quarta-feira, 8 de maio de 2013

Alemanha vira a terra das oportunidades para Europa em crise


Christos Karoustas e sua esposa Varvara nunca pensaram que deixariam seu vilarejo no norte da Grécia, muito menos o país.

Mas quando ele perdeu o emprego como contador em meio à crise econômica da Grécia e eles já não podiam mais sustentar seus três filhos adolescentes, a família decidiu ir para onde há trabalho: a Alemanha.

"Viemos aqui para trilhar um novo caminho todos juntos", disse Karoustas, 46 anos, em seu modesto apartamento em Pfullingen, a cerca de 40 quilômetros ao sul de Stuttgart.

Apesar da hostilidade frequentemente direcionada à Alemanha por insistir na dolorosa austeridade como cura para a crise da dívida soberana da Europa, o país se tornou uma nova terra de oportunidades para dezenas de milhares de pessoas que fogem da recessão em seus países.

Dados divulgados ontem pelo instituto de estatística alemão mostraram que a imigração atingiu em 2012 o nível mais alto em 17 anos, com o aumento "particularmente evidente" de pessoas vindas das nações européias atingidas pela crise.

Ao contrário de países como os Estados Unidos, onde as pessoas mudam facilmente de um Estado para outro em busca de trabalho, os europeus preferem tradicionalmente ficar perto de casa, em parte devido às diferenças culturais e de língua. Mas os grandes contrastes nos mercados de trabalho dentro do continente estão impulsionando esse movimento.

Enquanto o desemprego na zona do euro superou 12% — e, nos casos extremos da Grécia e Espanha, está em torno de 27% —, na Alemanha, a taxa foi de 5,4% em março, segundo dados da União Europeia.

Em 2011 a Alemanha desbancou o Reino Unido como o primeiro destino na Europa para os imigrantes de outros países da UE. No ano passado, a Alemanha registrou o recorde de 690.937 imigrantes, de acordo com dados provisórios do país. Apenas da Grécia, Portugal, Espanha, Itália e Irlanda, foram 134.151 — mais que o dobro de antes da crise.

No geral, o número chegou a 1,08 milhão, um salto de 13% e o nível mais alto desde 1995. EUA, Turquia, China e Rússia estavam entre os países fora da UE com o maior número de imigrantes indo para a Alemanha.

Como nos anos anteriores, a vizinha Polônia foi a origem do maior número de imigrantes da UE — 184.325 —, seguida pela Romênia, com 116.964, e a Bulgária, com 58.862. Mas o maior aumento percentual vem agora do Sul da Europa. O número de gregos em particular subiu fortemente, chegando a 35.811 no ano passado, mais de quatro vezes o número de 2007.

Eles estão seguindo os passos de gerações anteriores que chegaram nos anos 60, quando os chamados trabalhadores convidados, vindos da Bacia do Mediterrâneo, eram chamados para estimular a economia em expansão da Alemanha Ocidental no pós-guerra.

Entre eles estavam os pais de Varvara Karoustas. Ela nasceu e foi criada em Frankfurt, onde seu pai trabalhou fazendo telhados, entre outras funções, e sua mãe como faxineira. A família voltou para a Grécia quando ela tinha 18 anos e seus pais tinham atingido a idade de aposentadoria.

Hoje com 43 anos, ela disse que nunca passou pela sua cabeça que um dia pudesse voltar à Alemanha. Mas acrescentou: "Nunca imaginei que as coisas poderiam se tornar tão bagunçadas na Grécia."

Os parentes facilitaram a mudança para a Alemanha. O irmão de Christos Karoustas, Konstantinos, chegou ao país duas décadas atrás e tinha recentemente encontrado emprego em um armazém em Pfullingen.

Quando surgiu uma outra vaga, ele indicou seu irmão, que conseguiu o emprego. Christos Karoustas partiu primeiro e o resto da família o seguiu alguns meses depois, em setembro passado.

Outra nova funcionária, Maria Saoulidou, trabalhava em um supermercado no norte da Grécia até os donos pararem de pagar seu salário. Ela e o marido chegaram à Alemanha juntos, mas deixaram seus filhos pequenos para trás, com a família, até que possam pagar por uma casa que comporte a todos. "Nós não estamos em busca de um futuro para nós", disse. "Estamos em busca de um futuro para os nossos filhos e infelizmente não há nenhum para eles na Grécia."

Há muito tempo a Alemanha tem uma relação difícil com os imigrantes. As gerações passadas com frequência tiveram uma integração ruim, enfrentando grandes obstáculos para obter a cidadania. Muitos alemães também acreditam que os imigrantes vêm para viver dos benefícios sociais ou de atividades criminais.

Mas Benjamin Elsner, um pesquisador do tema imigração do Instituto para o Estudo do Trabalho, o IZA, em Bonn, disse que seria "quase impossível" para a grande maioria dos recém-chegados viver dos benefícios sociais. Os recém-chegados com crianças recebem ajuda, mas os demais geralmente precisam trabalhar pelo menos um ano antes de se tornarem elegíveis à maior parte dos benefícios.

Na verdade, especialistas dizem que o atual influxo de imigrantes é uma boa notícia para a Alemanha. À medida que a sua população diminui e envelhece, o país precisa muito de trabalhadores qualificados para alimentar o crescimento econômico e sustentar seus sistemas de saúde e de aposentadoria.

"Não é verdade que os imigrantes têm taxas mais altas de uso dos benefícios", disse Costanza Biavaschi, economista do IZA. Eles "normalmente têm boa formação, são jovens e ambiciosos e não vejo evidências convincentes de que vivem às custas de benefícios."

O impacto para os países que esses trabalhadores deixaram para trás é menos claro. Embora talentos sejam perdidos, as nações em dificuldades também podem se beneficiar quando seus desempregados encontram trabalho no exterior, em vez de ficarem em casa sem fazer nada.

No entanto, a atual migração para o norte da Europa não é tão grande como se poderia esperar considerando a extensão do desemprego no sul. Barreiras de língua, rígidas leis trabalhistas na Alemanha e a relutância de algumas empresas do país em contratar estrangeiros continuam sendo impedimentos, dizem alguns analistas.

O casal Karoustas diz que se considera sortudo. Ela, que fala alemão, também conseguiu arrumar emprego numa empresa de autopeças e pôde, com seu marido, juntar dinheiro suficiente para mobiliar a nova casa.

Fonte: The Wall Street Journal

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