo Inovar-Auto, regime de estímulo à inovação na indústria automobilística, que prevê desconto de até 30 pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis vendidos e produzidos no país. Além disso, o setor foi beneficiado pela queda da participação dos importados no licenciamento de 21,8% em janeiro para 19,2% em junho, segundo a Anfavea.

Na ótica do emprego, mais uma vez aparece a mão do Estado. A mão de obra destinada à construção das arenas esportivas, com o financiamento direto do governo, aparece nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, como a que mais avançou em 12 meses até junho, em relação a igual período do ano passado - mais especificamente, a de gestão de instalações de esportes.

São profissionais da área de engenharia, contratados para levantar os estádios. Tradicionalmente, o setor de serviços é o que mais emprega no Brasil, mas, por conta dos eventos esportivos, está ganhando impulso especial. Pesquisa da CNC, a partir das estattísticas do Caged, revela crescimento na ocupação dessa atividade de 30,61%, no período, quase dez vezes mais do que a média do setor de serviços, de 3,34%.

Nas exportações, sobressai o desempenho do Rio Grande do Sul. As vendas externas dispararam 30,9%, franco crescimento frente à média nacional, cujo resultado foi negativo em 2,4%. Especialmente, o embarque de commodities agrícolas - soja, milho e arroz - avançou 70,1%, beneficiado pela demanda e pelo preço em alta no mercado internacional.

Na esteira, ganhou também a indústria produtora de máquinas e equipamentos agrícolas, concentrada no estado. O Rio Grande do Sul responde por 65% da fabricação nacional desses equipamentos, assim como fornece grande parte das peças utilizadas na montagem das máquinas.

As vendas externas gaúchas foram favorecidas ainda por um fator pontual em junho. O estaleiro Rio Grande exportou "virtualmente" a plataforma P-63, contratada pela Petrobras, para o Panamá.

A venda é uma manobra contábil que garante desoneração de tributos. A embarcação respondeu por US$ 1,62 bilhão dos US$ 8,4 bilhões da exportação gaúcha no semestre.

Embora seja uma venda fictícia, a construção da plataforma é apontada pelo presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Heitor José Müller, como uma das principais contribuições para a economia do estado.

Além da contratação de mão de obra local, a obra é ainda benéfica porque boa parte das peças utilizadas na montagem da plataforma foi contratada na indústria metalúrgica gaúcha, diz ele.

Mais uma vez, os ganhos decorrem da política de incentivo ao setor naval liderado pela Petrobras. Na visão do economista da Unicamp, esse é mais um exemplo da
política "social-desenvolvimentista" de longo prazo do governo Dilma. Para Mônica de Bolle, mais um caso de "política artificial de privilégio a alguns setores".

Fonte: Brasil Econômico

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