O Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, informou que avançaria com o programa mensal de US$ 85 bilhões de compra de títulos de dívida à medida que surgem novos sinais de que a inflação está abaixo da meta e o crescimento econômico está perdendo força.
O Fed, após sua reunião de política monetária de dois dias, destacou de forma enigmática ontem que pode ampliar seu programa de compra de títulos de dívida se a economia ou a inflação desapontarem.
Esse posicionamento marca uma mudança na postura pública do Fed. Em março, com o mercado de trabalho nos EUA aparentemente se recuperando, as autoridades do BC começaram a discutir como e quando deveriam começar a recuar com o programa. Mas agora o Fed diz que continua preocupado com os riscos de retração da economia e pode "aumentar ou reduzir" as compras, dependendo do desempenho do emprego e da inflação.
Uma ameça que o Fed destacou: o resto do governo americano. "A política fiscal está restringindo o crescimento econômico", disparou o Fed sobre as políticas fiscais e de gastos do governo, cuja meta é reduzir o déficit no curto prazo. O presidente do Fed, Ben Bernanke, tem apelado ao governo de Barack Obama e ao Congresso para concordarem com um plano orçamentário que reduza o déficit no longo prazo sem promover muitos cortes agora que a economia está fraca.
Outros bancos centrais no mundo estão empenhados em facilitar o crédito. Espera-se que hoje o Banco Central Europeu corte a taxa básica de juros de curto prazo, já que enfrenta uma indiscutível contração econômica e uma surpreendente desaceleração da inflação.
A desaceleração da inflação global é um fato inesperado. O Departamento de Comércio dos EUA informou na segunda-feira que a inflação de preços ao consumidor nos EUA desacelerou em março para 1% ante o mesmo mês de 2012, bem abaixo da meta de 2% do Fed. Nos países da zona do euro, a inflação ficou em 1,2% em abril, a menor taxa em mais de três anos e bem abaixo da meta do BCE de pouco menos de 2%.
Em teoria, quando os bancos centrais injetam dinheiro por meio do sistema financeiro, isso deveria reduzir o poder de compra da moeda e gerar inflação. Mas a fraca demanda mundial está se mostrando uma poderosa força contra a ação dos bancos centrais e indica que os BCs provavelmente não vão alterar sua postura. "A inflação está caminhando um pouco aquém da meta de longo prazo [do Fed]", afirmou o BC em sua ata.
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Além de medidas oficiais, outros indicadores sugerem que as pressões inflacionárias têm diminuído nas últimas semanas. Os preços futuros de commodities estão menores que há um ano. Enquanto isso, o rendimento dos títulos do Tesouro de 10 anos, sensível à inflação, caiu para 1,63%, revertendo um pequeno aumento iniciado em dezembro.
Vários fatores estão por trás do que tem sido uma desaceleração global da inflação. Muitos economistas esperam que as economias da zona do euro se contraiam pelo segundo ano consecutivo em 2013. E o crescimento nas economias em desenvolvimento, incluindo a China, tem sido pequeno após uma desaceleração no ano passado.
O JP Morgan Chase JPM -0.08% & Co. prevê agora uma inflação global de 2,3% em 2013, que será ainda mais baixa nos países desenvolvidos. Ela acredita que BCs ao redor do mundo afrouxarão o crédito. Poucos países da América Latina, como o Brasil e o Chile, contrariam essa tendência, diz o banco.
"A economia está enviando sinais confusos novamente", disse o diretor financeiro da rede americana de comida rápida Chipotle Mexican Grill Inc., CMG +1.61% Jack Hartung, numa conferência com analistas em 18 de abril. "Parece que a economia está decolando, então, nos últimos anos, toda vez nesta época [do ano], vemos sinais confusos na confiança do consumidor, na criação de empregos e coisas assim."
Ele disse que os custos da empresa com alimentos caíram nos primeiros três meses de 2013 — embora eles ainda tenham sido maiores do que um ano atrás — e a firma decidiu "deixar passar algum tempo" antes de decidir se eleva os preços. Se houver um aumento, ele não acontecerá antes do segundo semestre, disse ele.
Pelo menos nos EUA, poucos economistas estão alertando que a redução da inflação poderia gerar uma espiral deflacionária, na qual os preços caem juntamente com os salários e as contratações. Depois da crise financeira, o Fed baixou agressivamente as taxas de juros para impedir uma espiral assim. Desta vez, a economia tem bolsões de força suficientes para indicar que tal cenário continua bastante improvável.
Fonte: The Wall Street Journal
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